Coronavírus: Empresas adaptam produção, com montagem de UTI e conserto de respiradores

A expertise da Ternium, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, sempre foi produzir aço. Mas, em meio à pandemia de coronavírus, a siderúrgica deslocou parte de seus esforços à montagem de leitos de UTI. Em Resende, operários da linha de produção de veículos da Nissan agora fazem a manutenção de respiradores, cruciais na rede de saúde. E as concessionárias do grupo Invepar, que administram a Linha Amarela e o metrô do Rio, passaram a comprar toneladas de alimentos para doar em favelas.

São respostas às urgências potencializadas pelo coronavírus, que impulsionam guinadas no setor privado. Algumas são imediatas e temporárias, com empresas assumindo atividades diferentes de seu negócio principal. Mas, segundo executivos, também há transformações de longo prazo, que estimulam a responsabilidade social e uma relação mais próxima com as comunidades que cercam fábricas, usinas e escritórios.

Na favela Final Feliz, no Complexo do Chapadão, na Zona Norte, o desespero de uma mãe com um filho pequeno em cada braço, sem ter o que comer há dois dias, personifica a realidade que a Invepar tem encontrado nas 33 comunidades onde já distribuiu 35 toneladas de alimentos. Antes da atual emergência sanitária, o grupo realizava ações informativas e de empreendedorismo às margens da Linha Amarela e do metrô. Com a pandemia, no entanto, outras missões se impuseram, e foi criada a campanha “Nós”, com o objetivo de doar no mínimo 80 toneladas de alimentos nas áreas mais vulneráveis.

“São pessoas que moram em barracos de lona e madeira, em casas de poucos cômodos, às vezes até sem água”, afirma Zilma Ferreira, coordenadora do Instituto Invepar. “Não haverá outra situação como esta para a sociedade tentar se reinventar”.

Ela conta ainda que foi aberta um conta corrente para receber qualquer valor em doação. A cada real depositado, o grupo aportará um valor igual para engrossar os donativos.

Oficinas de ventiladores

Na Ternium, o vice-presidente de Relações Institucionais da usina, Pedro Teixeira, afirma que a epidemia suscitou novas resoluções. A empresa decidiu investir R$ 4 milhões na montagem de 25 leitos de UTI no Hospital municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, que devem estar prontos nos próximos dias. Em paralelo, acionou mão de obra especializada para o conserto de 68 respiradores da rede municipal de Saúde com defeito.

“A pandemia traz reflexões sobre a relação das empresas com o poder público. E que incorpora uma série de valores na nossa rotina”, diz ele.

No Sul Fluminense, até concorrentes de mercado no polo automotivo da região se uniram. O foco também é a manutenção de ventiladores mecânicos quebrados da rede pública. As fábricas de Jaguar Land Rover, Nissan, Peugeot e Volkswagen treinaram funcionários para a tarefa, que beneficiará hospitais do estado e de municípios do Médio Paraíba. As instalações da Land Rover, em Itatiaia, viraram o hub da iniciativa, onde nos últimos dias têm trabalhado pessoas como Vitor Oliveira, de 24 anos, originalmente operador da Nissan, em Resende: “Nunca imaginei trabalhar com equipamentos hospitalares. É um aprendizado”.

A Nissan negocia ainda a cessão de 20 carros para estado e municípios transportarem equipamentos e medicamentos. Atitudes que, para Marco Biancolini, diretor da fábrica, terão ecos futuros:

“Competitividade à parte, as montadoras entendem que a sinergia poderia ser ampliada, para um trabalho maior com a sociedade”.

Imbuída de espírito semelhante, a Rede D’Or lidera um pool de empresas responsáveis pela construção dos hospitais de campanha do Leblon — já inaugurado — e o do Parque dos Atletas, na Barra. Enquanto que a Coca-Cola Brasil criou um fundo de apoio a 70 comunidades, oito delas no Rio, entre as quais a Cidade de Deus, e garantirá renda mínima de R$ 600 mensais, por dois meses, a catadores de 16 cooperativas fluminenses.

“Temos uma visão de longo prazo, de que estamos todos conectados”, afirma Henrique Braun, presidente da Coca-Cola Brasil.

Voluntariado que une

Também foi a solidariedade que juntou restaurantes e pizzarias, com um empurrão da voluntária Caroline Aguiar, moradora da Barra. Ela planejava pôr em prática a ideia de minimercados gratuitos, parecidos com os que tinha ajudado nos EUA, onde morou, em incêndios florestais na Califórnia. A ideia, contudo, ganhou outra dimensão quando empresas como Forneria, Pappa Jack e Snack Popai, entre outras, aceitaram sua proposta.

“No meu carro, eu levaria comidinhas e lanches que dessem uma sensação de conforto a profissionais de saúde na linha de frente do combate ao coronavírus. Pensava em doar para o Ronaldo Gazolla. Mas deu tão certo que hoje consigo entregar a oito hospitais municipais”, conta Caroline. “Vejo a exaustão no rosto desses profissionais e acompanho histórias que estão mudando a minha vida”, ressalta ela, que tem tido apoio da Secretaria municipal de Saúde.


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