Navio encalhado no Maranhão pode agravar crise de imagem da Vale

Tempestade perfeita é uma expressão que os economistas gostam muito de usar. E se há uma empresa, hoje, que se encaixa exatamente nessa condição é a Vale. Além dos desdobramentos das tragédias com barragens de rejeitos, a mineradora terá de enfrentar mais um desafio: evitar que o navio encalhado no Maranhão com minério de ferro da companhia traga prejuízos adicionais a sua imagem e, em última instância, ao caixa da empresa.

Há duas semanas, o navio Stellar Banner, que pertence à sul-coreana Polaris Shopping, encalhou após uma manobra do comandante, que teria detectado fissuras no casco. A embarcação transportava 295 mil toneladas de minério de ferro da Vale e tinha como destino o porto de Qingdao, na China.

A primeira grande preocupação da Vale é sobre um possível vazamento de óleo, o que causaria um enorme problema ambiental – e mais um prejuízo à imagem da companhia. Em nota, a mineradora informa ter solicitado à Petrobras navios específicos para contenção de “eventual vazamento de óleo”.

Além disso, a mineradora espera obtenção junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de autorização formal para o deslocamento da embarcação para a costa do Maranhão. Por fim, a Vale destaca ter contratado empresas especializadas em salvatagem, adicionalmente àquelas contratadas pela Polaris, para apoiar o plano de retirada do óleo da embarcação.

Segundo nota enviada pela Polaris, o resíduo de óleo inicialmente encontrado ao redor do navio “já dispersou e as barreiras de contenção instaladas de forma preventiva serão removidas, conforme alinhamento com a Marinha e o Ibama”.

O plano de resgate do óleo, que precisa ser revisado pela Marinha, deve ser colocado em prática nas próximas semanas caso autorizado. Com cooperação da própria Vale, espera-se a retirada de cerca de 3.500 toneladas de combustível e 140 toneladas de diesel.

Carga

Outro risco ambiental é um possível depósito de minério de ferro em caso de naufrágio do Stellar Banner. “A Vale provavelmente deve ajudar a retirar a carga porque, se houver um naufrágio, a mineradora pode ser demandada na Justiça”, avalia Terence Trennepohl, sócio do Trennepohl Advogados, pós-doutor pela Universidade Harvard e autor de livros na área ambiental.

Segundo ele, a Vale pode ter de pagar reparação no caso, já que o navio encalhou em uma área de manguezal. “Embora a mineradora não seja dona da embarcação, ela pode arcar com algum tipo de responsabilidade solidária”, pondera o especialista.

Ele ressalta, porém, que dificilmente o Ibama ou outros órgãos, como a secretaria de meio ambiente do Maranhão, deve multar a Vale, o que reduz os impactos do incidente no balanço da empresa.

Em nota, o Ibama informou que a prioridade “é acompanhar a retirada de poluentes que permanecem armazenados no navio” e que ainda não há conclusão definitiva sobre eventuais multas a serem aplicadas.

Sandra Peres, analista da Terra Investimentos, afirma que ainda é cedo para mensurar possíveis impactos financeiros decorrentes do caso. “Como as mineradoras sempre trabalham com seguro, provavelmente o prejuízo será mitigado”, diz. “De qualquer forma, o episódio não é tão bom para a Vale, principalmente pela questão de imagem.”

A analista considera que, a depender do contrato firmado com o cliente na China, a Vale pode se ver obrigada a fazer algum tipo de ressarcimento pela carga não entregue. “Se houver uma demora muito grande para resolver o problema, a empresa terá que anunciar os valores do prejuízo.”

Reincidente

Essa não é a primeira vez que um navio da Polaris, carregado de minério da Vale, apresenta problema. Em 2017, o Stellar Daisy naufragou no Oceano Atlântico após ter sido carregado no terminal da Ilha de Guaíba, Rio de Janeiro, que pertence à Vale.

A embarcação transportava 260 mil toneladas de minério de ferro da mineradora brasileira e tinha como destino final a China. Os corpos de 22 tripulantes nunca foram encontrados. Ainda não há conclusão oficial sobre as causas do acidente.

Segundo Terence Trennepohl, caso fique comprovado que executivos da Vale sabiam de algum tipo de problema nos serviços prestados pela Polaris, a mineradora poderá até responder a processos nas esferas cível, administrativa e penal. “Mas isso é pouco provável, porque em tese a empresa precisa atender a todas as normas internacionais.”

Página virada?

Passado pouco mais de um ano do desastre de Brumadinho, a Vale está próxima de recuperar o valor de mercado perdido no período. Ao longo dos últimos meses, o mercado financeiro tem ressaltado o cenário positivo para a companhia.

Em janeiro, analistas do Bradesco BBI apontaram, em relatório a clientes, sobre a “máquina de fazer dinheiro” que a mineradora se transformou no último ano, principalmente diante da disparada dos preços do minério de ferro – decorrente justamente do desastre de Brumadinho.

Na última terça-feira, 03, analistas do banco Morgan Stanley elevaram a recomendação dos papéis da Vale negociados em Nova York (ADRs), salientando que as ações estão “muito baratas para ignorar”.

“Vemos forte geração de fluxo de caixa e o aprimoramento das práticas ESG [ambiental, social e de governança corporativa] como dois importantes fatores de reavaliação. Esperamos que os dividendos sejam retomados no segundo semestre do ano”, afirmaram analistas no relatório.

Sobre as denúncias envolvendo a mineradora e seus executivos na Justiça de Minas Gerais, o relatório destaca que a situação “já está precificada”.

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