O que Salles pensa sobre Ibama, madeireiros e doação dos EUA na Amazônia

Poucas vezes um ministro do Meio-Ambiente ocupou tanto o foco do debate político como o paulistano Ricardo Salles. Fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro, Salles não guarda meias-palavras para criticar ambientalistas – e parte da imprensa, que considera alinhada a ONGs e à esquerda.

O ministro voltou a ser notícia nesta quarta-feira: investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Salles, pediu demissão ao presidente Jair Bolsonaro. O ato de exoneração foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).  No lugar de Salles, entrará o atual Secretário da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta, Joaquim Álvaro Pereira Leite.

O ministro recebeu EXAME para uma entrevista exclusiva na sede do Ibama em São Paulo, em meados de maio — antes, portanto, da operação da Polícia Federal e de sua posterior demissão. Mas toca nos pontos polêmicos que, segundo a Polícia Federal, incitaram a operação de busca e apreensão.

Egresso da classe média paulistana, Salles nunca escondeu o desejo pela política: em 2018, foi candidato a deputado federal, pelo partido Novo, do qual acabou se desligando em 2020. Antes disso, exerceu o cargo de secretário de meio-ambiente do Estado de São Paulo em 2016 e 2017, na gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Jogador de tênis nas horas vagas, Salles rebate pontualmente as críticas que recebe. Em meio ao aumento do desmatamento na Amazônia, que bateu mais um recorde em abril, quando atingiu 778 quilômetros quadrados, o pior resultado em dez anos, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à repórter Carla Aranha, de EXAME.

Como ficou a questão da recomposição orçamentária do Ministério do Meio Ambiente, que era primordial para as ações de fiscalização?

Foi autorizada a recomposição dos 370 milhões de reais, que vai ser publicada essa semana. Uma novidade é que vamos abrir um concurso no Ibama, para repor os quadros que estão faltando. Serão contratados 1 mil funcionários. O déficit é maior, é de quase 3 mil. Mas não temos recursos para contratar todos os 3 mil. É um bom começo.

Com isso, vai ser possível duplicar os recursos para a fiscalização ambiental, como tinha anunciado o presidente Jair Bolsonaro?

Sim, está autorizado.

Mas chega a duplicar os recursos para fiscalização?

Sim, para fiscalização, duplica. Eram 120 milhões de reais e agora serão 370 milhões.

O senhor acaba de chegar de uma viagem de uma semana à floresta amazônica no Pará. Qual foi o objetivo dessa missão?

O Pará é a região que concentra o maior desmatamento do Brasil. Entre os 11 municípios que mais desmatam no Brasil, cinco estão no Pará, no eixo onde nós fomos, de Itaituba até Altamira. Nesse eixo, há muitas atividades ilegais. Com o término da operação Verde Brasil, montamos uma operação com a Força Nacional, Ibama e ICMBio, que estão atuando lá há cerca de 20 dias. Os índices de desmatamento na região vêm caindo porque há uma presença maciça desses agentes.

Foi uma boa ideia ter acabado com a operação Verde Brasil?

O problema é que as Forças Armadas não foram feitas para fazer esse tipo de atividade. Eles cumpriram esse papel de garantia da lei e da ordem porque os estados não colocaram suas polícias militares para desempenhar essa função. O governo federal então se viu obrigado a colocar as Forças Armadas. Mas não dá para ficar utilizando essas forças indefinidamente.

Mas o resultado dessa operação foi bom, não? Não houve uma redução de alertas de desmatamento?

O resultado foi positivo, mas teve um custo financeiro alto e de certa maneira é um desvirtuamento da função das Forças Armadas.

Mas não há um problema relativo à atuação do crime organizado na Amazônia, com ligação com o desmatamento?

Tem, muito. Tanto na parte de garimpo ilegal como na de desmatamento, há um contingente muito grande de pessoas muito simples que são contratadas por um grupo pequeno de mandantes. Qual é a atuação que deve ser feita? Contra os mandantes, é uma atuação da Polícia Federal. Para quem está lá na ponta, que não é o mandante, a fiscalização dos órgãos ambientais é importante.

Mas é importante também dar uma alternativa de renda para as pessoas da região. Os líderes (do crime organizado) conseguem mão de obra para trabalhar para eles porque essas pessoas não têm alternativa. Temos que coibir a atividade ilegal na ponta, mas também temos que dar alternativa de renda para a população local.



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