Abalada pela pandemia, noite de São Paulo retorna com incertezas

A vida noturna influencia os traços culturais e as transformações urbanas de São Paulo desde o último século. Uma balada que começa com os cafés da Avenida São João e suas ‘big bands’ de jazz na década de 1920, passa pela febre do rock’n’roll nas lanchonetes e sorveterias da Rua Augusta nos anos 1950 e pela boemia do italiano Bixiga, com seus teatros e o eclético Madame Satã nos 1980. Abalada pela pandemia, com o fechamento de ícones da cidade, a boemia começa a engatinhar novamente rumo à próxima dose de chope. Mas a ressaca será forte.

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Cerca de metade dos bares e restaurantes ainda operava no prejuízo em agosto, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Algumas regiões registram aumento no fluxo, com uma tímida reabertura liderada pelos mais jovens. Mas para os empresários, o público mais velho (e com mais dinheiro) ainda receia sair.

Nesse retorno gradual, há uma mudança de hábito nos fregueses de bares tradicionais: a saideira está descendo mais cedo. Os clientes que ficam até o bar fechar têm desaparecido das mesas e calçadas.

— A boemia clássica vem desaparecendo de São Paulo já há um certo tempo, muita gente se afastou. Os mais velhos ainda estão reticentes de sair às ruas e esse público só fica nos bares até 23h30, no máximo — afirma o presidente da Abrasel-SP, Percival Maricato. — Há ainda as regiões de badalação, mas os proprietários de bares tradicionais preferem uma clientela fiel, que tem previsibilidade maior — completa.

O fenômeno ocorre até no bairro que se tornou um dos ícones da noite, a Vila Madalena. A vocação festeira das ladeiras da Zona Oeste começou no final dos anos 1960. O estopim teria sido a invasão do Exército à moradia estudantil da USP, em dezembro de 1968, quatro dias após a edição do AI-5. Expulsos da Cidade Universitária, no Butantã, os estudantes tiveram de buscar abrigo nas casas do vizinho bairro operário, iniciando partir daí a trajetória do pedaço em abrigar discussões intelectuais.

A fama da região levou a uma mudança de perfil e, antes mesmo da pandemia, botequins cabeçudos começaram a ser substituídos por baladas mais juvenis, afugentando pontos mais antigos. É o caso do bar São Cristóvão, cujas paredes são recheadas de flâmulas, escudos, camisas e fotografias alusivas a futebol. O local mudou de endereço em dezembro, durante o relaxamento de restrições entre a primeira e a segunda onda da pandemia: deixou a agitada Rua Aspicuelta, onde estava havia 20 anos, e se transferiu algumas esquinas acima, para a mais tranquila Rua Purpurina.



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