Certamente, você teve de comprar pelo menos um item no mercado durante o ano. Do pequeno da esquina às super-redes, também é muito provável que você tenha sentido falta de algum item — ou não tenha encontrado determinada marca. E não, você não foi “azarado”: realmente o índice de ausência de produtos no supermercado aumentou em 2021. A conclusão é da Neogrid, empresa de tecnologia especializada em logística.
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Com base na coleta de informações de venda e estoque dos produtos em mais de 20.000 varejistas no Brasil de diversos segmentos, a companhia traça periodicamente o índice de ruptura. No primeiro semestre do ano, os produtos que atingiram as maiores marcas dentro do índice foram: bebidas à base de soja (28,29%), leite longa vida (21,53%), ovo (21,51%), rum (20,35%) e cerveja (19,93%).
Para efeito de comparação, o índice de ruptura geral atingiu 11,11% em junho, patamar similar ao de março de 2020, início da pandemia no país. O período mais crítico ainda permanece no ano passado, quando o índice chegou à marca de 12,57% em maio.
Apesar de os percentuais parecem irrisórios (pouco acima dos 10%), Robson Munhoz, CCSO (Chief Customer Success Officer) da Neogrid explica que o Brasil tem um índice médio de 8% de ruptura, e que cresceu consideravelmente durante a pandemia. “A cada 1 ponto percentual que cresce, é 1 ponto a menos de margem líquida para os varejistas e 2 pontos a menos para a indústria”, afirma.
O pico da ausência — e suas consequências até hoje — pode ser relacionado a fatores como a alta do dólar e a falta de matéria-prima na cadeia de produção, segundo a Neogrid.
Para ter uma ideia, a indústria de embalagens sofreu significativamente com a ausência de vidro e alumínio. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que, em outubro do ano passado, 68% das empresas tinham dificuldades de comprar insumos como esses no país — percentual que foi a 70% há dois meses. Como resultado, 44% estavam com dificuldades de cumprir prazos com clientes, sendo a principal razão para isso a falta de estoque (47%).
O papelão também ficou mais difícil de encontrar. Com a mudança de hábitos gerada pela pandemia, somada à paralisação de fábricas em todo o mundo por causa da covid-19, há um descasamento entre oferta e demanda.
Soma-se a esse fator a alta do dólar, que influencia as commodities — e, novamente, parte desses custos recai sobre a indústria. No caso do aço, por exemplo, a alta do minério de ferro atingiu 80% em 12 meses.
Para a soja, também houve aumento expressivo durante a pandemia: segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento, divulgados em abril, o preço da saca estava em 157,39 reais, alta de 92,36% em relação ao mesmo mês no ano anterior.
“O aumento de preços é repassado, em maior ou menor grau, para o varejo, que passa a procurar uma gama maior de fornecedores para aumentar margens. Com todos esses fatores, a entrega passa a demorar mais e consumidores podem não encontrar produtos que estão acostumados a consumir”, diz Robson.
Para chegar a esses percentuais, são cruzadas informações nas duas pontas: estoque dos mercados com as compras junto à indústria, e vendas ao consumidor. Hoje, grandes redes como Carrefour, Big, Pão de Açúcar, além de redes regionais fazem parte da base da Neogrid. São mais de 40.000 lojas, que representam 80% do que é vendido nos supermercados nacionalmente, segundo a empresa.
Inflação
Com o IPCA dos últimos 12 meses em 8,35%, uma das marcas mais altas desde 2016, consumidores também passaram a trocar alimentos que consumiam por outros mais baratos — e, novamente, isso impacta a ruptura de certas categorias.
Essa é uma justificativa para o ovo figurar no ranking elaborado pela Neogrid. Com o aumento de 38% do preço da carne nos últimos 12 meses, consumidores de baixa renda podem ter comprado mais ovos como fonte de proteína e, com isso, o estoque ficou prejudicado.
“Não é como se fôssemos atingir um estado de crise, em que tudo falta. Não é isso, é muito mais um movimento de acompanhar para entender até onde vai e observar que, por enquanto, é uma consequência mais de marcas faltando do que de crise geral de abastecimento”, diz Robson.
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