Ataque a instituições nos levou a 2 ditaduras, diz Barroso em posse no TSE

O novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, tomou posse dando recados ao governo. Integrante também do Supremo Tribunal Federal (STF), ele disse que a Corte pode sim ser criticada, mas isso não pode justificar “o ataque destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las”, o que já provocou “duas longas ditaduras” na história do país.

Barroso também criticou as deficiências no ensino brasileiro, dizendo que é preciso “armar o povo com educação, cultura e ciência”. E elogiou mulheres líderes de governos estrangeiros que tomaram medidas restritivas para frear a epidemia de covid-19, caminho oposto ao defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, que acompanhou a cerimônia de posse por videoconferência.

Ele não citou, mas ao falar das ditaduras do passado se referia ao Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e à ditadura militar (1964-1985), regime que costuma ser exaltado por Bolsonaro. Além disso, na reunião ministerial de 22 de abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca.” O vídeo do encontro foi divulgado na última sexta-feira por ordem do ministro do STF Celso de Mello.

— Só quem não soube a sombra não reconhece a luz que é viver em um Estado constitucional de direito, com todas as suas circunstâncias. Nós já percorremos e derrotamos os ciclos do atraso. Hoje, vivemos sob o reinado da Constituição, cujo intérprete final é o Supremo Tribunal Federal. Como qualquer instituição em uma democracia, o Supremo está sujeito à crítica pública e deve estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar, porém, que o ataque destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las, já nos trouxe duas longas ditaduras na República — disse Barroso.

Na mesma reunião, Bolsonaro, que tem uma política de liberar armamentos e munições, pregou que o povo se armasse para evitar uma ditadura. O presidente afirmou na ocasião: “Como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Como é fácil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo!”

Nesta segunda-feira, Barroso disse:

— A falta de educação produz vidas menos iluminadas, trabalhadores menos produtivos e um número limitado de pessoas capazes de pensar criativamente um país melhor e maior. A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas do mundo. Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência.

Barroso começou seu discurso com uma mensagem de solidariedade às pessoas que perderam alguém para a doença, ou que ficaram desempregadas em razão da pandemia. Ele citou três objetivos de sua gestão: uma campanha pelo voto consciente; atrair jovens para a política; e o “empoderamento feminino”, ou seja, atrair também mulheres para a política e postos-chave.

Ao falar das mulheres, não chegou a criticar diretamente Bolsonaro, mas elogiou duas líderes que tomaram medidas restritivas para frear a pandemia: a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O presidente brasileiro, por outro lado, é crítico das restrições adotadas por governadores e prefeitos.

O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, da qual participaram Bolsonaro e seus ministros, faz parte do inquérito aberto na Corte para investigar as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Ele apontou a reunião como uma das provas de que Bolsonaro tentou interferir no trabalho da Polícia Federal (PF). O vídeo foi divulgado quase na íntegra e revelou outros episódios, como as críticas de Weintraub.

No despacho em que liberou a gravação, Celso de Mello disse ter constatado “a ocorrência de aparente prática criminosa, que teria sido cometida pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub”. Também mandou oficiar cada um dos demais ministros da Corte para que “possam, querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes”. Segundo Celso, a declaração do ministro da Educação é uma “gravíssima aleivosia” e “põe em evidência, além do seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria)”.

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