No Brasil, faltam vacinas e uma comunicação mais assertiva para lidar com a pandemia. Ao mesmo tempo, sobram erros no enfrentamento à covid-19. E os culpados por esses erros deveriam ser responsabilizados. É o que pensa a microbiologista e presidente do Instituto Questão Ciência, Natália Pasternak, que participa deste episódio do podcast EXAME Política.
Para a pesquisadora, está claro que os maiores responsáveis pela condução errática da pandemia no Brasil que levou até hoje a mais de 436 mil mortes são órgãos do governo federal, como o Ministério da Saúde, e as pessoas que estiveram à sua frente ditando medidas não condizentes com a ciência, incluindo o presidente da República.
“Pessoas precisam ser responsabilizadas sim pelo que fizeram, principalmente quando as ações irresponsáveis levam à morte de tanta gente”, disse ela ao podcast (ouça abaixo na íntegra).
Pasternak, que tem reforçado as posições consensuais na comunidade científica quanto à pandemia e alertado para os riscos da covid-19, é um dos nomes de cientistas cotados a serem chamados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado para comentar e apontar os erros na condução da crise sanitária no Brasil.
Ela não vê o ritmo de vacinação no país acelerando por conta das revelações da comissão, devido ao reduzido número de doses que o Brasil tem possibilidade de receber nos próximos meses. O função da CPI, afirma, deve ser primordialmente o apontamento dos culpados pelas situação.
“Uma CPI é feita para apontar os culpados para que sejam efetivamente responsabilizados pelo que fizeram, pelas pessoas que enviaram direto para a morte pela sua irresponsabilidade, pela sua recusa em implementar medidas de segurança que não eram exatamente a invenção da roda”, reafirma.
Pesquisa EXAME/Ideia publicada no dia 7 de maio mostrou que 41% esperava que a CPI da Covid fosse capaz de aumentar o ritmo de vacinação no país, enquanto 32% esperavam que a invetsigação apontasse os culpados pela falta de vacina e equipamentos para lidar com a pandemia.
A microbiologista aponta que os maiores erros foram a recusa do governo federal em implementar medidas de segurança e a promoção de medicamentos sem eficácia comprovada como cura para o coronavírus. Além do presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministros da saúde Eduardo Pazuello e o atual comandante da Pasta, Marcelo Queiroga, são alguns dos responsáveis pelos gargalos.
Comunicação falha
Para a pesquisadora, além dos erros nas políticas públicas para combater o vírus, ainda falta comunicação efetiva para conscientizar a população das medidas preventivas, fator essencial para o sucesso das políticas de segurança sanitária em sua avaliação.
“Qualquer epidemia depende da nossa capacidade de comunicação, porque depende da nossa capacidade de mudar o comportamento de pessoas, para que elas usem máscara, se protejam, não aglomerem, se vacinem”, afirma.
Ela classifica a comunicação relacionada à pandemia adotada atualmente no Brasil como “estratégia de espantalho”. “Há grupos empresariais fazendo campanhas caríssimas dizendo para as pessoas se vacinarem, o que é muito bom”, afirma. “Mas no Brasil campanhas para dizer para as pessoas se vacinarem são muito menos necessárias com uma população que é mais de 90% favorável à vacinação do que campanhas explicando por que um lockdown é necessário, como fazer autoisolamento, como se comportar, como usar máscara.”
Uma pesquisa realizada pela Ipsos e o Fórum Econômico Mundial em março apontou que 9 a cada 10 brasileiros tomariam vacina contra o coronavírus. No levantamento, o Brasil aparece em primeiro lugar num ranking de 15 países, na frente de países como Reino Unido, Itália, Espanha e China.
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