Crescem dúvidas sobre ‘volta ao passado’, alerta Verde, de Stuhlberger

“À medida que caminhamos para uma reabertura econômica mais ampla, o país parece flertar perigosamente com o passado.” A carta de julho da Verde Asset, de Luis Stuhlberger, aponta a transição entre dois Brasis, “ou a incerteza entre os dois modelos”, como algo que torna o processo de gestão de ativos muito mais complexo.

O documento que faz a análise do cenário politico-econômico aponta que aumentam os riscos de uma volta ao passado tão recente e fresco na memória não só de investidores mas dos brasileiros em geral.

“O fundo não está posicionado para esse cenário de ‘volta ao passado’. Não temos convicção de que isso vai acontecer, embora nossas dúvidas sejam crescentes”, aponta o documento divulgado nesta sexta-feira, 6 de agosto.

“As seguidas discussões recentes sobre tirar gastos do teto, com vistas a operações de cunho eleitoral, sinalizam uma preocupante vontade de reviver de modo permanente o ‘acelerador fiscal’ no modelo macro brasileiro. Este, por sua vez, vai naturalmente demandar a volta, também permanente, de um ‘freio monetário’, o que tende a dificultar a performance dos ativos de risco brasileiro e reverter, ou prejudicar, o processo de aprofundamento e sofisticação do mercado de investimentos no Brasil”, aponta a carta do Verde. É o “financial deepening” colocado em xeque.

A combinação de ‘acelerador fiscal’ com ‘freio monetário’ é explorada na análise com uma remissão a um modelo que vigorou até quatro anos atrás.

“O Brasil, ao longo do triênio 2017-2019, conseguiu romper um período de duas décadas de política fiscal extremamente frouxa e política monetária dura […]  Os anos 2012-2015 viram a política fiscal (e para-fiscal) testar vários limites, resultando em inflação e insatisfação popular”, rememora a gestora.

Foi um período de reformas em que especialmente o Teto de Gastos e a reforma da Previdência abriram espaço para inverter a lógica macro do país, que poderia passar a funcionar com “freio fiscal e acelerador monetário”.

“A queda das taxas de juros foi revolucionária em termos de crescimento do mercado de capitais e viabilizou uma série de iniciativas (crescimento do mercado de crédito e imobiliário, desintermediação financeira, explosão da indústria de venture capital, mais competição aos oligopólios em vários setores etc.) cujos frutos o país vai colher durante muito tempo.”

Na mesma análise, a gestora pontua que “a pandemia suspendeu temporariamente essa lógica”, levando o país a conviver, especialmente em 2020, com dois aceleradores, fiscal e monetária. A primeira metade de 2021 deveria levar o país de volta à normalidade macro anterior, mas não foi isso o que se viu.

“Tivemos mais gastos fiscais, enquanto a autoridade monetária se via às voltas com vários desafios de calibragem da taxa de juros, dada uma série de choques de oferta que tem afetado o país e o mundo (cadeias de suprimento globais sofrendo com retomada, faltas de chuva no Brasil etc.).”

A gestora, uma das maiores e mais bem-sucedidas do país, tem 54 bilhões de reais em ativos sob gestão, com uma equipe de setenta profissionais, entre gestores, estrategistas, analistas de e economistas.

O Fundo Verde é um dos mais longevos e rentáveis da indústria de fundos do país. Lançado em 1997, acumula rentabilidade de 18.840,69%, enquanto o no período teve variação de 2.261,55%.

“O mercado brasileiro vem sofrendo nos últimos dois meses, indo na direção contrária da nossa expectativa, que associava a aceleração da vacinação com reabertura econômica, melhora de expectativas e, portanto, boa performance de ativos de risco”, aponta a gestora ao fazer a leitura do cenário vigente.

“Essa cadeia tem sido rompida pela postura errática do governo em relação à política fiscal do Brasil no médio prazo; e também pela política monetária substancialmente mais hawkish que o Banco Central tem implementado.”

No mês de julho, o Fundo Verde teve rentabilidade negativa em 2,16%, levando o desempenho no ano a 1,28%. O CDI no mesmo período rendeu 1,63%.

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