O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo precisará explicar à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta terça-feira, 18, a falta de iniciativa em negociações para aquisição de vacinas contra a covid-19 no período em que ele esteve à frente do Itamaraty, entre janeiro de 2019 e março de 2021.
O ex-chanceler será questionado sobre falas polêmicas e crises geradas com outros países, principalmente com a China, que podem ter comprometido a compra de imunizantes e insumos pelo Brasil. Araújo, assim como o presidente Jair Bolsonaro, chamou o novo coronavírus de “vírus chinês” e “comunavírus”.
Araújo esteve envolvido em outras situações que arranharam a imagem do país no exterior, como quando defendeu o deputado Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente ter dito que a China era responsável pela pandemia. Além disso, o diplomata pediu duas vezes a troca do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanmig, mas foi ignorado.
A falta de interesse na busca de vacinas com a Índia também será questionada na CPI. Os senadores devem perguntar por que, em reunião com o chanceler indiano, em 11 de novembro de 2020, Araújo não mencionou a aquisição de imunizantes para o Brasil. Na ocasião, ele criticou o “globalismo” da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em um dos requerimentos para convocação de Araújo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aponta que, apesar de o Brasil fazer parte dos Brics, junto com alguns dos maiores produtores de vacinas do mundo — Rússia (Sputnik V), China (Sinovac e Sinopharm) e Índia (Covaxin) — o país “não se utilizou desse importante fórum internacional para garantir vacinas”.
“O ex-chanceler preferiu usar o foro para perseguir seus devaneios ideológicos de combate ao ‘comunismo’ e ‘globalismo’”, diz Randolfe. Ele lembra que, na cúpula dos Brics realizada em setembro de 2020, em vez de assegurar a vacina, Araújo preferiu fazer críticas à OMS e ao governador de São Paulo, João Doria, por comprar a “vacina chinesa”.
Os senadores também devem questionar a viagem a Israel, feita entre 7 e 9 de março deste ano, organizada pelo Ministério das Relações Exteriores, que custou 88,2 mil reais. O objetivo era conhecer um medicamento, em forma de spray nasal, ainda em fases iniciais de testes.Mas a comitiva, que não tinha uma equipe técnica qualificada, voltou ao Brasil sem nenhum acordo de cooperação.
Outro assunto que pode ser levantado pelos integrantes da CPI é a adesão tardia ao Covax Facility, consórcio internacional liderado pela OMS para compra de vacinas. A iniciativa foi anunciada em 24 de abril de 2020, mas o Brasil só aderiu em setembro, com a cobertura mínima de vacinas, que garante imunizantes para 10% da população.
Além da atitude hostil em relação à OMS e à China e da adesão “tardia e insuficiente” ao Covax Facility, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirma, em requerimento pela convocação de Araújo, que o ex-chanceler deve explicar a doação de 2 milhões de doses de hidroxicloroquina pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil “para usar brasileiros como cobaias”.
Outro ponto apontado por Carvalho é a posição do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), contrária ao licenciamento compulsório das vacinas. Quando Araújo estava à frente do ministério, o Brasil se manifestou contra a suspensão temporária de patentes de vacinas contra a covid-19, medida que permitiria que países em desenvolvimento produzissem vacinas.
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