Em carta a Bolsonaro, Mandetta alertou sobre possibilidade de colapso

Há mais de um ano, já era possível saber que a falta de adoção de medidas como isolamento social durante a pandemia de covid-19 poderia resultar em um colapso da saúde. É o que diz o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em carta entregue pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro em 28 de março de 2020. 

“Recomendamos, expressamente, que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população”, diz a carta.

Mandetta disponibilizou o documento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado, nesta terça-feira, 4, durante depoimento. Ele disse ter entregue a carta a Bolsonaro em mãos, em uma reunião no Palácio da Alvorada com outros ministros. “Se eu alertei o presidente? Alertei”, disse à comissão.

Após ter sido informado sobre a situação do vírus em outros países por órgãos como Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o ex-ministro avisou Bolsonaro sobre o “prognóstico do colapso dos sistemas de saúde nos próximos meses”. 

Mandetta afirma que não teve apoio do governo em relação às medidas sanitárias recomendadas pelo Ministério da Saúde, apesar de “todo o esforço empreendido” pela pasta na “proteção da saúde da população e, via de consequência, preservação de vidas no contexto da resposta à epidemia”. 

“As orientações e recomendações não receberam apoio deste governo federal, embora tenham sido embasadas por especialistas e autoridades em saúde, nacionais e internacionais, quais sejam isolamento social e a necessidade de reconhecimento da transmissão comunitária”, diz a carta. 

O ex-ministro também deixa clara a necessidade de que o Brasil “tome medidas que evitem o aumento exacerbado do número de casos com necessidade de atenção e cuidados de média e alta complexidade nas redes de serviço do Sistema Único de Saúde (SUS)”. Ele aponta que a situação já estava preocupante em países como Itália, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Mandetta diz que tentou “promover a integração entre os poderes” para fortalecer a resposta à pandemia. Ele teria se reunido com integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) para apresentar o cenário de emergência, “ressaltando a necessidade do estabelecimento de novos paradigmas para funcionamento da Administração Pública”.

Demissão

Mandetta foi demitido em 16 de abril, pouco depois de entregar a carta a Bolsonaro, pelas divergências entre os dois sobre assuntos como medidas sanitárias e tratamento precoce. O ex-ministro não concordava com o presidente, por exemplo, na defesa do uso de cloroquina para covid-19, mesmo sem comprovação científica. 

A exoneração partiu de Bolsonaro. Mandetta afirmou que não deixaria o cargo, a não ser que fosse demitido. “Eu não pediria jamais demissão do cargo. Em situação de pandemia, eu tinha um paciente doente. Eu tinha que ficar com meu paciente, à revelia de tudo e de todos, baseado no que eu tivesse de melhor”, disse à CPI.

 



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