Miguel Abuhab: duas empresas do zero e dois IPOs no currículo

A história do empreendedor paulista Miguel Abuhab é marcada por grandes feitos. Em 1978, aos 34 anos, ele criou a Datasul. Com sede em Joinville, Santa Catarina, a empresa pioneira em softwares de controle de produção no Brasil se tornaria a maior companhia de ERP do país e, em 2006, realizaria seu IPO.

Com o dinheiro da abertura de capital, Abuhab patrocinou outro negócio, que nascera em 1999 como um produto da Datasul. Ainda mais disruptiva, a Neogrid até hoje não tem concorrentes nacionais diretos. Em dezembro passado, foi a vez de ele voltar à B3 para realizar a oferta pública inicial de sua segunda empresa. Agora, aos 75 anos.

“Inovar é fazer hoje aquilo que ontem era impensável, de maneira que amanhã seja indispensável”, afirma o executivo, que alcançou um feito raríssimo no Brasil — levar duas empresas do zero à Bolsa de Valores. A frase faz ainda mais sentido se usada para explicar a dupla experiência de Abuhab. “O primeiro IPO foi de uma empresa de ERP, quando já existiam várias no mercado. Agora, poucas empresas no mundo oferecem nosso serviço. É muito inovador”, justifica.

O que a Neogrid fez de revolucionário? Criou uma plataforma na qual empresas de varejo compartilham seus dados de estoque e vendas com empresas de manufatura, que conseguem se organizar para fazer a reposição no ritmo do consumo graças ao uso de inteligência artificial e algoritmos. Isso reduz faltas e excessos de estoque, liberando o caixa das empresas e aumentando o retorno sobre o capital investido.

Como a proposta representava uma mudança de cultura em relação às práticas de mercado, o caminho foi mais longo. “Tivemos de catequizar o mercado varejista para que abrissem seus dados a fornecedores”, conta Abuhab. Mas, hoje, a empresa está consolidada. Tem mais de 750 colaboradores e monitora informações de mais de 40.000 lojas, 130 redes de varejo, 30.000 indústrias e 5.000 distribuidores. Em 2019, sua receita líquida foi de 207,9 milhões de reais e o lucro líquido de 8,7 milhões de reais.

E são os próprios clientes os incentivadores da abertura do capital da Neogrid, pois querem levar a tecnologia para outros países onde atuam. Com sede em Joinville, a empresa tem escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Miami (Estados Unidos) e Amsterdam (Europa).

Talvez isso explique o sucesso do IPO da Neogrid, que captou 486,45 milhões de reais. A empresa fixou preço de 4,50 reais por ação, que será negociada no Novo Mercado com o ticker NGRD3. O Fundo Zaphira, dos controladores, manteve mais de 50% da empresa e deterá o controle.

Do total captado na bolsa, 337,5 milhões de reais vão para o caixa da Neogrid. A maior parte dos recursos (80%) será aplicada no crescimento inorgânico — fusões e aquisições para ampliar a base de clientes e a receita corrente, além de fornecer produtos e serviços complementares. “Nosso objetivo é expandir o negócio no varejo internacional”, indica Abuhab. Atualmente, 25% do faturamento da empresa já vem do exterior.

Os outros 20% do aporte financeiro serão investidos em pesquisa e desenvolvimento, marketing e vendas para impulsionar seu crescimento orgânico. “O plano é fazer a empresa crescer, entregar resultados e gerar emprego”, aponta o executivo. “Queremos contribuir com a economia e com jovens que buscam emprego e querem contribuir para um mundo melhor”.

É com essa gana que Miguel Abuhab ainda encontra tempo para defender outras duas frentes bem diferentes, mas não menos importantes para ele. A primeira é o Instituto Miguel Abuhab (IMA), uma organização sem fins lucrativos voltada para o ensino da Teoria das Restrições em escolas.

“A ideia é desenvolver nas crianças um raciocínio lógico e ensiná-las a pensar e a tomar decisões por si mesmas”, explica. Hoje, há uma rede de 30 voluntários da Neogrid em Joinville responsável por formar 200 professores da rede municipal que replicaram o conhecimento para mais 5.000 crianças.

Em outra frente, Abuhab criou um Plano de Simplificação Tributária para o Brasil, base para o relatório da reforma tributária do ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly, aprovado em 2018 na Câmara dos Deputados.

Ele prevê um modelo de cobrança simples e automática na transação financeira que busca eliminar sonegação, inadimplência, informalidade e corrupção. “As alíquotas de imposto no Brasil são altas porque muitos não pagam”, justifica o executivo, que escreveu o livro Devo, não nego, pago quando receber! para explicar a ideia por trás da simplificação tributária.

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