Mais vagas, menos dinheiro: os destaques da taxa de desemprego em 5 gráficos

O desemprego segue em queda no Brasil em meio à recuperação gradual da economia, como mostraram os dados desta quinta-feira, 30, na Pnad, do IBGE. A taxa de desocupação ficou em 9,8% no trimestre entre março e maio, a menor desde 2016, com 10,6 milhões de desempregados.

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Os números vieram acima das expectativas do mercado (o consenso era de taxa de desemprego em 10,2%). Houve boa recuperação em vários setores, sobretudo os ligados a serviços e que haviam sofrido mais com a pandemia.

Mas ainda há pontos de atenção, como o rendimento médio real 7% abaixo do que era no mesmo período em 2021 — o que indica que as vagas abertas, embora contemplem mais pessoas, estão pagando menos em média. Veja abaixo os principais destaques do cenário no mercado de trabalho.

Recuperação do emprego, mas com limitações

Há um ano, a taxa de desocupação era de 14,7%, uma das maiores da série histórica — quando a pandemia estava em um de seus piores momentos.

Desde então, 4,6 milhões de pessoas a menos ficaram desocupadas, e houve queda de quase 5 pontos percentuais até os atuais 9,8% de desemprego no trimestre encerrado em maio.

Outro dado visto como boa notícia foi a queda na subutilização. A taxa composta de subutilização passou dos 29,2% há um ano, no trimestre até abril de 2021, para 21,8% no trimestre até maio, também a menor desde 2016.

Na mesma linha, a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas (isto é, que poderia trabalhar mais horas mas não encontram demanda) caiu 11,1% em um ano.

Os números vão, aos poucos, voltando aos patamares do começo de 2020, antes do avanço da covid-19. “Parte importante dessa queda de desemprego vem de uma recuperação final em relação à pandemia, com as coisas voltando à normalidade”, diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

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A retomada, ainda assim, tem suas limitações, uma vez que o Brasil entrou na pandemia sem ter se recuperado totalmente da crise pós-2015.

“Estamos voltando ao nível pré-pandemia, mas é um nível que também não era bom. Voltou ’em V’ para aquele patamar que a gente já não gostava”, diz Filho. “A normalidade pré-pandemia era de pouco emprego formal, muitas vagas informais, e crescimento baixo. Temos de fazer a ressalva de que é para esse ‘normal’ que estamos voltando.”

Setores que mais abriram vagas

O crescimento do emprego não aconteceu em um setor isolado, apontam os especialistas, e quase todos os grupamentos analisados terminaram o trimestre com saldo positivo de empregados (com exceção da agropecuária, que ficou estável e caiu 0,2%, com 22 mil pessoas a menos).

Os destaques foram atividades ligadas a serviços, como “alojamento e alimentação” (alta de 3,6%, com 186 mil novas pessoas), em áreas que só conseguiram se recuperar plenamente com a vacinação em massa e maior circulação de pessoas a partir desse ano.

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No entanto, mesmo setores que vêm patinando, como a indústria, adicionaram vagas após períodos ruins durante a pandemia, nota Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE. A indústria teve alta de 2,5% no trimestre de março a maio em relação ao trimestre anterior (de fevereiro a abril), com 312 mil novas pessoas.

Dentro do grupo de “Transporte, armazenagem e correio” (alta de 4,6%), além do bom momento do setor de entregas com o comércio eletrônico, Mariano aponta que o retorno da circulação de pessoas também favorece frentes como a aviação civil. Áreas como atividades de educação também criaram vagas com a volta às aulas.

Salários mais baixos

Como já havia ocorrido nos últimos trimestres, os dados da Pnad mostram como, ainda que haja mais vagas abertas, os salários oferecidos estão em patamar pior do que antes da pandemia.

O rendimento real habitual ficou em R$ 2.613, ainda 7,2% abaixo do mesmo período de 2021 (quando era de R$ 2.788).

O maior pico de rendimento médio da série histórica, ironicamente, foi durante parte da pandemia, mas devido ao pagamento do auxílio emergencial em parte de 2020. O auxílio de R$ 600 (ou R$ 1.200 a mães chefes de família) beneficiou 32% da população brasileira na época.

No todo, a massa de rendimento real habitual (que soma os ganhos de todos os trabalhadores) cresceu 3% desde abril do ano passado.

O crescimento, aponta Mariano, do IBGE, se deve ao maior número de pessoas na forma de trabalho. Mas a média baixa mostra que os salários são baixos — primeiro, devido à inflação, e segunda, pela dinâmica do mercado de trabalho quando o desemprego é alto.

“A taxa de inflação acaba corroendo um pouco a capacidade do poder de compra, esse salário real dos trabalhadores”, explica Mariano, analista do IBGE. “E tem um outro lado mais perverso, da substituição: houve um processo de demissão [com a crise] e um processo de recontratação agora, no qual não há uma recomposição dos salários.”

Cerca de 70% da população brasileira vive hoje com um salário mínimo ou menos, segundo dados anteriores do IBGE sobre o rendimento.

Crise global, desafios brasileiros

O cenário do desemprego, embora em recuperação, mostra parte das diferenças entre a crise inflacionária no Brasil e em países desenvolvidos.

Nos EUA, Reino Unido e União Europeia, a inflação está na casa dos 8%, maiores patamares desde o “choque do petróleo” nos anos 1970. Mas parte das injeções de dinheiro dos governos na economia, entre outros fatores, levaram a um mercado de trabalho amplamente aquecido nos últimos meses com desemprego em baixa histórica. Os EUA, em especial, estão perto do chamado “pleno emprego”, enquanto a União Europeia divulgou também nesta quinta-feira novo recorde negativo de desemprego, que caiu para 6,6%.

Com as boas condições no mercado, trabalhadores tem se demitido em massa e exigido melhores salários. Isso ajuda a explicar parte da inflação vista no país — além, é claro, da crise global na cadeia de suprimentos e preços em alta do petróleo com a guerra, os mesmos problemas que afligem o Brasil.

No Brasil, a inflação se mantém acima de 10% desde setembro passado, mesmo em períodos de desemprego mais alto.

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Para o segundo semestre, há algum nível de preocupação para o mercado de trabalho brasileiro, diante do efeito esperado da alta dos juros (com a Selic hoje em 13,25%, e novo aumento previsto).

Para Filho, do Ibre/FGV, a conclusão é que os dados da Pnad são positivos, e pontos preocupantes, como a informalidade em 40%, são historicamente estruturais da economia brasileira e não exclusivos da crise de hoje. Mas a retomada também deve ser olhada com cautela.

“A expectativa com a alta de juros é de desaceleração da economia no segundo semestre. Pode vir a ser freada com esse pacote do governo no Congresso, com mais renda circulando. Mas isso também levaria a uma ressaca no começo de 2023, com mais juros, ajuste mais forte”, diz. “Para voltarmos a um mercado de trabalho realmente pujante e taxa de desemprego baixa, ainda dependerá de um crescimento mais sustentado.”

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