Com a escassez, a água pode se transformar em um bom investimento

É fácil supor que a água nunca vai acabar. Ela cai do céu, e, embora seja vital, às vezes a tratamos como se fosse inútil. Quantas vezes você já viu sprinklers funcionando debaixo de chuva?

No entanto, a perspectiva de escassez em alguns anos poderá tornar a água uma mercadoria preciosa. Isso representa uma oportunidade para os investidores.

Um pequeno grupo de fundos mútuos tradicionais e fundos negociados na bolsa (ETF) já investem nela, principalmente em empresas que contribuem para a distribuição, o teste e a limpeza da água. Essas empresas podem crescer à medida que os governos em todo o mundo se esforçam para conter a esperada falta d’água.

“A escassez de água é um fenômeno global”, disse Andreas M. Fruschki, gerente de portfólio do AllianzGI Global Water Fund. “E é mais acentuada em regiões com maior crescimento populacional”, como o subcontinente indiano e o Oriente Médio.

O crescimento populacional, as alterações climáticas e a poluição afetam o fornecimento de água doce do mundo. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente previu que metade da população mundial pode enfrentar estresse hídrico severo até 2030. Os gastos anuais de US$ 200 bilhões, um aumento da média histórica de cerca de US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões, são necessários agora para manter as torneiras funcionando, disse um relatório de 2016 das Nações Unidas.

Mesmo os países desenvolvidos enfrentam custos crescentes para fornecer água, porque ela é pesada e difícil de transportar em longas distâncias. “A chuva em Nova York não ajuda o sul da Califórnia”, afirmou Fruschki. Além disso, a infraestrutura antiquada precisa ser substituída, disse ele. Isso gera a escassez de água e a perda de sete trilhões de litros de água potável por ano nos Estados Unidos, de acordo com a Sociedade Americana de Engenheiros Civis no Relatório de Infraestrutura de 2017.

As 35 empresas controladas pelo fundo AllianzGI fornecem produtos ou serviços para ajudar a superar a escassez de água e remediar as deficiências da infraestrutura, disse Fruschki. A maior holding do fundo, a American Water Works, é uma empresa de abastecimento que opera em 16 estados dos EUA, incluindo Nova York e Nova Jersey. Outra grande holding, a Xylem, fornece tecnologias de água tão diversas quanto bombas e medidores inteligentes.

Um problema desse setor é que, embora a água seja uma mercadoria, ela não pode ser comprada diretamente, como acontece com muitas outras commodities. “Não é um bem negociável como o petróleo”, disse Fruschki. A Austrália tem um mercado de água chamado Waterfind. Mas, nos Estados Unidos, apostar no preço da água exige a compra de terrenos que tenham direitos hídricos associados a eles. A Universidade de Harvard, por exemplo, comprou vinhedos na Califórnia e assim adquiriu o controle de seus direitos sobre a água.

Criado em 2008, o fundo AllianzGI obteve uma média anual de 9,83 por cento ao longo dos 10 anos findados em junho, em comparação com os 5,37 por cento da Morningstar, uma concorrente. O fundo é incomum nesse nicho, pois é ativamente administrado. A maior parte dos fundos mútuos de água e ETFs disponíveis para os investidores rastreiam índices e não são ativamente administrados.

Por exemplo, o Calvert Global Water Fund. Ele se baseia em um índice que a patrocinadora do fundo, a Calvert Research and Management, criou para incluir não apenas as empresas que ajudam a fornecer água potável, mas também as grandes usuárias com práticas exemplares, disse Jade S. Huang, vice-presidente e gerente de carteira de governança ambiental e social da Calvert. O fundo possui a American Water Works e a Xylem, mas também conta com a Taiwan Semiconductor Manufacturing entre suas 111 holdings.

“Taiwan é uma área com escassez de água, por isso a Taiwan Semiconductor desenvolveu práticas inovadoras. Ela recolhe, refiltra e reutiliza sua água três vezes”, contou Huang.

As instalações da Semiconductor recebem quantidades enormes de água, e, embora Taiwan apresente altos índices de precipitação, há poucos recursos para armazená-la. Huang disse que a Calvert vê a manipulação inteligente da água como gestão de risco prudente para empresas como a Taiwan Semiconductor. “Isso a coloca em uma posição mais competitiva, e ela é um líder de mercado no setor de semicondutores.”

As empresas do índice Calvert são divididas em quatro subgrupos – distribuidoras, equipamentos de infraestrutura, provedores de tecnologia e usuários eficientes, como a Taiwan Semiconductor. Segundo Huang, cada grupo responde por um quarto dos ativos do fundo, que teve um retorno médio anual de 8,56 por cento ao longo dos dez anos findados em junho.

Entre os ETFs da água, o Invesco é o principal, com três ofertas. Dois de seus fundos – o Invesco Water Resources ETF e o Invesco Global Water ETF – são construídos em torno de índices Nasdaq. Os recursos hídricos são focados nos Estados Unidos, enquanto os da Global Water estão espalhados pelo mundo, embora as empresas listadas nos Estados Unidos respondam por cerca de metade de seus ativos. A Water Resources teve um retorno médio anual de 9,89 por cento ao longo da década que terminou em junho, enquanto a Global Water obteve 8,1 por cento.

O Invesco adquiriu sua terceira oferta, a S&P Global Water Index ETF, quando comprou a linha de ETFs do Guggenheim no ano passado. Como recursos hídricos, esse fundo também investe principalmente nos Estados Unidos, mas os dois não são gêmeos, disse J. Jason Bloom, diretor sênior do Global Macro ETF Strategy da Invesco. Recursos hídricos têm “mais foco em empresas que desenvolvem tecnologia em torno da entrega de água limpa”, enquanto o fundo indexado S&P tende mais para distribuidoras, que compõem cerca de metade de seus ativos, disse ele. O fundo S&P Global Water Index retornou uma média anual de 11,05 por cento na década que terminou em junho.

Dois outros ETFs são o First Trust Water ETF e o Tortoise Global Water ESG Fund.

Alguns investidores evitam o setor porque “um monte de gente vê as distribuidoras negociadas publicamente como privatização da água”, disse Julie K. Gorte, vice-presidente de investimento sustentável na Impax Asset Management. A água, nessa visão, deve ser propriedade pública e controlada para garantir que todos tenham acesso a ela. Na realidade, “as municipalidades frequentemente contratam distribuidoras de água” e regulam sua prestação de serviços, contou Gorte.

Robert Glennon, especialista em direito da água na Faculdade de Direito Rogers da Universidade do Arizona, disse que parte da desconfiança do controle do setor privado em relação ao abastecimento de água pode ser proveniente de mal-entendidos sobre o que os clientes pagam e para onde a maioria da água vai. “A água pode ser um presente de Deus, mas Deus não nos dá canos, e os canos são caros”, disse ele.

A água doméstica responde por apenas uma pequena porção do consumo total – nos Estados Unidos, ele é de cerca de sete por cento, disse Glennon. O resto é usado pela agropecuária e pela indústria. E há pouco incentivo para usar a água prudentemente, porque quase todo mundo nos EUA paga pouco por ela, afirmou.

“Nosso abastecimento de água é como um milkshake gigante, e cada irregularidade é mais um canudo no copo. As pessoas veem nosso abastecimento como eterno, mas, na realidade, ele é finito.”

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