Dia Mundial da Bicicleta: como elas democratizam o transporte público?

(Por Pedro Somma e Luisa Peixoto)

É impossível imaginar uma metrópole apenas com um meio de transporte: somente com metrôs, ou somente com ônibus, ou até mesmo bicicletas. Cada um abrange uma parcela da população, regiões diferentes e necessidades distintas. A integração de todos eles, de forma simples, gera uma cidade mais inclusiva e ajuda a desenvolver a cidade.

Para entendermos a importância de uma cidade com a possibilidade de integração entre os mais diferentes modais — e como as bicicletas podem ser uma solução não apenas para deslocamento de até 5 km, mas também para ampliar o acesso à infraestrutura de transporte — precisamos entender algumas particularidades de São Paulo.

Por exemplo, olhar seu desenvolvimento, população e democracia nos meios já existentes. A urbanização no Brasil, aconteceu de forma extremamente veloz e atualmente cerca de 85% das pessoas já habitam áreas urbanas.

A capital paulista é a 10º cidade com maior população no mundo, a primeira no Brasil. Ao longo de sua história de quase 500 anos, a metrópole recebeu comunidades de todos os continentes do mundo, de várias regiões do Brasil.

Os investimentos na infraestrutura urbana em diversas cidades brasileiras não conseguiram acompanhar os níveis de urbanização, acabando por priorizar as áreas centrais das metrópoles, que concentram o maior fluxo de pessoas e oportunidades, enquanto certas áreas mais periféricas sofrem com deficiências no acesso aos sistemas de transporte público.

Como uma espécie de causa e consequência deste cenário, aliado ao fato de que a grande massa de empregos está concentrada em áreas mais centrais, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que São Paulo é a cidade mais desigual do país quando o assunto é acesso a emprego. Por aqui, os 10% mais ricos têm nove vezes mais empregos disponíveis a uma distância de 30 minutos de caminhada de onde moram em comparação aos 40% mais pobres.

Um indicador importante para medir o acesso ao transporte é o “People Near Transit” (PNT), ou Pessoas Perto do Trânsito, em português. Considerando deslocamentos a pé dentro de 1km, apenas 25% da população paulista tem acesso às principais linhas de transportes da cidade, segundo dados de 2015. Cidades globais, como Pequim e Nova York, possuem tais indicadores em patamares bem mais elevados: 60% e 70%, respectivamente.

O aumento da rede de transporte público massivo também pode melhorar esta situação e impactar positivamente o PNT. Caso o planejamento dos governos estadual e municipal se concretize e cheguemos a 1300km de transporte em 2025, teremos 74% de cobertura.

Contudo, com o orçamento e receita muito comprometidos devido à pandemia e desaceleração econômica, além dos possíveis atrasos naturais que possam vir a acontecer, esta previsão dificilmente se cumprirá.

No entanto, quando olhamos para os deslocamentos com bicicletas, o PNT paulista triplica e chega a 75%, uma diferença relevante com a situação vivida pelos pedestres. Mais do que nunca, o incentivo ao uso das bicicletas e à integração com outros tipos de transporte é uma excelente alternativa para aumentar o acesso ao sistema de transporte público, que avança em ritmo mais lento.

Não é somente em ciclofaixas e ciclovias, mas promover a integração com os modais coletivos, com a construção de bicicletários próximo às estações de transporte e a implementação de postos de compartilhamento de bicicletas, como é o caso dos pontos espalhados pela cidade pelo Itaú.

Portanto, as bicicletas são um meio de transporte extremamente importante para os deslocamentos urbanos, sejam eles mais curtos ou sejam eles mais longos, combinados ao transporte coletivo. Promover a mobilidade por bicicleta é promover mais acesso às oportunidades nas cidades, e por consequência, uma sociedade mais igualitária.

Pedro Somma é CEO da Quicko, startup brasileira de Mobilidade Urbana

Luisa Peixoto é Especialista em Mobilidade e Políticas Públicas da Quicko, startup brasileira de Mobilidade Urbana

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