ABEV3: Por que o lucro da Ambev subiu e a ação despencou

Os resultados da fabricante de cervejas Ambev mostram que a concorrência está mais acirrada – e que a empresa tem um futuro ainda mais desafiador pela frente.

O lucro líquido ajustado no quarto trimestre do ano passado foi de 4,6 bilhões de reais, 24,4% maior do que no mesmo período do ano passado, devido a uma menor despesa de imposto de renda. No acumulado do ano, o lucro foi de 12,2 bilhões de reais, alta de 7,4%. Mesmo assim, a ação está em queda de 7,4%. 

O desafio está na venda de cervejas no Brasil. O volume de cerveja vendida no Brasil aumentou apenas 1,4% no trimestre – o mercado esperava alta de 1% a 3%. O Ebitda (lucro antes de juros, taxas e depreciação) do segmento de cervejas da Ambev no Brasil caiu 13% em relação ao ano passado para 3,4 bilhões de reais, queda ainda mais acentuada do que as expectativas de mercado. A companhia tem operçãoes também na América Central, América do Sul e no Canadá.

Nos dados consolidados de 2019, a receita de cerveja da Ambev no Brasil cresceu 5,6% e foi mais equilibrada, com volume de cerveja vendida 3,2% maior e receita líquida por hectolitro com alta de 2,4% do que em 2018.

Apesar do aumento na receita, o Ebitda ajustado da Ambev caiu 9% no ano, para 6,9 bilhões de reais, com margem de 43,7%, contra 47,6% há um ano. A margem Ebitda foi a menor nos últimos quinze anos para o quarto trimestre.

A queda é explicada pelos preços estáveis em relação ao ano passado, o que mostra que a empresa tem recorrido às promoções para manter mercado, por conta de uma concorrência ainda mais acirrada. O segmento ainda enfrenta pressões de custos de dois lados. O câmbio, assim como a alta no preço das commodities, impactaram nas despesas, que cresceram 15% no trimestre. 

“O segmento de cerveja no Brasil foi o destaque negativo, mas foi compensado pelos resultados melhores que o esperado dos segmentos de refrigerantes no Brasil e resultados de América Latina”, diz relatório da XP.

Para reverter a tendência de queda no mercado de cervejas no Brasil, a Ambev está focando há alguns trimestres no crescimento de seu segmento premium, com preços e diferenciação maiores. No entanto, ainda há muito chão até que a empresa consiga compensar a queda no preço dos produtos mainstream com o aumento do consumo de bebidas premium.

“Isso mais uma vez ressalta o quanto o mercado de cerveja brasileiro se tornou mais difícil com base no fim do monopólio virtual da Ambev, no crescimento do consumo em casa, na erosão do valor da marca do segmento mainstream e na falta de escalabilidade no segmento premium, o que coloca o notável poder de preço da Ambev e margens operacionais em risco”, diz o BTG em relatório.

Controladora

A situação não está muito mais positiva para a controladora da Ambev, a AB InBev. 

Globalmente, uma das maiores ameaças vem da China. A AB InBev afirmou que a redução da demanda na região devido ao coronavírus já a fez perder 170 milhões de dólares em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) só nos primeiros dois meses de 2020 e 285 milhões de dólares em faturamento. O país é um dos mercados mais importantes da AB InBev, cuja sede fica na Bélgica. Na China, se vende mais Budweiser do que nos Estados Unidos, terra natal da marca.

Enquanto isso, em 2019, os resultados também foram considerados pouco animadores. O lucro atribuído aos acionistas no quatro trimestre foi de 114 milhões de dólares, 75% menor do que o ganho de 456 milhões de dólares no mesmo período de 2018. O faturamento também caiu de 13,79 bilhões de dólares entre outubro e dezembro de 2018 para 13,33 bilhões em 2019, abaixo das expectativas.

A ação da AB InBev está caindo quase 10,7% nesta quinta-feira. 

Futuro nebuloso

O problema ficará ainda maior. A Ambev divulgou um fato relevante hoje pela manhã, junto com seus resultados, afirmando que espera que o Ebitda do negócio de cervejas no Brasil caia entre 17% e 20% no primeiro trimestre de 2020.

A empresa espera retomar o crescimento do Ebitda no decorrer do ano, mas a maior pressão de custos deve ser enfrentada no primeiro trimestre de 2020. Além disso, a empresa prevê maior concentração de investimentos em vendas e marketing para o primeiro trimestre. já o cenário de forte concorrência deve continuar, levando a mais promoções de preço e pressionando as margens da companhia.

“Após o balanço, o mercado começa a pensar já no próximo trimestre. Com o surto de coronavírus no mundo e a aversão ao risco, os investidores começam a pensar como isso deve impactar no próximo balanço”, diz Bruno Madruga, responsável pela área de renda variável da Monte Bravo.

 

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