As ações nos Estados Unidos continuam batendo recordes de alta. Na semana passada, mais uma vez, os principais índices do mercado superaram as máximas históricas. Depois de subir, em dólares, 31% em 2019 e 18% em 2020, este ano o mercado já acumula retorno de quase 20%. Diante de altas tão pronunciadas, crescem as preocupações e até as suspeitas de bolha. No entanto, o desempenho do mercado está amparado pela convergência de dois fatores muito poderosos: forte crescimento de lucros das empresas e queda das taxas de juros.
O movimento de alta nos Estados Unidos teve início na saída da recessão de 2008/2009, mais precisamente em março de 2009. Desde então, o índice S&P 500, principal indicador de preço das ações americanas, subiu 750%. Ou seja, um retorno em dólar de 18,7% ao ano por mais de 12 anos (incluindo dividendos recebidos).
À primeira vista, a alta pode parecer exagerada, mas é preciso considerar que, no mesmo período, o lucro das empresas do índice aumentou 27% ao ano. Em outras palavras: em 12 anos o S&P 500 aumentou 6,6 vezes, mas o lucro das empresas aumentou 18,7 vezes (o índice subiu de 676 pontos para 4.468 pontos e o lucro por ação agregado subiu de US$ 6,86 para US$ 128,20).
Além do aumento de lucros, a queda nas taxas de juros contribuiu para impulsionar o mercado. Desde o início do movimento de alta, os juros de longo prazo desabaram, passando de 2,9% ao ano para 1,3% ao ano (taxa dos títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos). Isto é importante porque quanto menor a taxa de juros de longo prazo maior será o valor presente dos lucros futuros das empresas. Além disso, a queda dos juros diminui a atratividade dos investimentos em renda fixa e estimula a alocação em ações.
A conclusão é clara: por mais de uma década, o desempenho do mercado se deve à combinação de um forte aumento no lucro das empresas com uma queda acentuada nas taxas de juros. Não se trata, portanto, de rentabilidade induzida artificialmente por uma bolha especulativa.
O que esperar do futuro?
Considerando os fundamentos da economia, a trajetória de rentabilidade das empresas e a política monetária do FED (Federal Reserve, o banco central norte-americano), o movimento de alta não parece estar esgotado.
As projeções para 2021 indicam crescimento do PIB de 7%, crescimento da receita das empresas de 15% e crescimento de lucros de 55% (segundo a média das projeções publicadas pelo Institutional Brokers’ Estimate System, I/B/E/S). Quanto às taxas de juros, o mercado de renda fixa continua precificando condições monetárias inalteradas até pelo menos o final de 2022. Neste ambiente, haverá condições para que a trajetória de alta se mantenha.
Obviamente, existem diversos fatores de risco que precisam ser monitorados. A maior ameaça ao “bull market” é, sem dúvida, o aperto das condições monetárias. A política atual, fortemente estimulativa, não pode ser mantida indefinidamente e quando houver sinais de reversão do FED o impacto nos mercados globais poderá ser muito negativo, inclusive no Brasil. No curto prazo, novas variantes da Covid-19 podem afetar o ritmo de recuperação da economia e eventos geopolíticos como a crise que se desenrola no Afeganistão podem criar turbulência.
Outra ameaça potencial é o aumento de impostos. A administração Biden está determinada a subir a alíquota das empresas dos 21% da era Trump para 28%. Considerando a resistência no Congresso, a nova taxa deve ficar em torno de 25%, o que representaria uma redução de 5% a 6% no lucro por ação das empresas do S&P 500 a partir de 2022. Mesmo assim, tudo indica que as margens de rentabilidade das empresas americanas serão as maiores da história.
Não é possível prever as oscilações de curto prazo do mercado, mas para o investidor de longo prazo que estiver atento aos fundamentos, a oportunidade de participar do crescimento das melhores empresas do mundo continua atrativa.
*Gestor de investimentos internacionais e fundador da Stratton Capital