A discreta viúva Safra, guardiã de um império bancário global

Vicky Sarfaty tinha apenas 17 anos quando se casou com o homem que viria a se tornar o banqueiro mais rico do mundo.

Cinco décadas depois, ela e os filhos agora são os guardiões da vasta fortuna Safra, construída ao longo de 180 anos em três gerações e quatro continentes, o que faz dela uma das mulheres mais ricas do mundo.

Desde a morte de Joseph Safra, em dezembro, o controle de alguns dos bens mais valiosos da família passou a ser exercido por sua viúva de 68 anos e seus quatro filhos, mostram documentos regulatórios. Eles são listados como proprietários do J. Safra Sarasin da Suíça e do Banco Safra do Brasil, dois bancos que somam cerca de 90 bilhões de dólares em ativos totais, bem como empresas ligadas aos imóveis da família, que incluem o arranha-céu Gherkin em Londres e o número 660 Madison Avenue em Nova York.

Juntos, Vicky Safra e seus filhos valem mais de 16,2 bilhões de dólares, de acordo com o cálculos do Índice de Bilionários da Bloomberg. A família não comenta seu patrimônio.

A sucessão da família Safra é notável não apenas pelo tamanho dos ativos envolvidos, mas também por exemplificar uma tendência mais ampla de famílias ultra-ricas repassando para as próximas gerações fortunas do tamanho de grandes corporações. A família de Petr Kellner e Heinz Hermann Thiele estão prestes a herdar fortunas avaliadas em mais de 25 bilhões de dólares depois que os empresários europeus morreram neste ano. Na Coreia do Sul, Hong Ra-hee, esposa do falecido presidente do Grupo Samsung, Lee Kun-hee, agora detém mais de 7 bilhões de dólares desde que herdou algumas de suas ações.

E isso é apenas o começo. Ao longo das próximas duas décadas, bilionários ao redor do mundo transferirão mais de 2 trilhões de dólares, de acordo com o UBS Group AG e PwC.

“São pouquíssimas as empresas familiares que conseguem perdurar por mais de três gerações”, disse Roberto Bento Vidal, sócio do Cambridge Family Enterprise Group Brazil, uma empresa que assessora famílias. “No caso dos Safra, estamos vendo um processo bem estruturado que parece ter sido contemplado por um longo tempo.”

Caravanas de camelo

A fortuna bancária do Safra tem suas raízes em Aleppo, na Síria, onde a família fundou o Safra Frères & Cie na década de 1840 para financiar caravanas montadas em camelos que cuidavam do comércio durante o Império Otomano. Foi também a cidade natal de Jacob Safra, que mudou com a família para o Brasil em 1953, onde fundou uma empresa de importação e comércio de metais, máquinas e gado, a Safra Importação e Comércio, e posteriormente criou um banco.

Joseph, seu filho mais novo, passou boa parte do período estudando na Inglaterra e depois foi morar nos Estados Unidos e em Buenos Aires. Ele só se mudaria para o Brasil quando a saúde do pai começou a piorar. Foi então que conheceu sua futura esposa, cuja família, como os Safra, também era judia e havia emigrado para o país — os Sarfaty vieram da Grécia na década de 1950, quando Vicky era criança. Eles se casaram em 1969.

“Foi um amor à primeira vista, um amor que duraria até o último momento de sua vida“, segundo o relatório anual do J. Safra Sarasin.

Vicky e Joseph Safra tiveram quatro filhos (e 14 netos). Jacob, de 45 anos, o filho mais velho, é o responsável pelas operações internacionais dos negócios da família, enquanto o mais novo, David, de 36 anos, supervisiona os negócios no Brasil. Seu pai, que tinha doença de Parkinson, passou mais de uma década preparando-os para assumir o controle do conglomerado.

Eles terão o desafio de guiar os bancos da família por um mercado financeiro em franca transformação, enfrentando a concorrência de empresas novatas em seus negócios tradicionais como empréstimos e gestão de patrimônio. Também terão de provar que podem ter sucesso em novos empreendimentos, como banco digital e pagamentos.

“O desafio será remodelar o negócio, agregando uma cara mais moderna a uma instituição financeira muito tradicional”, disse Frederico Bastos, professor do Ibmec.

Discreta

Como seu falecido marido, que raramente dava entrevistas, Vicky também se mantém discreta.

Suas raras aparições públicas geralmente são motivadas por trabalhos filantrópicos, incluindo os da Fundação Vicky e Joseph Safra. Ela vive na Suíça e não mora no Brasil há quase uma década, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto, que pediu para não ser identificada porque o assunto era privado. Os Safras não quiseram comentar.

Seu irmão, Helio Sarfaty, trabalha no Banco Safra há quatro décadas e é responsável pelo negócio de pagamentos Safrapay. Sua irmã, Gretta Sarfaty, é uma artista contemporânea.

Os outros dois filhos de Joseph e Vicky Safra têm empreendimentos fora dos negócios principais da família. O filho do meio, Alberto, de 41 anos, deixou o conselho do banco da família em 2019, mas manteve sua participação no Grupo J. Safra. Ele criou a ASA Investments, que tem unidades de gestão de ativos e de fortunas. Esther, de 44 anos, é educadora e dirige a escola Beit Yaacov, em São Paulo, criada pela fundação da família Safra.

Duas transações recentes mostram como a nova geração pretende expandir o império familiar. J. Safra Sarasin concluiu há pouco tempo a compra dos negócios de private banking do Bank of Montreal em Hong Kong e Singapura, enquanto o Banco Safra anunciou em abril que estava comprando operações de private banking e gestão de ativos do Crédit Agricole no Brasil.

“Estou confiante de que o grupo tem a escala e a força para atender às necessidades de nossos clientes para as gerações futuras, e esperamos ter outros 180 anos de resiliência e performance”, escreveu Jacob Safra no relatório anual J. Safra Sarasin.



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