Doria e Covas arriscam seus governos com plano de reabertura

No início da tarde, em entrevista coletiva do governo estadual, o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), afirmou que o índice de reprodução do vírus (R) do município de São Paulo é 1”. Ou seja: cada pessoa infectada pelo coronavirus está passando a doença para apenas mais uma pessoa. Em linha com esse raciocínio, o governador João Doria (PSDB) e secretários estaduais – com destaque para Patrícia Ellen da Silva (Desenvolvimento Econômico) – anunciaram um plano de “retomada consciente” pós-covid para todo o estado.

Não é surpresa, considerando a natureza de organizações burocráticas, que o plano encontre oposição dentro do próprio governo de São Paulo. Funcionários de diversas secretarias acordaram perplexos na segunda-feira, 25, com o anúncio, na coluna de Mônica Bergamo, de que o índice de reprodução do coronavírus (Rt) está em 1.1 na capital e 1.7 no estado. (A fonte era Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde.)

Os funcionários sabiam que a informação prenunciava o que ocorreu hoje: o anúncio de flexibilização do isolamento social a partir de 15 de junho. Dentro do governo, a decisão de hoje é vista como uma vitória de duas consultorias “contratadas”, através da doação de seus serviços, para ajudar Doria no combate ao coronavírus. São o Boston Consulting Group (BCG) e Oliver Wyman, para o qual a economista Ana Carla Abrão trabalha. O BCG tem forte contato com (e respaldo de) Patrícia Ellen. Três fontes consultadas, de secretarias distintas, a respeito dos trabalhos do BCG afirmam que a consultoria teve acesso a dados detalhadíssimos sobre o estado de São Paulo – conhecidos como “microdados”, aos quais ninguém fora do governo tem acesso.

Embora um termo de sigilo tenha sido assinado, o valor da consultoria para seus clientes pode subir bastante considerando esse acesso privilegiado. O fato é ainda pior considerando que a ONG Open Knowledge Brasil coloca o estado de São Paulo como o décimo mais transparente na estratégia de combate à pandemia.
Inspirado no Rio Grande do Sul, o plano, em si, não tem nada de errado. Exceto por um fato específico de São Paulo: indicadores de controle que dependem do conhecimento ou estimativa estatística honesta do número de casos confirmados e a falta de testagem em massa, sem a qual não há como saber o R de modo minimamente confiável.

O governo riograndense já começou a implementar a testagem amostral. Segundo uma pessoa que acompanha o trabalho de Doria de perto, “não temos um plano de testagem. Dimas Covas, que deveria liderar isso, já falou publicamente que testar policiais militares servirá como ‘amostra’ da população como um todo. É ingenuidade”.

Além disso, o funcionário aponta que poderá haver uma “explosão de casos” na capital se as diferenças socioeconômicas e entre bairros não forem consideradas – por isso a necessidade de testes amostrais. “A reprodução do vírus começou com a classe alta e está rapidamente se espalhando entre os mais pobres. Ao não se considerar a transmissão entre classes, usando um R geral para a cidade inteira, há o perigo de termos uma explosão de casos”.

Continue lendo

Recomendados

Desenvolvido porInvesting.com
Brasil, Todos

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu