A economia perdeu: estratégia de ‘conviver com o vírus’ foi um erro

Conviver com o coronavírus ou tentar eliminá-lo? Para a maior parte dos países, a busca foi pela primeira opção.

Mas mais de um ano depois de a covid-19 ser decretada pandemia, os números mostram que países que foram mais ambiciosos e tentaram eliminar o vírus, em vez de só apagar incêndios, preservaram mais suas economias — e até mesmo a liberdade dos cidadãos.

A conclusão é do estudo SARS-CoV-2 elimination, not mitigation, creates best outcomes for health, the economy, and civil liberties, publicado na revista científica The Lancet.

O trabalho analisou o desempenho de membros da OCDE, organização de países de economia avançada, entre os que tentaram eliminar o vírus e manter o nível de casos muito baixo (como Nova Zelândia, Austrália, Japão e Coreia do Sul) e os que tentaram mitigar os impactos (países europeus, EUA, e alguns latino-americanos).

“Na maioria dos países ocidentais, a estratégia tem sido deixar o problema crescer primeiro, e só combatê-lo quando já está insustentável. Mas aí fica muito mais difícil, e economia e saúde perdem”, diz o pesquisador Bary Pradelski, um dos autores do estudo, que atua no centro de pesquisa francês CNRS e no Instituto de Finanças Quantitativas da Universidade de Oxford.

E a vacina não encerra o problema, diz. “Não dá para ficar como está até que o mundo todo se vacine, ou teremos variantes ainda piores, e o impacto para alguns setores será catastrófico.” Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à EXAME.


Como os países que optaram pela “eliminação” tiveram maior índice de liberdade civil se fizeram quarentenas mais rigorosas?

O ponto das liberdades civis foi um dos mais surpreendentes para nós. O principal motivo parece ser que, ao buscar a eliminação do vírus, esses países agem rápido. Por exemplo: agora mesmo Melbourne [na Austrália] está entrando de novo em lockdown, mas só por uma semana. A estratégia é “vamos parar o problema agora antes que fique muito grande”. Na maioria dos países ocidentais, a estratégia tem sido deixar o problema crescer primeiro, e só combatê-lo quando já está insustentável. Mas aí fica muito mais difícil.

E esses dados só mostram uma parte, que são as quarentenas oficiais. Tem ainda outra coisa: as pessoas estão assustadas. Em países com taxas de transmissão muito alta, elas mesmas decidem não sair, não ficar em lugares fechados, com ou sem lockdown. Então, na prática, as restrições às liberdades civis nesses lugares tendem a ser ainda piores.

Fonte: OCDE e Oxford COVID-19 government response tracker

Fonte: OCDE e Oxford COVID-19 government response tracker (Arte/Exame)

O estudo diferencia as estratégias em “eliminação” e “mitigação”. Mas o objetivo de ambos é evitar mortes, não? Qual é a diferença?

Na maior parte da Europa e nos EUA, o foco foi: só não queremos sobrecarregar os hospitais, mas fora isso, vamos tentar viver com o vírus. E o problema disso é que não é uma estratégia sustentável no longo prazo. A situação nunca está boa, só seguimos levando, mas a um custo econômico e de vidas muito alto. Agora, na eliminação, o objetivo é chegar a um número baixo ou zero de casos: pode ser mais difícil no começo, mas uma vez que você consegue isso, reduz a transmissão comunitária e pode relaxar as medidas.

Muitos países têm usado sobretudo a ocupação de UTIs como métrica para tomar medidas — incluindo o Brasil. Quais são os impactos dessa lógica na economia e na saúde?

Do ponto de vista de saúde, olhando para o último ano, fica claro que os países que fizeram o contrário, buscando a eliminação do vírus, se saíram melhor não só em combate à covid mas a outras patologias, porque não precisaram cancelar exames e tratamentos. E na economia, há muita incerteza com essa estratégia de ter sempre um número alto de casos. O que vemos agora na Europa, por exemplo: com a ameaça da variante delta, de uma hora para outra alguns países europeus estão barrando viajantes do Reino Unido [que tem tido aumento de casos da variante]. Isso afeta especialmente indústrias como o turismo, que já sofreram muito por mais de um ano.



Continue lendo

Recomendados

Desenvolvido porInvesting.com
Economia, Todos

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu