A fábrica de Eric Li, que fornece abajures de vidro para empresas como a varejista americana Home Depot, opera no limite: as vendas dobraram em relação ao nível pré-pandemia.
Mas, como muitos fabricantes chineses, ele não planeja expandir as operações, decisão que pode desacelerar o ritmo de crescimento econômico da China neste ano e prolongar a escassez mundial de mercadorias diante do aumento da demanda.
Com o salto dos preços das matérias-primas, “as margens estão comprimidas”, explica Li, dono da Huizhou Baizhan Glass, na província de Guangdong, sul da China, que tem receita anual de cerca de 30 milhões de dólares. Com a recuperação econômica global ainda desigual, “o futuro é muito incerto, então não há muito impulso para expandir capacidade”, acrescenta.
Com a combinação de preços de insumos mais altos, incerteza sobre as perspectivas de exportação e fraca recuperação da demanda do consumidor doméstico, o investimento do setor de manufatura chinês de janeiro a abril ficou 0,4% abaixo do mesmo período em 2019, de acordo com estatísticas oficiais (comparar os dados com 2019 elimina a distorção dos efeitos da pandemia no ano passado).
Devido ao grande tamanho do setor manufatureiro da China, isso representa um risco tanto para a expansão do país — cuja previsão é atingir 8,5% em 2021, segundo pesquisa da Bloomberg com economistas — quanto para a economia global, que enfrenta falta de produtos e aumento dos preços.
Lucros em queda
Investimentos abaixo do esperado podem ter impacto “considerável” no crescimento do PIB neste ano, disse o economista do Citigroup para China, Li-gang Liu. Investimentos menores podem prejudicar as importações de bens de capital e equipamentos com origem em economias desenvolvidas como Japão e Alemanha, “o que, por sua vez, também pode pesar sobre sua recuperação econômica e retomada”, acrescentou.
A AnHui Hero Electronic Sci & Tec está entre as empresas que sentem o aperto. Com sede na província oriental de Anhui, a empresa fabrica capacitores para a fabricação de circuitos eletrônicos, com vendas principalmente no mercado interno. Jing Yuan, o fundador, diz que os pedidos aumentaram até 30% com relação ao ano anterior, mas os lucros caíram 50% devido ao aumento dos custos de matérias-primas que não são facilmente repassados aos clientes.
A empresa está sob “grande pressão de caixa”, pois precisa fazer pagamentos 15 dias antes da entrega para garantir cobre e outros metais, que antes eram pagos meses após o recebimento, disse. “A questão das commodities tem de ser abordada pelo governo”, acrescentou.
Devido à escassez de insumos, alguns fabricantes não podem fazer uso de suas instalações existentes, portanto, a expansão seria de pouca utilidade. A Nio, fabricante chinesa de veículos elétricos, suspendeu a produção em uma de suas unidades no mês passado por causa da falta de microchips.
Transição
Além dos custos mais elevados dos insumos, as empresas chinesas enfrentam um transição turbulenta com foco nos gastos de consumidores domésticos para sustentar a recuperação pós-pandemia.
As exportações, o forte da China no ano passado, podem começar a desacelerar com o avanço da vacinação em outros países ricos, pois consumidores tendem a gastar mais em serviços. Enquanto isso, o ritmo de crescimento dos gastos do consumidor chinês ainda não se recuperou totalmente.
“A demanda ainda é sustentada principalmente pelas exportações, por isso empresas nacionais estão cientes de que isso não é sustentável”, disse a economista do Standard Chartered na China, Lan Shen.