Índice inédito mostra situação racial nas empresas brasileiras

A Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, iniciativa para mudar a forma que as empresas e investidores podem contribuir para a equidade racial no Brasil, divulga os resultados do primeiro relatório do Índice ESG de Equidade Racial Setorial (IEERS).

A metodologia foi desenvolvida ao considerar os 25 setores da economia, segundo o IBGE, para estabelecer um parâmetro para cada segmento da economia nacional e servir como referência para as empresas que desejam combater a desigualdade racial. O índice também dá uma diretriz para que as empresas possam estabelecer suas próprias metas de desenvolvimento e atingir seus objetivos, com o suporte do Pacto, cuja proposta é implementar um protocolo ESG racial para o Brasil.

“Foi possível compreender a demografia das organizações, considerando os setores e também as regiões de atuação. Os recortes são importantes para que as empresas evoluam de acordo com as suas realidades. Por exemplo, 56% dos brasileiros são pretos e pardos, mas em algumas regiões, como a Sul, a presença é de 25%”, diz Gilberto Costa, diretor executivo do Pacto.

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O índice tem três subcomponentes: o índice para ocupações de não liderança, gerência e diretoria. “Nesse subcomponente de não- liderança existe uma evolução bastante favorável, nos últimos dez anos, na maior parte dos setores, como mostra o relatório. Entretanto, na gerência e na diretoria essa evolução se mostra mais tímida. Não é tão perceptível”, diz Lucas Cavalcanti, integrante do grupo que desenvolveu a metodologia e o cálculo.

Entre os setor abordados na pesquisa, todos apresentam aumentos no ponderado ao longo dos anos. O maior deles e o de Transporte e Comunicações, que apresentava um ponderado (-0,60) em 2010 e (-0,48) em 2020. O segundo melhor resultado e o setor de Comércio e Administrac¸ao de imóveis com ponderado de -0,53 e -0,45 em 2010 e 2020, respectivamente. O setor Varejista (-0,57 e -0,50) e o de Serviços de alojamento (-0,56 e -0,49), não se diferenciam muito apresentando resultados mais modestos do que os anteriores.

Além disso, as indústrias dos calçados, materiais de transportes e madeira e mobiliário são as com melhor índice quando se olha para o poderado. Contudo, há uma diferença relevante entre a presença de negros na base e na liderança.

“O índice vai de -1 até +1. Assim, a empresa de resultado 0 é equânime em raça; quanto mais próximo do -1 mais branca é a organização, e no +1, mais negra é a organização. Estamos perseguindo que elas estejam neutras ou próximas do índice da sua região”, afirma Costa.

Setor financeiro

A pesquisa traz ainda uma subseção com análise especificamente sobre o setor financeiro. Quando comparado com outras áreas, como a de construção civil ou varejista, o setor financeiro tem um grau de desigualdade racial muito maior. E essa desigualdade aumenta conforme o nível de liderança da ocupação. Se nas ocupações de não-liderança já existe muita desigualdade racial, nas ocupações de gerência o nível aumenta e as diretorias são quase que cem por cento brancas.

“O estudo mostra que em alguns grupos do setor financeiro, em particular em bancos de investimentos, o board de diretores das empresas é quase que exclusivamente branco. O índice fica muito próximo do valor máximo dele, que é de -1, que é quando tem total sub-representação de negros”, comenta Cavalcanti.

Além disso, há diferenças entre os bancos de varejo e os atacado. “Os bancos que mais evoluíram são os de varejo, mas especialmente em cargos de entrada. O índice, então, serve para medir isto, mostrar como avançar e fazer com que as empresas considerem as contratações, promoções e até formação técnica para jovens negros. Estamos em conversas com a Febraban para evoluir”, diz Costa.

O cálculo do Índice ESG de Equidade Racial

O cálculo do Índice ESG de Equidade Racial para os grandes subsetores da economia muda o foco de empresas específicas e coloca em setores de atividade mais amplos. Ele calcula o índice ESG de equidade racial para cada um dos 25 grandes subsetores da economia, de acordo com a classificação do IBGE É um grande incentivo para a adesão das empresas de auditoria e organizações da sociedade civil ao protocolo ESG racial.

Com o IEERS, todas as empresas podem utilizar os mesmos dados e fazer os mesmos exercícios. Se uma empresa do setor de construção civil, por exemplo, quiser saber como ela está posicionada em relação as outras empresas que atuam no mercado, ela pode verificar os indicadores do setor de construção em particular.

“Além dessa foto, desse retrato do momento que o índice faz dos setores, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2020, traz um filme dos últimos dez anos, mostrando como o índice evoluiu em diferentes setores”, diz Cavalcanti.

Apoio para a equidade racial

Além de se comprometerem a divulgar os seus índices anualmente, as companhias que aderem ao Pacto da Equidade Racial recebem apoio da associação no que diz respeito a realização de cálculos. No site, a instituição disponibiliza uma documentação bastante ampla para que todas as empresas, associadas ao projeto ou não, possam calcular seus próprios índices, verificar sua atual situação e implementar as mudanças necessárias para atingir um índice ideal de equidade racial.

“Com o IEERS fica muito mais simples para as empresas encontrarem referências e calcularem o nível de equidade. É uma ferramenta fundamental, à disponível de todos, para auxiliar as empresas no combate ao racismo, por meio de estatísticas. Racismo se combate com fato e dado com o estabelecimento de metas objetivas e investimento. E isso é o que estamos fazendo, gerando inteligência para nos auxiliares nessa luta”.

O Índice ESG de Equidade Racial Setorial

A metodologia foi desenvolvida para estabelecer um parâmetro para cada segmento da economia nacional e servir como referência para as empresas que desejam combater a desigualdade racial. Além de ter uma referência, o índice também dá uma diretriz para que as empresas possam estabelecer suas próprias metas de desenvolvimento e perseguir seus objetivos, com o suporte do Pacto, cuja proposta é implementar um protocolo ESG racial para o Brasil.

O índice separa as companhias por área de atuação, porque empresas de segmentos diferentes têm configurações e realidades bastante distintas e, portanto, necessitam ser comparadas e avaliadas levando em consideração os seus pares. Para desenvolver a pesquisa e estipular valores de referência para cada setor, foram utilizados dados da RAIS não identificada de 2020 e uma nova forma de agregação do Índice de equidade ocupacional.

Assim, o cálculo foi feito agregando o índice de equidade de ocupações, usado no cálculo do Índice ESG de Equidade Racial (IEER) para empresas, a nível dos subsetores do IBGE, gerando um IEER para cada subsetor da economia.

“Hoje os dados demográficos mostram que as empresas estão evoluindo, mas não na velocidade que a sociedade esperava. Há ações afirmativas de investimento social privado, por exemplo, mas elas precisam estar em uma estratégia de mudança na demografia dos empregados. Não adianta, por exemplo, investir na escola pública e não capacticar e contratar pessoas negras. Assim, o Pacto promove a união das empresas com dados para combater o racismo”, afirma Costa.

A Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial tem ganhado força junto a B3 – Bolsa de Valores, a Febraban -Federação Brasileira de Bancos e a AMBIMA- Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais que representa as instituições do mercado de capitais brasileiro, além de IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos, FecomercioSP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo – e Rede Brasil do Pacto Global da ONU.

 

 

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