A Favela vai para Davos: jantar falando “favelês”

É muita gente, de vários lugares, falando várias línguas. Vou tentar o favelês…

Enfim, cheguei ao meu destino. Depois de avião, trem, outro avião… não sei, me perdi. Estou aqui em Davos, onde venho pra contribuir com a escrita de novas histórias. Repito, não só a minha, mas a história de cada um dos moradores de favelas do Brasil a partir de novas narrativas.

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Para nós, o evento começou. Fui convidado para o jantar de boas-vindas a todos os vencedores do Prêmio em categorias distintas.

Nossa! Era gente de todos os lugares do mundo. Cada um com uma roupa, cada um com um costume, cada um com uma maneira de agir, cada um falando um idioma, embora o inglês fosse a língua que todos se comunicavam oficialmente. E aí, me perguntei “será que essas pessoas vão entender o meu favelês?”

Em dado momento, perguntaram para todos se definirem com uma palavra. E aí dizia o que achava, coisas como honestidade, transparência, luta etc. Pra mim não sobrou muita coisa, pois fui um dos últimos, e cravei:  a palavra que me define é “bucha”.

Lógico que ninguém entendeu nada, nem no Brasil entenderiam, e aí expliquei que bucha são as pessoas que seguram todas as barras, todos os problemas, todas as buchas, e isso caracteriza lideranças como nós, que estamos sempre arrumando “sarnas pra se coçar “ em nome dos nossos coletivos.

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Amaram e foi muito divertido.

Eu estava extremamente exausto pela viagem e o fuso horário. Na manhã seguinte, eu teria de levantar cedo para uma reunião com o fundador do Fórum, Klaus Schwab. Não somente com ele, mas com jovens líder, premiados e ilustres convidados.

Dormi, acordei e cá estou, pronto para um grande dia. Não vim para Davos achando que vou lançar tendência, mudar o mundo ou pautar o quarto setor no planeta, vim com a missão de mostrar para todos que estão aqui, os maiores empresários do mundo e grandes chefes de estado, a potência da favela. A potência do nosso desenrolo. Porque nós, favelados, tivemos que desenrolar as coisas, desde muito cedo.

Depois de anos, eu fui entender que o que a gente chamava de desenrolar, o asfalto, e o mundo empresarial, chama de empreender.

Logo, foi o meu desenrolo que me trouxe aqui. E é ele, a nossa capacidade de falar e agir, que estou representando junto com a potência que os 17 milhões de favelados carregam.

Mas por hora vou focar aqui na agenda e conto pra vocês mais tarde como foi o dia.

*Celso Athayde é cofundador da Central Única de Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding

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