Demanda reprimida de consumo pode ser destravada com as vacinas, diz economista

Após um 2020 desastroso do ponto de vista econômico, o Brasil ainda pode fechar 2021 em um cenário muito melhor. A principal chave para que isso aconteça não é apenas a vacinação, mas o ritmo em que ela deve acontecer. Para o economista Arthur Mota, da Exame Research, braço de análise de investimentos da EXAME, se a extensão do auxílio emergencial vier acompanhado de um ritmo de vacinação mais acelerado, uma demanda reprimida de consumo pode ser destravada, beneficiando a economia como um todo.

Em um cenário positivo, de aprovação das reformas, o real acompanharia outras moedas emergentes e ganharia força em relação ao dólar, reduzindo custos de importação, ajudaria a inflação. Por outro lado, se mesmo com a extensão do auxílio emergencial nós continuarmos com o ritmo atual de vacinação e chegarmos ao segundo trimestre ainda com os números da covid-19 altos, a atividade tende a continuar fraca, e assim por diante. Estamos bastante reféns dessa mecânica da vacinação e de atividade.

Arthur Mota, economista da Exame Research

Ferramenta do Banco Central para controlar a inflação, a taxa Selic, atualmente em 2%, também deve iniciar um ciclo de alta. “Na ata da última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central já reforçou o cenário de alta da Selic – alguns diretores chamaram os atuais 2% de “grau de estímulo extraordinário”, insinuando que ele já não parece tão necessário”, explica Mota. “A questão, assim como a curva da inflação, é quando a Selic voltará a subir e em qual ritmo.”

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o economista da EXAME Research.

 

Estamos na metade de fevereiro. Já é possível ter uma visão clara de como a inflação vai se comportar neste ano?

Os números mensais de inflação são sempre uma comparação com o mesmo período do ano anterior. E o que aconteceu no ano anterior, 2020? Ali no auge da pandemia, entre abril e maio, tivemos um choque maior na economia e registramos deflação – ao invés de subir, os preços caíram. Mais para o final do ano, o baixo nível dos reservatórios fez subir o preço da energia elétrica, e o preço dos alimentos também deu uma disparada.

Mais recentemente, a Petrobras reduziu a sua defasagem de preços em relação ao mercado internacional, onde o petróleo vinha recuperando seu valor. Portanto, sobra pouca margem de alta da inflação neste começo de ano. Todas essas altas devem deixar o acumulado de 12 meses na casa dos 6% por volta do meio deste ano. Mas, daí pra frente, a tendência é de queda, chegando ao final do ano dentro da meta de inflação, que neste ano é de 3,75%. A grande questão é a partir de quando essa queda acontece e em qual ritmo.

 

Até agora, cerca de 4 milhões de brasileiros já foram vacinados e, no segundo trimestre, a vacinação deve continuar avançando. Como isso mexe com a inflação?

Alguns indicadores sugerem uma atividade econômica fraca neste início de ano. O IGP, a inflação do produtor, apesar de ainda não ter sido repassada ao consumidor, vem pressionada desde o final do ano. E o auxílio emergencial, além de ajudar as pessoas com o básico, também as ajudou a poupar um pouco, por precaução, temendo o que viria pela frente.

Isso significa que há uma demanda reprimida de consumo que pode ser destravada com as vacinas e um represamento de preços que também pode ser destravado se as pessoas tiverem mais confiança para sair de casa e gastar – normalizando a situação. Por isso, o ritmo de vacinação é importantíssimo.

Por outro lado, se mesmo com a extensão do auxílio emergencial nós continuarmos com o ritmo atual de vacinação e chegarmos ao segundo trimestre ainda com os números da covid-19 altos, a atividade tende a continuar fraca, a capacidade do produtor de repassar o aumento do IGP continua baixa, e assim por diante. Estamos bastante refém dessa mecânica da vacinação e de atividade.

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