Apesar de negativo, o PIB de 2020 superou as expectativas do mercado – que já não eram tão altas assim. Enquanto países primos do Brasil registram retrações na casa dos dois dígitos, como Argentina e México, por aqui o Produto Interno Bruto recuou “apenas” 4,1%, pouco abaixo dos Estados Unidos, que caiu 3,5%.
“Apesar de ser uma queda forte, no final das contas o resultado não foi tão ruim quanto parecia ser, principalmente se levarmos em conta a maneira como o Brasil enfrentou a pandemia”, explica Juliana Inhasz, coordenadora do curso de economia do Insper. “Gastamos menos que outras grandes economias, as medidas de isolamento não foram tão bem implementadas… Dentro desse contexto, está saindo um preço justo, dentro do esperado.”
O resultado do último trimestre também surpreendeu. Enquanto o mercado projetava uma alta por volta de 2,8%, o número final ficou em 3,2%, puxado pelo consumo das famílias, ainda sob os efeitos do auxílio emergencial, e dos serviços. Essa alta cria um carrego estatístico para 2021 que, supostamente, facilitaria um cenário de recuperação neste início de ano.
“Se no 1º semestre eu ganho R$100 por mês e, no segundo, R$120, o meu salário médio no ano é de R$110 reais. No ano seguinte, ainda que o meu salário continue em R$120, a minha média salarial anual sobe para R$120 – um ganho em relação à média anterior. Isso é o carrego estatístico: ao terminar o ano em alta, a média contra média fica positiva”, explica Étore Sanches, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Para Sanches, essa perspectiva boa trazida pelo carrego pode se deteriorar com elementos que destruiriam o capital para além do esperado, como um agravamento da pandemia ou um grande atraso na vacinação – exatamente o que está acontecendo agora, quando recordes de mortes contrastam com números pífios de vacinação.
“O aumento da circulação de pessoas reativa os serviços e joga a variação do PIB para cima. Foi o que aconteceu no 4º trimestre, também por conta das rendas extras de final de ano. Mas vemos agora que isso foi um movimento pontual. E essa expectativa de melhora da economia deve ceder”, analisa Inhasz. “Colocamos as fichas em eventos que não eram tão sólidos, e isso cria essa percepção distorcida.”
Pesquisadora sênior do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Silva Mattos concorda com Juliana, e espera algum sinal de recuperação econômica apenas no segundo semestre, caso o caos atual já seja o pico da segunda onda e o ritmo de vacinação acelere. “Ainda assim, digo isso com muita incerteza, porque vivemos um momento de muitas políticas econômicas populistas que pioram as condições financeiras no curto prazo e as projeções para o pós-pandemia”, explica ela, avaliando que o governo foi demasiadamente otimista ao apostar na recuperação em V.
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