BC deve ter cautela na alta de juros, diz economista-chefe do Inter

O Comitê de Política Monetária (Copom) define nesta quarta-feira, 16, a nova taxa básica de juros sob expectativas praticamente unânimes de elevação de 0,75 ponto percentual, como havia sinalizado na ata da última reunião. A novidade, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter (BIDI11), deve vir do comunicado que acompanha a decisão, para o qual espera uma maior compromisso em relação ao alcance da meta de inflação de 2022. “O Copom precisa atuar para controlar as expectativas de inflação”, afirma em entrevista à EXAME Invest

Embora veja uma atuação mais firme por parte do Copom, a economista afirma que não há espaço para grandes altas de juros até o fim do ano. Com previsão inferior à mediana de mercado, Vitória espera que a taxa  encerre o ano entre 5,5% e 6% ao ano.

É possível controlar a inflação com uma taxa de juro menor do que a esperada pelo mercado.” No último boletim Focus, a estimativa para a Selic ao fim do ano era de 6,25%, mas parte dos investidores já vislumbra uma taxa ainda maior. 

Na avaliação de Vitória, o Brasil passa por uma inflação transitória, causada principalmente por desequilíbrios de oferta. “Não se liga e desliga a economia tão rapidamente, isso leva um tempo para se acomodar.” Segundo ela, a inflação deve começar a esfriar a partir do segundo semestre com a estabilização dos preços das commodities.

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Para Vitória, processo semelhante ocorre nos Estados Unidos e o Federal Reserve (Fed) está certo em ser paciente antes de reduzir os estímulos monetários. “Não faz sentido subir juros para combater essa inflação.” O Fed deve manter a taxa de juros próximo de zero, em decisão que será anunciada às 15h de Brasília.

“Como a inflação é de oferta, subir a Selic tem pouco efeito. Por essa razão, entendo que o Banco Central tem que ir com cautela. Estamos trazendo inflação do exterior. Um aperto monetário na contramão do Fed [Federal Reserve] pode ter um custo muito elevado para nossa economia”, afirma. 

Confira a entrevista com Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.

Qual é a expectativa do Inter para a decisão do Copom?

Temos a expectativa de uma elevação de 0,75 ponto percentual, muito em linha com o consenso de mercado e com o que foi comunicado na última ata. O Banco Central deixou claro que daria continuidade a esse processo de normalização da Selic, com mais uma alta de mesma magnitude. Não esperamos surpresas, apesar de o cenário ter sido um pouco pior que o esperado do ponto de vista de choques das commodities. 

O que devemos ter de novidade? 

O que pode vir de novidade é um comunicado mais firme, com o Banco Central mais comprometido com a meta de inflação para o próximo ano, não mais comprometido com um ajuste parcial. 

A meta deste ano já não tem mais como ser alcançada? 

A inflação que observamos nestes primeiros cinco meses já corresponde a boa parte da inflação esperada para o ano e não tem mais como reverter. Houve política monetária expansionista no mundo todo, isso aqueceu a demanda na retomada da economia e está causando pressões de .

Além disso, tivemos desequilíbrio em alguns setores, que resultaram na apreciação de várias matérias-primas, como minério de ferro, aço e petróleo. Não se liga e desliga a economia tão rapidamente, isso leva um tempo para se acomodar. 

O Banco Central está certo em corrigir a trajetória da Selic, mas o custo de buscar a meta para este ano seria muito elevado. A política monetária não teria mais efeito, considerando o espaço que temos até o fim do ano. 

Até que ponto vai essa alta da Selic? 

É uma questão ainda em aberto. Estamos revisando nossas expectativas e esperamos que a Selic suba para 5,5% a 6% até o fim do ano. Ainda assim, é cedo para cravar até onde vai ser necessário esse ajuste.

Há algumas variáveis que vão fazer diferença no segundo semestre. A principal delas é o choque de oferta, que tem impactado os preços. Se isso aliviar, há redução da inflação, refletindo também nas expectativas [de inflação futura] e no câmbio. 

