Campos Neto: custo fiscal está diferenciando Brasil de outros emergentes

O custo fiscal está diferenciando o Brasil de outros emergentes, o que se reflete na percepção de que o país é o caso “mais exacerbado” nesse grupo em que a inflação aumenta mais rapidamente como efeito da combinação entre câmbio em desvalorização e commodities em alta, disse nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O chefe do BC reiterou que o Copom decidiu subir a Selic em ritmo mais rápido que o esperado pelo mercado por entender que, com o movimento transitório de inflação em alta, dessa forma poderia entregar um orçamento menor de juros. Contudo, ele alertou que um fiscal descontrolado reduz a eficiência da política monetária.

Campos Neto comentou que, em conversas com outros banqueiros centrais nos últimos meses, percebeu leniência com a inflação, que antes do “reflation trade” parecia um problema distante. O chefe do BC disse que o Brasil, à sua maneira, importou o conceito de que a inflação estava “morta”, mesmo num período de fiscal doméstico ainda preocupante.

O “reflation trade” é um fenômeno que ocorre quando investidores adotam estratégias voltadas a ativos que tendem a se valorizar em tempos de maior inflação na esteira de recuperação de crises.

“Eu vejo a tentação de sempre fazer mais localmente. A gente vê que existe uma grande força benéfica de tentar fazer a economia pegar, de tentar ajudar os mais carentes, mas tem que existir a percepção de que o custo fiscal está nos diferenciando, está nos diferenciando de uma forma que, através da curva de expectativa, (isso) tem contribuído para esse movimento inflacionário”, afirmou Campos Neto em live promovida pelo banco Daycoval.

“No caso do Brasil, com a nossa história, memória inflacionária recente, nós deveríamos mostrar um cuidado especial. (…) O BC está muito atento à inflação, sempre com muita transparência.”

O real cai 9,4% ante o dólar em 2021, em termos nominais, segundo pior desempenho global e melhor apenas que a lira turca, que perde cerca de 11%. As commodities medidas pelo índice CRB saltam 10,2% neste ano, enquanto a inflação pelo IPCA-15 está em 5,52% em 12 meses até março, bem acima da meta de ​3,75% deste ano.

O prêmio de risco do Brasil medido pelo CDS de cinco anos está 226 pontos-base, bem acima dos 141 pontos-base do começo do ano.

Entre emergentes de perfil semelhante, o CDS do Brasil é sensivelmente superior aos de México, Colômbia, Chile e Rússia –todos entre 60 pontos-base e 134 pontos-base– e está próximo ao da África do Sul (236 pontos-base) e abaixo do CDS turco (463 pontos-base).

O CDS é um derivativo que mede o risco de calote da dívida.

Campos Neto destacou ser impossível discutir qualquer cenário sem falar de pandemia e que duas coisas tiram seu sono: a necessidade de reabertura da economia –e, por tabela, de vacinação em massa– e o descontrole fiscal, que, por sua vez, reduz a eficiência da política monetária.

O presidente do BC previu que a economia brasileira deve experimentar reabertura mais rápida com a vacinação de grande parte dos grupos de risco em dois ou três meses.

“Para todo o nosso cenário se concretizar, precisamos de uma reabertura da economia. Para isso, precisamos de uma vacinação que seja eficiente, para que as pessoas voltem a suas vidas normais”, disse o chefe do BC, lembrando o conceito do “scary effects”, que Campos Neto definiu como efeito medo de retomar rotinas.

Do lado fiscal, o presidente do Bacen citou que o Brasil só não é mais endividado entre países em desenvolvimento do que Angola e Líbia.

“É muito difícil você segurar o monetário quando o fiscal está descontrolado”, afirmou. “Precisamos ter um pano de consolidação fiscal. Sempre digo que, nesse sentido, o BC não é o piloto, é o passageiro. Se a gente não conseguir achar equilíbrio fiscal, o lado monetário fica bem menos eficiente.”

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