Como lidar com a escassez de profissionais tech na era mais tecnológica

Por Michele Mafissoni Heemann*

Com mais de 14 mil startups espalhadas pelos quatro cantos do país, o Brasil concentra 70% dos investimentos em startups na América Latina, segundo relatório da Sling Hub publicado ano passado. Na maioria das vezes, quando o assunto é este modelo de negócios, é comum que as pessoas lembrem-se dos aplicativos de transporte e dos bancos — as chamadas fintechs — mas o universo é extremamente amplo e atrai capital para os mais diversos setores da economia brasileira, impulsionando a inovação na área da saúde, educação, logística, indústria alimentícia, mercado imobiliário, comunicação, serviços contábeis, entre outros.

Esse ecossistema movimenta bilhões em um mercado que o Brasil vem ganhando cada vez mais relevância global. O relatório mostra que, a partir de 2018, o Brasil entrou para o seleto grupo dos países com startups unicórnios, que são as empresas avaliadas a partir de US$ 1 bilhão. Até 2017, a Argentina era o único país da América Latina com empresas de inovação acima desse valor. Mas em 2018 nasceram mais sete no Brasil, além de uma na Colômbia e outra no México, somando 34 startups unicórnios na região.

Juntamente com todo esse montante de investimento e novas empresas, vem a geração de empregos. O programa de incentivo e aceleração Google for Startups, o principal do setor de tecnologia, tem sob o seu guarda-chuva 250 startups brasileiras. Em cinco anos, de 2016 a 2021, essas startups geraram mais de 15 mil empregos no Brasil e movimentaram R$ 35 bilhões em investimentos de venture capital. E é aí que vem o grande desafio para todas as empresas de tecnologia nacionais: o déficit de profissionais qualificados no setor.

Um estudo da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação de Tecnologias Digitais), publicado em dezembro, mostra que a demanda média anual é de 159 mil profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação. Entretanto, somente 53 mil pessoas são formadas por ano em cursos de perfil tecnológico no Brasil.

Para agravar esse cenário, há profissões relativamente novas, como analistas de devops, analistas de marketing de performance e UX designers, os quais não são fáceis de serem encontrados no mercado. Quando encontrados, esses profissionais são disputados por várias empresas, o que os tornam consideravelmente inflacionados.

Essa escassez de profissionais especializados gera também um alto turnover nas empresas, transformando esse rico e promissor mercado em um enorme desafio para as startups que estão chegando e para aquelas que tentam se manter competitivas. Então, qual a solução?

É complexo, mas há alternativas para enfrentar esse problema. Uma delas se dá dentro das próprias empresas, através de programas de educação continuada atrelados ao desenvolvimento de carreira do profissional. Na Contabilizei, por exemplo, temos o AceleraTech, projeto que tem como objetivo investir na educação dos colaboradores e, ao mesmo tempo, oferecer um plano sólido e transparente de carreira dentro da startup.

A empresa focou fortemente na aceleração do processo de senioridade dos profissionais, por meio de trilhas de desenvolvimento dedicadas para cada especialidade, com o acompanhamento de profissionais mais seniores e com imersão em atividades que farão adquirir e colocar em prática os conhecimentos técnicos e comportamentais adquiridos. Desde analista júnior a especialista, esses profissionais terão a sua trajetória acelerada dentro da empresa, assumindo posições estratégicas mais rápido do que costuma ocorrer no mercado.

A empresa também aposta em uma sistemática bem definida de acompanhamento e mentoria dos profissionais por parte dos líderes, chegando a índices significativos de reconhecimento. Em 2021, 78% dos colaboradores tiveram incremento de remuneração, sendo 47% destes profissionais promovidos ao próximo nível de carreira. Para esta evolução no crescimento, a empresa foca não apenas em conhecimento técnico, mas também em desenvolvimento de novos comportamentos e aderência aos valores.

Não se trata de uma solução definitiva para o setor, mas uma alternativa estratégica para oferecer principalmente uma visão de futuro profissional ao colaborador e, paralelamente, contribuir para o crescimento sustentável da empresa. É cada vez mais desafiador reter talentos e contratar profissionais altamente qualificados no setor de tecnologia e a startup que não se reinventar, ou seja, que não inserir a Gestão de Pessoas como parte da estratégia do negócio, por mais inovadora que ela seja, tende a ficar pelo caminho.

*Michele Mafissoni Heemann é vice-presidente de Pessoas, Cultura e Gestão da Contabilizei, maior escritório de contabilidade do Brasil e referência em abertura de empresas



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