“Não crescemos de verdade há pelo menos 40 anos”, avalia economista

O resultado final do Produto Interno Bruto que será divulgado pelo IBGE nesta quarta-feira (3), deve confirmar uma queda de pelo menos 4% na produtividade brasileira. Sem o auxílio emergencial, esse tombo seria ainda maior – pelo menos o dobro, segundo este estudo da USP. Ao mesmo tempo, as perspectivas de avanço da agenda liberal do governo Bolsonaro, capitaneada pelo agora ex-super-ministro Paulo Guedes, são minadas a cada dia pelas velhas práticas populistas do universo político de Brasília.

Para o economista Paulo Pereira Miguel, sócio e diretor de Investimentos do Julius Baer Family Office, desde a aprovação do Teto de Gastos, em 2018, as discussões que deveriam estar sobre a mesa, como a reforma tributária e diversos cortes de gastos, não aconteceram – pelo menos não na velocidade necessária para garantir a eficiência do teto. Miguel, entretanto, discorda dos seus colegas que defendem uma revisão do atual regime fiscal no curto prazo

“Não me parece que há uma necessidade iminente de corrigir o teto agora. O certo mesmo é fazermos algumas escolhas duras e deixar para revisar o teto em 2026, conforme programado”, explicou o economista em entrevista à EXAME. “E, na verdade, se tivermos bons gatilhos, bater no teto pode até ser positivo, porque dispara os gatilhos. Precisamos disso para ter um ajuste.”

Miguel defende a tramitação da PEC 45 como a grande prioridade do país neste momento, deixando uma discussão mais profunda sobre regime fiscal brasileiro para, pelo menos, 2022 – e vê nas desonerações uma importante fonte de recursos para o orçamento federal. Esse plano, entretanto, esbarra na cultura de priorização das pautas setoriais em detrimento das coletivas. E, principalmente, na falta de liderança no país.

Leia abaixo a entrevista completa:

Falta gente que tenha uma visão de país, uma visão de que se não fizermos escolhas fundamentais, não vamos sair do lugar. São poucas decisões sistêmicas, mas que têm um grande impacto. Mas, para isso, é preciso de liderança, diagnóstico. E o diagnóstico está posto. Todos sabemos que precisamos de uma reforma tributária nessa direção. E aí começamos a coletar um pouco de crescimento e as coisas mudam. Falta convicção e liderança, mais do que tudo. O estado precisa funcionar. As empresas precisam produzir. Precisamos pagar imposto de uma maneira simples.

Paulo Pereira Miguel, sócio e diretor de Investimentos do Julius Baer Family Office

EXAME: Ao que tudo indica, o auxílio emergencial será estendido fora do teto de gastos. Como o mercado avalia esse “furo”?

Paulo Pereira Miguel: No ano passado, o grande temor era que se criasse um programa permanente gastando R$20 ou R$30 bilhões a mais por ano. A discussão agora é outra. Se tiver que ser extra teto, será algo temporário e contido. Algo em torno de R$200 reais, por três meses, o que dá menos de 0,3% do PIB – enquanto antes se falava de 1% ou mais. Portanto, eu não acho há um rompimento retórico do teto, mas uma excepcionalidade da segunda onda que, se for contido e envolver um compromisso de reforço do teto a médio prazo, será palatável para os agentes envolvidos.

Alguns economistas defendem o aumento do gasto social durante a pandemia, inclusive a partir de uma revisão do teto de gastos. Qual a sua opinião sobre isso?

Eu discordo frontalmente da revisão do teto. Vejo muitos chutes, dizendo que o teto impede que se faça isso ou aquilo mas, na verdade, ele impede que a nossa dívida exploda. O teto pode não ser a melhor regra, inclusive acho que ele deve ser aperfeiçoado ao longo do tempo, mas é preciso estabelecer critérios fiscais que sejam críveis e indiquem uma trajetória de solvência a médio prazo. Vamos abandonar o teto para colocar o que no lugar dele? O fato é que nos temos um endividamento crescente, um dos maiores entre os emergentes, e regras fiscais que a médio prazo não sugerem solvência. O teto é a única referência de longo prazo que temos nesse sentido.

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