Demora do governo em lançar novo BEm fez varejo demitir 70 mil

A interrupção do programa de corte de salários e suspensão de contratos no primeiro trimestre pesou para o varejo. Se o governo não tivesse demorado a reeditar a medida, 70,1 mil demissões sem justa causa teriam sido evitadas, de acordo com estimativa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

O programa deste ano repete a fórmula adotada no ano passado, por conta da pandemia: a proposta tenta evitar demissões diminuindo os custos para os empregadores. Em contrapartida, o governo paga um auxílio para compensar a perda de renda dos empregados, o BEm (Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego).

Iniciado em abril do ano passado, ele custou em 2020 R$ 33,5 bilhões durante nove meses –um gasto de R$ 3,72 bilhões mensais, lembra o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes. De abril a dezembro do ano passado, com o programa, foram poupadas 210,5 mil vagas no varejo.

A medida foi aprovada para uma nova etapa em abril. Para este ano, os gastos previstos com o BEm equivalem a R$ 2,9 bilhões mensais. Nos novos moldes, de abril a julho deste ano, o varejo deve poupar 73,3 mil postos.

Os empregadores aguardaram com ansiedade a reedição do BEm, já que a segunda onda de Covid-19 forçou cidades a voltarem a reduzir a circulação de pessoas e estabelecerem horários restritos para o funcionamento do comércio.

Os analistas atribuem a demora na reedição a uma visão otimista de que a economia teria condições de caminhar com as próprias pernas no começo deste ano. A expectativa, no entanto, foi frustrada pelo aumento de mortes por Covid-19.

Segundo a CNC, para cada R$ 1 bilhão em gastos por meio do programa de redução de jornadas e salários e de suspensão de contratos em 2020, 6,2 mil trabalhadores deixaram de ser demitidos. No primeiro trimestre deste ano, foram 430 mil demissões sem justa causa no setor.

O segmento de hipermercados e supermercados, que responde por quase um terço das vagas do varejo, deve ser o mais protegido pelo programa, evitando a demissão de mais de 15 mil vagas este ano. Em seguida, aparece o de materiais de construção (12 mil), de vestuário e calçados (11,9 mil) e de utilidades domésticas (10,3 mil).

“No caso dos supermercados, não aconteceu um fechamento de estabelecimentos significativo, como ocorreu em outros segmentos”, avalia o economista. Ele pondera que houve uma adaptação das redes do varejo durante os primeiros meses de pandemia, diminuindo o tamanho de lojas e modificando o modelo de trabalho, o que pode tornar o setor mais resistente este ano.

O varejo corresponde a pouco mais de 20% do emprego formal no país, ou 8 milhões de postos com carteira assinada, segundo a entidade. A combinação do BEm (para preservar empregos formais) e do auxílio emergencial (benefício voltado aos mais vulneráveis) deu um alívio ao varejo em 2020.

Em 2021, no entanto, as vendas dos supermercados não têm apresentado o mesmo impulso que tiveram no ano passado. O efeito para o varejo do auxílio emergencial este ano será menor, porque além de o valor do benefício ter sido reduzido, o endividamento das famílias deve canalizar os recursos para o pagamento de pendências.

No ano passado, 35,4% dos recursos do auxílio emergencial foram usados em compras no varejo, o equivalente a R$ 103,8 bilhões. A previsão da CNC para este ano é que cerca de 31,2% dos recursos do benefício sejam direcionados para o consumo, ou R$ 12,8 bilhões.

Até o início deste mês, a adesão ao programa de redução de jornadas e salários estava concentrada em micro e pequenas empresas. Em duas semanas de vigência do programa, cerca de 1,5 milhão de trabalhadores foram atingidos pelos cortes, segundo o Ministério da Economia.

Procurado, o Ministério da Economia disse que os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) indicam um saldo positivo de 21 mil empregos com carteira assinada no comércio varejista de janeiro a março de 2021, período que antecedeu o lançamento do novo BEm.

EMPREGO NO VAREJO:

73,3 mil
são os postos formais que o novo programa de redução de jornada e salário deve preservar este ano
70,1 mil
são os postos que foram perdidos com a demora na aprovação de uma nova rodada do programa
15 mil
é o número de demissões sem justa causa a serem evitadas nos supermercados e hipermercados este ano pela reedição do programa
Fonte: CNC

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