Antes de integrar Reserva, Arezzo quer a Hering

O setor de moda anda mesmo agitado. Na noite desta quarta-feira, 14,a Hering decidiu negar a proposta feita pela Arezzo de combinar os negócios das marcas. A decisão foi anunciada em fato relevante divulgado ao mercado. De acordo com a Hering, a proposta, que foi recebida no dia 7 de abril, não atenderia aos interesses dos acionistas e da companhia.

A notícia chega no momento em que a Arezzo ainda sequer conseguiu efeturar aintegração de fato da Reserva, marca de moda do Rio de Janeiro, a grande movimentação do setor no fim do ano passado.

Em setembro de 2020, Alexandre Birman e sua mulher, Gabriela, decidiram se refugiar nas Ilhas Maldivas após uma perda irreparável: o filho do casal havia morrido de síndrome da morte súbita infantil, no dia seguinte ao nascimento. “Com humildade, acreditamos que há situações nesta vida em que não temos nenhum controle. O céu recebe hoje nosso anjinho, que viverá para sempre em nossos corações”, escreveu o empresário, de religião espírita, em sua conta no Instagram. Nesse período, Birman suspendeu todos os compromissos profissionais. “A exceção foi a negociação envolvendo a compra da Reserva, só porque estava na reta final”, contou o presidente da Arezzo&Co durante um almoço na sede do grupo, em São Paulo.

Com a aquisição da Reserva, concluída no mês seguinte e avaliada em 715 milhões de reais, a ­Arezzo cresceu de sete para 13 marcas. Foi também o início de uma nova fase para a empresa líder em calçados e bolsas no Brasil e a primeira de uma série de novidades.

Nos dois meses seguintes, a ­Arezzo lançou o mar­ket­place ZZ Mall, fechou a aquisição do brechó online Troc com a criação de um fundo de venture capital e lançou a nova marca de sandálias Brizza. Ainda que as inovações chamem a atenção pela rapidez com que foram anunciadas, fazem parte de uma estratégia da brasileira que começou a ser desenhada na última década.

Em fevereiro deste ano, o grupo completou dez anos desde a abertura de capital na bolsa de valores. De lá para cá, o valor da ação se multiplicou por quatro e o valor de mercado chegou a 7,03 bilhões de reais. A empresa partiu de uma receita de 713 milhões de reais em 2010 para 2 bilhões de reais em 2020, praticamente igual à de 2019, segundo balanço divulgado no início de março, o primeiro desde a compra da Reserva.

Somente no quarto trimestre foram 802 milhões de reais, cerca de 40% mais do que no mesmo período do ano anterior. A Arezzo conquistou 30% do mercado de calçados, bolsas e tênis casuais de moda, com foco principalmente nas classes A/B. Dos 41 trimestres desde a abertura de capital, a empresa cresceu em receita em 38.

A Arezzo surgiu há 49 anos como uma pequena confecção de calçados masculinos na garagem de Anderson Birman e Jefferson Birman, pai e tio do atual presidente do grupo, em Belo Horizonte. Nos anos seguintes, a empresa passou a focar o público feminino e intensificou a produção própria. Verticalizou praticamente todos os processos, incluindo os solados e acabamentos de couro.

A companhia chegou a ter 2.500 funcionários nas linhas de fábrica em Belo Horizonte. Para fortalecer a imagem de sua marca, passou a abrir lojas próprias e franquias. A primeira foi inaugurada na Rua Oscar Freire, conhecida por lojas de grife e espaços-conceito, em 1991.

Ao longo dos dois anos seguintes, a empresa encerrou as operações de fábrica e terceirizou a produção, mantendo o desenvolvimento dos produtos dentro de casa. Também foi nessa época que Alexandre Birman, com apenas 19 anos, criou sua própria marca, a Schutz, fora do guarda-chuva do grupo Arezzo.

Em 2007, o grupo passou por outra mudança de peso. Depois da fusão de Schutz e Arezzo, a companhia vendeu uma participação de 25% para o fundo de investimentos Tarpon. O objetivo era preparar a empresa para abrir o capital na bolsa. Para isso, passou alguns meses fortalecendo a estrutura de governança e de processos internos. Atualmente, Anderson e Alexandre Birman se mantêm como acionistas controladores, com 45,84% das ações. Não há nenhum outro acionista com 5% ou mais de capital.

Fábrica em Campo Bom, no Rio Grande do Sul: processos de produção verticalizados

Fábrica em Campo Bom, no Rio Grande do Sul: processos de produção verticalizados (Ricardo Jaeger/Exame)

Apesar desse crescimento, a Arezzo acredita que sua jornada esteja apenas começando. Até o fim do ano passado, uma placa de prata na entrada da sede estampava a visão da empresa: “Ser líder no Brasil em calçados e bolsas de moda, com presença internacional, satisfazendo nossas consumidoras com as marcas mais desejadas, gerando valor perene para nossos públicos”. Esse objetivo já ficou para trás.

Hoje, a visão da empresa é ser líder em moda no Brasil, com presença internacional. “Achamos que o crescimento é a base para a solidez. Empresa que não cresce morre”, diz Alexandre Birman, em entrevista à EXAME.

 (Arte/Exame)

O primeiro teste para essa nova jornada foi realizado no final de 2019, quando a empresa incorporou a operação da americana Vans no Brasil, dando os primeiros passos no mercado de vestuário. Já com a compra da Reserva, a Arezzo entrou em um mercado muito mais abrangente. O setor de moda é cerca de 3,5 vezes maior que o de calçados. “A Arezzo já tinha uma participação muito grande no mercado de calçados, não conseguiria dar grandes saltos de crescimento. A compra da Reserva é uma forma de aumentar o mercado endereçável”, diz Helena Villares, analista do Itaú BBA.

A Reserva contava com 78 lojas próprias e 32 franquias no momento da compra, além de estar presente em 1.500 multimarcas e ter faturado 400 milhões de reais em 2019. O grupo, de 296 lojas em 2010, passou a ter 901 lojas em 2020.

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