Lava Jato denuncia dono de cervejaria Petrópolis por lavagem de R$ 1 bi

São Paulo — A força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba apresentou nesta sexta-feira uma denúncia por lavagem de dinheiro contra o empresário Walter Faria e outras 22 pessoas vinculadas à cervejaria Petrópolis, o Antígua Overseas Bank e ao departamento de propina da Odebrecht.

Faria é acusado de participar de um esquema que lavou R$ 1,1 bilhão para a Odebrecht, entre 2006 e 2014.

A denúncia contra o empresário acontece dois dias depois de o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) mandar soltá-lo, mediante pagamento de R$ 40 milhões de fiança e uso de tornozeleira eletrônica.

Uma das linhas de investigação da Lava-Jato apura se o empresário utilizou o programa de repatriação para trazer ao Brasil R$ 1, 4 bilhão obtidos de forma ilícita no exterior.

Faria foi preso preventivamente na 62ª fase da operação Lava Jato em agosto. Segundo a denúncia, ele é acusado de praticar 642 atos de lavagem de dinheiro.

De acordo com os delatores da Odebrecht, a cervejaria Petrópolis teria auxiliado a empreiteira a pagar propina por meio da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior, em uma operação conhecida como “operações dólar-cabo”.

Ainda de acordo com os delatores, a Odebrecht lançou mão do Grupo Petrópolis para fazer doações de campanha eleitoral para políticos entre 2008 e junho de 2014.

O procurador da República Antonio Diniz acredita que “o volume e sofisticação do esquema de lavagem de dinheiro” feito por Faria são comparáveis aos casos envolvendo os maiores operadores da Lava-Jato, como Adir Assad e Alberto Youssef.

Para o Ministério Público Federal, a estratégia de lavagem utilizada por Faria envolvia repasses feitos ao grupo Petrópolis diretamente no exterior.

“A Odebrecht costumava utilizar, na lavagem do dinheiro, camadas de contas estrangeiras em nome de diferentes offshores. Essa estratégia envolveu também a utilização de complexa estrutura financeira de contas no exterior relacionadas às atividades do grupo Petrópolis”, diz a nota da força-tarefa.

Os procuradores sustentam, por exemplo, que somente em uma conta mantida no Antigua Overseas Bank, em Antigua e Barbuda, no nome da offshore Legacy International, o empresário recebeu US$ 95, 5 milhões da Odebrecht de setembro de 2006 a outubro de 2008. Em conta da empresa Headliner Limited, da qual Faria é beneficiário econômico, foram depositados US$ 6, 2 milhões, entre outubro de 2007 e setembro de 2008.

Já entre agosto de 2011 e outubro de 2014, duas contas mantidas pelo executivo no EFG Bank na Suíça, em nome das offshores Sur Trade Corporation e Somert Montevideo, receberam da Odebrecht, respectivamente, US$ 433 mil e US$ 18 milhões.

Para a Lava-Jato, o grupo Petrópolis ofereceu pelo menos dois tipos de contrapartida ilícitas ao depósito dos recursos no exterior. A primeira forma foi a disponibilização de dinheiro vivo no Brasil, que era utilizado para pagamentos de propina.

O segundo modo de contrapartida aos depósitos que recebia no exterior consistiria em fazer no Brasil o pagamento, em favor da Odebrecht, de propinas a políticos, disfarçadas de doações eleitorais.

O grupo comandado por Faria, por meio das empresas Praiamar e Leyroz Caxias, que eram distribuidoras da cervejaria, foi utilizado pela Odebrecht para realizar, entre 2010 e 2014, pagamentos de propina travestida de doações eleitorais no montante de R$ 124 milhões.

Em outro cálculo no período de julho de 2006 a outubro de 2012, o Ministério Público Federal estima um montante ainda mais expressivo. Nessa época, a Lava-Jato sustenta que foi possível identificar que a cervejaria disponibilizou mais de R$ 388 milhões em espécie à Odebrecht no Brasil. O dinheiro teria sido usado para irrigar campanhas de polítidos de diversos partidos.

O GLOBO não conseguiu contato com a defesa de Walter Faria.

Ao pedir a soltura de Faria aos desembargadores do TRF4, a defesa argumentou que os depoimentos de testemunhas ouvidos no processo “demonstraram que a parcela de responsabilidade do empresário seria muito menor do que a inicialmente cogitada”.

Os advogados também sustentaram que o executivo sempre colaborou com as investigações e que não existe risco dele tentar obstruir a apuração dos fatos.

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