No trimestre terminado em maio, a taxa de desemprego subiu para 12,9% ante os 11,6% registrados no trimestre móvel até fevereiro, levando o contingente de desempregados a 12,7 milhões, um aumento de mais 368 mil pessoas, informou o IBGE nesta terça-feira, 30.
Esse movimento jogou para fora da população ocupada 7,8 milhões de pessoas, uma queda de 8,3% no montante de ativos. Desses, 5,8 milhões eram informais, ou seja, trabalhadores sem carteira assinada ou registro de pessoa jurídica (CNPJ).
De abril a maio, o número de empregados no setor privado sem carteira assinada também caiu, com a saída de 2,4 milhões de pessoas do mercado, o que representa um recuo de 20,8% na força de trabalho do segmento.
Já os trabalhadores por conta própria diminuíram em 8,4%, ou seja, 2,1 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de informalidade caiu de 40,6% para 37,6%, a menor desde 2016, quando o indicador passou a ser produzido, diz o IBGE. A queda numérica no número de informais não é um bom sinal, destaca o instituto:
“Significa que essas pessoas estão perdendo ocupação e não estão se inserindo em outro emprego. Estão ficando fora da força de trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, em material de divulgação.
Pela primeira vez desde desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2012, menos da metade das pessoas com idade para trabahar está ocupada no Brasil. O contingente caiu para 49,5% no trimestre encerrado em maio, um recuo de cinco pontos percentuais em relação ao encerrado em fevereiro.
A taxa de subutilização da mão de obra também bateu recorde, chegando a 27,5%: “ou seja, mais de um quarto dos trabalhadores revelam não ter renda suficientes para dar conta do seu padrãoi de consumo ou necessidades mensais”, nota André Perfeito, da Necton. O número é 4,0 pontos pontos porcentuais maor em relação ao trimestre anterior (23,5%) e 2,5 p.p em relação a 2019 (25,0%).
Esse número engloba 30,4 milhões de pessoas disponíveis para trabalhar mais horas (subocupados) e que desistiram de buscar emprego por acharem que não vão conseguir encontrar (desalentados).
Outro efeito dessa debandada de profissionais da força ativa do país que precisa ser analisado com cuidado é sob a renda dos trabalhadores, que no trimestre atingiu seumaior nível desde o começo da série. A saída de informais (trabalhadores que ganham os menores rendimentos) do mercado acabou jogando para cima o rendimento médio habitual, explica o IBGE. O indicador subiu 3,6% no período, chegando a R$ 2.460.
Privado com carteira assinada
O contingente de empregados no setor privado com carteira assinada (não conta trabalhadores domésticos) também teve uma redução importante na força de trabalho, atingindo o menor nível da série. Foram 2,5 pessoas a menos nesse mercado do trimestre findo em fevereiro até o que terminou em maio, uma queda de 7,5%.
Entre ocupados e desocupados, mas que gostariam de trabalhar, o contingente teve uma queda de 7,4 milhões (-7%), atingindo 98,6 milhões de pessoas em relação ao trimestre encerrado em fevereiro.
Já o número de trabalhadores domésticos, estimado em 5 milhões de pessoas, teve uma queda de 18,9% em relação ao trimestre encerrado em fevereiro. São 1,2 milhão de trabalhadores a menos no mercado de trabalho, diz o IBGE.
Em meio a recordes, porque taxa de desemprego não é recorde?
Em meio a tantos recordes – queda da população ocupada, de desalentados e de subutilizados -, a taxa dedesemprego não é a maior da história. Em abril de 2017, um ano após o fim da última recessão brasileira, chegou a 13,14%.
Já é sabido que, desta vez, as consequências da crise sanitária da covid-19 na economia brasileira serão mais graves do que há quatro anos. Então, por que de desocupação não reflete isso?
Como o economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV, explicou hoje mais cedo nos comentários de um post no Twitter, isso acontece justamente por causa da saída recorde de pessoas da força de trabalho:
“Ou seja, as pessoas estão perdendo o emprego mas desistem de procurar por trabalho. Com isso o desemprego não sobe (lembrando que o desempregado tem que estar procurando por emprego). Mas a população não economicamente ativa dispara”, diz.
Na PNADC de hoje temos vários recordes. Queda da população ocupada é recorde. Desalento é recorde. Taxa de subutilização é recorde. Mas o desemprego não é recorde. Sabe porque? A saída da força de trabalho é recorde.
— Bruno Ottoni (@ottoni_bruno) June 30, 2020
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