Márcio de Freitas: Desfazendo a destruição criativa

Por Márcio de Freitas 

O brasileiro gosta de inovar, e aculturar conceitos estrangeiros. Somos macunaímicos por natureza, resistência, rebeldia ou por preguiça mesmo. O economista Joseph Schumpeter deixou um legado consistente na teoria econômica. Sua expressão clássica é de 1942, em “Capitalismo, socialismo e democracia”, quando passou a ser um dos lugares comuns mais citados em trabalhos e artigos econômicos de todo o mundo: “a destruição criativa”. 

Nos últimos tempos, a política nacional tenta desmoralizar o conceito clássico colocando no lugar algo novo: o intervencionismo liberal conservador socializante, ou em outras palavras, destruição repetitiva. Isso porque recorre-se às velhas práticas que já deram errado de várias formas, com diferentes atores políticos, de ideologias antagônicas, sob diferentes regimes, com inúmeros governantes de várias tendências políticas adversárias. 

A resultante sempre foi negativa pois enfrentava um problema grave, ignorar as leis básicas de mercado. Demanda e procura, por exemplo. Schumpeter viveu no tempo em que os veículos automotores surgiram e superaram a tecnologia anterior, os veículos puxados a animais irracionais, os cavalos. As charretes e carruagens logo se tornaram obsoletas diante da comodidade dos carros. Uma tecnologia criativa destruiu o mercado de milhares de pessoas envolvidas com a criação, cuidado e trato dos quadrúpedes. Quase todos fabricantes de charrete perderam seus empregos e muitos milhões de ferraduras deixaram de ser vendidas.  

Na outra ponta, a linha de montagem da Ford vendia milhares de automóveis de qualquer cor que o cliente quisesse desde que fossem pretos, cor do petróleo que alimentava o sonho de consumo que se tornou um estilo de vida. Exemplos atuais de destruição criativa são a internet e o telefone inteligente, que encurtaram distâncias, aposentaram agendas e listas telefônicas e outras ferramentas com a recriação tecnológica. 

A expressão foi usada primeiro pelo economista alemão Werner Sombart em 1913, quando analisou o impacto da guerra e os avanços no capitalismo associados aos conflitos. Mas ficou famosa mundialmente com Schumpeter. A destruição criativa não trata de invenção, mas de inovação. Por vezes, o inventor de uma máquina ou produto não é quem ganha dinheiro ou consegue ter sucesso. 

É por isso que falta à grande maioria dos políticos nacionais o conhecimento básico de certas regras para respeitar a compreensão do processo econômico, o que os impede de serem criativos ou inovadores (o poder também tem regras próprias e não respeitá-las pode ter o mesmo resultado). Reações emocionais e irracionais terão o mesmo sucesso que os donos de charretes tentando impedir o avanço dos carros com muitos cavalos no motor. Assim como a célebre conclusão de que a idade da pedra não acabou por falta de pedras… 

Revogar a lei da oferta e procura de petróleo por decreto, portaria, emenda à constituição não resolverá o problema dos políticos até o mês de outubro. O improviso é ótimo em comédias, quando todos riem porque estão felizes. É péssimo em dramas, e fatal em tragédias. E pode ter efeitos colaterais graves, como alta do dólar, queda de ações nas bolsas. Há até investigações da Comissão de Valores Mobiliários ou da Securities and Exchange Commission (SEC). A SEC surgiu nos Estados Unidos para conter os abusos de especuladores com ações, numa reação de Franklin D. Roosevelt ao crack da bolsa de 1929. 

Nos últimos dias, os legisladores nacionais e alguns políticos temem a queda do poder. Não podem revogar a lei da gravidade, mas tentarão impedir que o voto caia na urna adversária. Apresentam uma criatividade legislativa desmedida, mas que, contaminada pela pressa, pelo atraso, pelo improviso, pode ser mais destrutiva que criativa. Por falta de perceber o problema da inflação, cantado há meses por alguns analistas e observadores econômicos, agora se corre atrás do prejuízo para evitar a quebra monumental de votos na colheita deste ano. 

A essa altura, não adianta buscar o boi no pasto para segurar o preço do churrasco sob a alegação de que neste momento o que interessa “é a picanha, estúpido”. Até porque a querosene de aviação está pela hora da morte e não dá pra enfiar mais essa conta no bolso do contribuinte. 



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