Entre as 50 primeiras fazendas de cannabis que foram licenciadas nos Estados Unidos uma delas tem as mãos de três irmãos brasileiros e dos seus pais.
José Rocha e a esposa Corina se mudaram para os Estados Unidos em busca do sonho americano há cerca de 20 anos, com as crianças. Moraram em Miami, Nova Jersey e outros estados em que imigrantes costumam buscar por oportunidades… Enquanto isso, José trabalhava principalmente como motorista de caminhão.
Depois de a família ter se estabilizado, José atuou principalmente no setor de transportes e tinha uma empresa bem sucedida no ramo. Mas um novo tipo de negócio começou a chamar a atenção dos filhos. Um atrás do outro, os estados do Estados Unidos começavam a permitir a prescrição médica de derivados de cannabis e até a recreativa, como aconteceu nos em Washington e Colorado no ano de 2015.
Foi aí que os irmãos Ana, Rafael e Gustavo convenceram o pai a vender a empresa de transportes e investir em uma fazenda para plantar pés de cannabis no estado do Oregon. Antes de produzir o próprio derivado medicinal canabidiol, que viria a ser batizado com a marca USA Hemp, a família Mendes comprou 3,5 hectares apenas para plantar e produzir derivados sob encomenda para outras marcas.
Primeiro, a ideia era vender cannabis para o uso adulto, mas a produção não podia ser interestadual e o mercado medicinal começou a se mostrar um pouco mais promissor que o recreativo.
A partir daí, os irmãos Ana, Rafael e Gustavo — que decidiram rebatizar seu sobrenome para Redwood — passaram a investir totalmente nos derivados medicinais e entenderam que o mercado brasileiro seria uma fronteira a ser explorada. Na América Latina, segundo dados da The New Frontier Data, o Brasil domina 24% do potencial deste mercado.
Com o apoio do pai, eles investiram mais e mais. Em pouco tempo, a fazenda da família pulou para 120 hectares e hoje até precisa terceirizar a produção.
Como o mercado dos Estados Unidos é mais competitivo, o Brasil era um destino ideal para as vendas da empresa e, em 2019, eles começaram a vender para pacientes daqui já com a marca USA Hemp.
Hoje, a marca é uma das principais exportadoras de canabidiol para pacientes brasileiros. Desde 2014, o uso do canabidiol é permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e desde 2020, (com a chamada RDC 327), já é possível comprar alguns produtos em farmácias físicas, mas a principal forma de compra ainda é via importação.
Independentemente da forma de compra, é necessário ter receita médica. E, no caso da importação, uma autorização da Anvisa.
Em 2021 a USAHEMP teve um crescimento de vendas no Brasil em torno de 60% em relação a 2020. Desde 2015, toda a empresa já teve uma receita acumulada de 25 milhões de dólares em vendas.
Segundo dados da Anvisa reunidos pela Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides, as solicitações para a importação de canabidiol dispararam entre 2015 e 2021. Em 2015, elas foram 781. Em 2021, foram 33,1 mil, um crescimento de mais de 100% na comparação com 2020, que havia atingido um número de cerca de 15 mil.
“Nos Estados Unidos você encontra o CBD até em postos de gasolina, e com isso você perde um pouco em qualidade na oferta de certas marcas porque têm produtos de todo o tipo. Nosso desejo de oferecer o produto para o Brasil é porque a legislação do país coloca o CBD onde a gente entende que ele tem que estar, que é dentro da regulação medicinal”, explica Ana Redwood, uma das irmãs sócias da empresa.”O mercado do Brasil não é importante só pelo dinheiro mas pela legislação medicinal.”
Nos Estados Unidos, o consumo de canabidiol está dentro da categoria dos suplementos alimentares. Já no Brasil, as restrições são bem maiores e é necessário um médico prescritor.
Ana explica que a terceirização da produção da fórmula do canabidiol da USA Hemp para outras fazendas garante que a empresa possa atender rapidamente qualquer eventual aumento de demanda abrupto com o avanço de mercados em que tem desenvolvido mais suas marcas como o Brasil e Portugal.
Além da marca de canabidiol USA Hemp, a família também criou a Redwood Reserves, de cigarros feitos com as flores da planta e que contém também o CBD, mas não tem nicotina e tabaco.
Segundo Ana Redwood, que tem a função de representar as marcas, a empresa tem em média de 6 a 10 mil pedidos desses cigarros de canabidiol por mês dentro dos Estados Unidos, incluindo maços e pacotes.
O primeiro lugar no mundo a autorizar o uso medicinal da cannabis foi o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, nos anos 1990. Depois, em 2001, o Canadá entrou na onda, assim como o estado do Havaí. Hoje, já são cerca de 40 países que permitem o uso de derivados medicinais, com regras que variam. Nessa lista estão o Brasil, vizinhos como Argentina, Colômbia, Uruguai e Chile, a maior parte da Europa e dos estados dos Estados Unidos.
No mundo, o mercado de cannabis medicinal deve movimentar 62,7 bilhões de dólares até 2024, segundo a empresa de inteligência de dados Proibition Partners.
“Eu tomo canabidiol todos os dias, de 6000 mg, para ansiedade, ajudou a parar de fumar. Ajuda meu pai, minha mãe, que tem insônia. Se você não acredita no seu produto, você não vai conseguir vender”, diz Ana.
A próxima fronteira da empresa para aumentar a presença no mercado brasileiro, que hoje só existe com a presença online, é conseguir a autorização da Anvisa para chegar às farmácias. Hoje, poucas empresas conseguiram essa autorização, como a farmacêutica paranaense Prati-Donaduzzi, a Verdemed e Nunature. Para isso, a USA Hemp precisa ter instalações físicas no Brasil. O investimento previso é de 15 milhões de reais, e que deve gerar 300 contratações no país.