Muito além de “desatolar” navios: o que o setor de dragagem faz?

O conceito de “dragagem” ganhou certa popularidade a partir do caso recente envolvendo o navio entalado no Canal de Suez — quem não viu um meme da pequena escavadeira ao lado do gigante empacado que atire a primeira pedra. Mas, o setor de dragagem está longe de representar somente uma alternativa para esse tipo de emergência. Seja no famoso canal a mais de 10.000 quilômetros ou aqui, é esse segmento o responsável por garantir a “limpeza” (em termos simplistas) dos locais para onde os navios vão para embarcar ou desembarcar. Não é algo simples: o Porto de Santos (que movimenta 40% dos contêneires no Brasil) recebe 1 metro de sedimentos por ano. 

Para ter uma ideia, 1 centímetro já faria diferença em relação à capacidade de carga e descarga nos portos: aumentando o calado (medida de profundidade para receber navios) nessa medida, é possível carregar de 112 a 115 contêineres a mais por navio, segundo Cláudio Loureiro de Souza, diretor executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave).

Trabalhar dentro desse segmento também é um desafio. Sem contratos de longo prazo (o maior, segundo fontes ouvidas pela EXAME, atualmente, é de cinco anos), fato é que o setor deixa de ser atrativo para se consolidar com empresas 100% nacionais. 

Atualmente, apenas uma empresa totalmente brasileira ganhou espaço nesse tipo de licitação: a DTA Engenharia Portuária e Ambiental, que, nos últimos oito anos, fez a dragagem de 100 milhões de metros cúbicos em outras palavras, 65 estádios do Maracanã cheios até o teto. Em 2020, a empresa cresceu 10% em relação ao ano anterior.

Veja abaixo os principais pontos sobre esse setor — e como ele pode se desenvolver ao longo dos próximos anos, por meio de um bate-papo com João Acácio Gomes de Oliveira, presidente da DTA Engenharia.

EXAME: Como é estruturado o processo de dragagem pelos portos?

João Acácio: Todos os portos arrecadam um valor em função de tonelada de carga ou de contêiner para fazer a dragagem. Quem paga pela dragagem não é o governo, não é a gestão do porto, é a própria carga. Se você vai construir sua casa e vai importar mármore de carrara da Itália e você trouxe um contêiner, você vai pagar, hipoteticamente, quatro reais por tonelada para fazer a dragagem do porto.

O que ocorre é que a dragagem é contínua. E no Brasil nunca foram feitos contratos de longo prazo: o comum é encontrar os contratos de um ano, dois, até três anos. E todo o processo licitatório é sempre muito demorado, demanda tempo, sendo que às vezes até toma caminhos judiciais, por brigas entre as próprias empresas licitantes. 

Mas, agora, percebemos que o governo está determinado a privatizar a dragagem, como consequência da privatização dos portos. O primeiro porto a ser privatizado no Brasil deve ser a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), que já está em fase de pré-licitação. 

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