Auxílio emergencial é péssimo, diz economista que criou o Bolsa Família

O economista Ricardo Paes de Barros é um dos mais renomados estudiosos de desigualdade e pobreza no Brasil. Durante boa parte da década de 90, ele dedicou o seu tempo a estudos e análises sobre programas de transferências de renda, época que a desigualdade batia recordes no país. Com pós-doutorado pela Universidade de Chicago e pela Universidade de Yale, ambas nos Estados Unidos, Paes de Barros foi um dos mentores do Bolsa Família, criado em 2004.

Paes de Barros olha com ceticismo as reformulações prometidas pelo governo pelas quais o programa deve passar este ano, que incluem um reajuste no valor pago (hoje de 190 reais, em média) e a ampliação do número de famílias atendidas. Paralelamente, o ministro Paulo Guedes, da Economia, vem discutindo a criação de dois benefícios sociais – um deles, voltado à qualificação profissional, daria entre 250 e 300 reais mensais a cada beneficiado.

Na entrevista a seguir, o economista, que atualmente é professor da escola de negócios Insper, em São Paulo, se debruça sobre esses temas. Veja os principais trechos da conversa.

O governo diz que pretende incorporar 40 milhões de família no Bolsa Família este ano. Isso é factível, no atual cenário macroeconômico e de risco fiscal?

A história do Bolsa Família é muito clara e educativa sobre um ponto importante. Existem entre 12 e 15 milhões de famílias brasileiras que precisam de uma atenção muito especial. Certamente não são 40 milhões. E, de qualquer forma, tem recurso para atender 40 milhões?

Justamente, esse recurso existe?

Recurso para atender 40 milhões de famílias até dá para ter, mas elas serão mal atendidas, com um quarto do valor do benefício pago. O que é mais importante, atender bem as 12 milhões de famílias que realmente precisam ou atender 40 milhões mal?

Há deficiências no programa tal como ele é hoje?

Existem famílias que recebem menos do que precisariam. Além disso, as famílias mais pobres não precisam apenas de transferência de renda. Isso deveria ser o ponto de partida para elas começarem a ser incluídas produtivamente e ter todos seus direitos sociais garantidos. O Bolsa Família é um programa muito importante para aqueles que realmente precisam e há pessoas que não precisam e estão no Bolsa Família. Precisaríamos tirar aquelas que não precisam para conseguir dar uma atenção melhor para aquelas que precisam.

O que deveria ser feito?

Simplesmente ampliar o programa, ao invés de tentar melhorá-lo não parece uma boa estratégia. Existe muito conhecimento disponível sobre a política social brasileira. Há estudos sobre o abono salarial, o seguro desemprego, o FGTS, o Bolsa Família. Nós já sabemos muita coisa. O nosso problema é não usar o que sabemos para tomar a decisão mais adequada.



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