A investidora que convence famílias ricas a apostar no lado B dos negócios

Fundadora da Global Institutional Investors, a espanhola Paz Ambrosy fala sobre os novos destinos possíveis para as grandes fortunas

As famílias mais ricas do mundo precisam encontrar novas formas de investir – e talvez as melhores sejam as que ninguém está vendo. É o que defende a espanhola Paz Ambrosy, fundadora da Global Institutional Investors, consultoria independente que faz a gestão de recursos de family offices voltados para investimentos diretos e independentes.

Com clientes do calibre do Rothschild Group e a Unigestion, Paz desafia a conhecida lógica dos investimentos ao propor que nem sempre o baixo risco se traduz em pouco retorno. E decreta: não é um bom negócio colocar todo o patrimônio em imóveis, investimento preferido de famílias abastadas. Forte defensora dos negócios de impacto social, ela vê potencial para este tipo de investimento no Brasil, um mercado pouco explorado e que, em sua visão, pode ser lucrativo.

Em visita ao Brasil esta semana, a investidora e professora da IE Business School recebeu EXAME para falar sobre como é possível aplicar os conceitos do ESG, sigla que agrega impactos ambientais, sociais e de governança, na gestão de grandes fortunas. Confira trecho da entrevista:

Por que você acredita que empresas familiares que incorporam causas sociais, ambientais e de governança (ESG, em inglês) podem obter melhores retornos?

No âmbito social, um exemplo é o microcrédito. Há um estudo do JP Morgan baseado no conceito criado por Muhammad Yunus que prova que para cada 100 dólares que você investe, há uma perda 1% menor em relação a outras alternativas de investimento privado. Os bancos miram outros públicos, ninguém quer emprestar dinheiro para, por exemplo, uma mulher que trabalha com cerâmica ou algo do tipo. Mas quem pega este dinheiro pelo microcrédito faz o que for preciso para devolver.

Você defende que é importante investir em negócios não convencionais. Como as famílias ricas contribuem para estas iniciativas?

Novos fundos foram criados na Europa, especialmente na Espanha, Portugal e França, com o intuito de gerar emprego, tecnologia, educação e ajudar empresas a ter uma verdadeira responsabilidade social, não só para fazer publicidade. Investimos em um fundo deste tipo e ajudamos estas iniciativas a crescer. Injetamos de 1 a 10 milhões de euros para criar companhias sustentáveis dentro de estratégias corporativas. A América Latina é o melhor continente para o microcrédito, vocês entendem disso melhor do que ninguém.

E no Brasil, como os family offices podem fazer investimentos alternativos?

Investimos em uma empresa portuguesa que está vindo ao Brasil, ela pegou mulheres desempregadas que não tinham conhecimento em tecnologia e treinou programação com cursos muito simples. Depois, as enviou para trabalhar no Google e em outras grandes empresas. É uma iniciativa socialmente importante porque gera emprego. O Brasil é um mercado natural para eles por causa da língua. Outra área interessante é a educação. Investimos em uma companhia que vem para a América Latina e possivelmente ao Brasil para ensinar adultos a escrever com ferramentas de criatividade. A ideia é que o adulto crie metade de uma história e uma criança terminar a outra metade por meio da escrita e do desenho. Há 50 escolas deles na Espanha. Esta iniciativa atraiu muito interesse.

Nas áreas de saúde e meio ambiente, que tipos de investimentos podem ser feitos?

Estamos estudando uma companhia mexicana que ajuda mulheres grávidas que não têm plano de saúde. A empresa criou hospitais a um custo bastante acessível para que elas saibam que os bebês vão nascer de forma segura. Eles oferecem o serviço completo e de forma mais barata. Na área de meio ambiente, há oportunidades imensas no Brasil. Analisamos tecnologias que gerenciam o desperdício de água na agricultura e nos lares. 

Como fazer o Brasil se tornar um destino dos recursos de investimentos alternativos?

O Brasil é um país com imenso potencial para negócios de impacto social e este tipo de investimentos, mas estas iniciativas ainda estão em estágio inicial por aqui. É preciso criar ambiente para isto. Quando estavam em crise, Espanha e Portugal ficaram mais criativos para receber estas iniciativas.Os governos dos países estão começando a reconhecer que eles precisam de investimento privado para sustentar o lado social em prol dos mais pobres. Pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, é um ótimo caminho pela perspectiva dos lucros. Existem famílias especializadas em cultura, saúde e inovação para empresas e na Europa elas se beneficiam com a isenção de impostos e pode destinar estes recursos para estes investimentos. 

Em tempos de juros negativos e temor de uma nova recessão, o que os family offices podem fazer para não errar?

É preciso ter cerca de 30% ou 40% do patrimônio em dinheiro disponível. Não é verdade que quem paga para deixar dinheiro no banco está perdendo. Se vier uma recessão, haverá muitas oportunidades se o dinheiro estiver à mão. Na crise de 2008, muita gente precisou vender ativos por preços acessíveis porque precisava se reestruturar. Também é preciso estar aberto a oportunidades não muito atrativas, como transporte para empresas de serviços eleitorais. Temos um fundo na Europa com 25 famílias que compra contêineres de supermercados. Isto não é sexy. Mas no fim do dia, eles pagam um retorno considerável. Em uma recessão, é importante encontrar alternativas e não colocar tudo em imóveis. Family offices amam imóveis. Em 23 anos trabalhando com isso, vi que 90% das empresas que falharam em investir não tinham um bom gerenciamento de seu patrimônio.

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