Do lado negativo, teremos que ver qual será o impacto da reabertura do segmento de serviços. Mas ainda há várias forças deflacionárias na economia, como ganhos de produtividade e muita força ociosa no mercado de trabalho. Isso pode contribuir para que tenhamos uma inflação menor a partir do segundo semestre. 

Devemos ter uma redução da inflação mesmo com o forte crescimento esperado para o segundo semestre? 

Sim. A inflação que acumulamos é muito em razão do choque de oferta. À medida que os preços de commodities se estabilizem, a tendência é ter uma inflação menor. Vemos pouca capacidade de repasse do setor de serviços, principalmente devido à elevada capacidade ociosa e outros fatores estruturais. Acredito que, apesar de setores estarem retomando de maneira mais forte no segundo semestre, a inflação tende a ser menor. 

Nos Estados Unidos, a inflação bateu em 5% na taxa anual. Ainda dá para dizer que também é passageira? O Fed deve continuar com as políticas de estímulos?

Vejo um cenário semelhante. Muito da inflação é relacionado à alta de preços de commodities, à demanda mais aquecida e a esses desequilíbrios. Parte do estímulo fiscal, que também vem aquecendo a economia americana, é transitório. Conforme isso passa, a pressão inflacionária tende a dissipar.

A avaliação do Fed de que a inflação é transitória é correta e não faz sentido subir os juros para combater essa inflação. A economia ainda está saindo de uma e é preciso esperar para ver se a inflação vai se acomodar. O Fed tem tempo para normalizar a política monetária.

O Copom tem espaço para ser mais moderado em seu ciclo de alta, levando em consideração as semelhanças entre a inflação americana e a brasileira?

As expectativas de inflação americanas estão próximas da meta no . Aqui, elas ainda estão subindo. O Copom precisa atuar para controlá-las. Ainda temos um risco fiscal elevado, que pressiona as expectativas de inflação. O Banco Central não tem tanto espaço para manter uma política monetária estimulativa devido ao risco fiscal

Por outro lado, acredito que não precisaremos subir tanto os juros, considerando que a política monetária se manterá expansionista por mais tempo nos Estados Unidos. Quando a Selic estiver próxima de 5,5% a 6%, já vamos ter um diferencial de juros bastante interessante, contribuindo para um câmbio mais baixo. É possível controlar a inflação com taxa de juro menor do que a esperada pelo mercado. 

Nosso histórico de inflação mais alta, às vezes saindo de controle, pressiona a expectativa de inflação? 

Temos menos preocupação com a inflação do que o mercado. Vejo o nosso histórico inflacionário impactando em algumas previsões, com esse sentimento de a inflação seguir acelerando. Mas é um momento diferente do que vimos no ciclo de 2014 e 2015, em que a inflação estava em alta, mas era a inflação de serviços, de demanda. Aí tinha que elevar a Selic. Hoje, como a inflação é de oferta, com a de serviços muito baixa, subir a Selic tem pouco efeito. 

Por essa razão, entendo que o Banco Central tem que ir com cautela, porque o efeito da política monetária nessa inflação é baixa. Estamos trazendo inflação do exterior. Um aperto monetário na contramão do Fed pode ter um custo muito elevado para nossa economia. 

Com a melhor percepção de risco sobre a questão fiscal e a Selic subindo, devemos ficar mais próximos de ver o dólar perder o patamar dos 5 reais? 

Com a Selic em 6% e o fiscal controlado, é bem possível vermos o dólar abaixo de 5 reais, porque tem a atratividade da Selic e do ambiente. Além disso, temos os fundamentos do balanço de pagamentos. 

A balança comercial tem performado muito bem. Nesse ponto, commodities que pressionaram a inflação beneficiam nossa economia e esse fluxo de dólar pode contribuir para que a moeda perca o patamar de 5 reais. Hoje, essa não é a nossa previsão, mas considerando a Selic a 6% e o risco fiscal endereçado, podemos ver isso. 

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