Quais as saídas para o Brasil com recorde em desemprego e informalidade?

Quando a empreiteira Queiroz Galvão foi atingida pelas investigações da Operação Lava Jato, em 2016, o engenheiro Paulo Carvalho foi convocado a voltar da China para o Brasil. Especializado em suprimentos, ele era a interface da empresa com os fornecedores estrangeiros e foi demitido logo após a construtora entregar as duas últimas plataformas de petróleo que forneceu à Petrobras. À época com 59 anos, Carvalho imaginou que, muito por conta da idade, se recolocar no mercado seria difícil. Mas não tanto.

“Assim que voltei ao Brasil, comecei a procurar emprego através de amigos e empresas que conhecia mas, muito por conta da idade, a maioria absoluta nem chegou a me responder”, explica o engenheiro, que também foi professor universitário e, em décadas de carreira, nunca havia passado pelo desemprego.

Sem oportunidades na sua área de atuação, Carvalho consumiu boa parte de suas economias e, passado um ano após a perda de emprego, se tornou motorista do Uber. Há dois meses, porém, sua situação se agravou: ele foi assaltado e aguarda o pagamento do seguro do carro para voltar a rodar.

O engenheiro é um dos milhões de brasileiros que enfrentam as agruras de um mercado de trabalho enfraquecido desde a crise de 2015 – e que sofreu novo baque com a pandemia. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta semana, mostram que a taxa de desocupação da população é de 14,2% – o que equivale a 14,3 milhões de pessoas.

Mas esse é apenas uma parte do problema. A população subutilizada – indicador que considera os que estão desempregados, os que trabalham menos horas do que poderiam ou os que não procuram emprego mesmo estando disponíveis – soma 32,4 milhões de pessoas, número 22% superior ao do mesmo período do ano passado. É o equivalente à soma dos habitantes do Rio de Janeiro e de Pernambuco, ou quase a força de trabalho inteira da vizinha Argentina.

De acordo com relatório do economista Arthur Mota, da EXAME Invest Pro, o nível de ociosidade no país segue elevado. “De fato, temos uma taxa de desemprego de aproximadamente 21% nesse primeiro trimestre no Brasil. Esse é o principal indicador que motivou nova rodada do auxílio emergencial dada a piora da pandemia”, diz Mota. O benefício volta a ser concedido, em valor reduzido, no dia 6 de abril.

Outro número que revela a precariedade do trabalho é o número de brasileiros que estão no mercado informal: os 34 milhões de cidadãos na informalidade representam quase 40% da população ocupada.

“Como o emprego formal no Brasil é muito caro, é natural que, numa recuperação econômica, os informais apareçam primeiro. Isso aconteceu nos anos de 2017 e 2018 e está acontecendo agora”, explica o economista Renan Pieri, da Fundação Getúlio Vargas. “Isso é ruim, porque o trabalho informal paga menos, é mais volátil, não oferece seguridade social… Mas, em um momento como esse, qualquer emprego gerado é notícia boa.”

 

 (Montagem com fotos pessoais/Exame)

Rafaela Fernandes e Paulo Carvalho: os desafios de quem procura emprego no país 

Foi o que pensou a também engenheira Rafaela Fernandes, 25, que foi demitida da construtora em que trabalhava logo após o início da pandemia no Brasil. Um emprego temporário ajudou a segurar as pontas por alguns meses, mas Fernandes acabou dependendo da ajuda dos pais para se manter por outros seis, até conseguir um novo trabalho, semanas atrás. Mas, diferente do que ela esperava, o novo emprego é “PJ”, ou autônomo – a mesma categoria de Carvalho.

“Apesar da construção civil estar indo bem e oferecer muitas vagas, ao mesmo tempo são muitos concorrentes para cada uma delas”, conta Fernandes, que estima que apenas 40% dos seus colegas de faculdade, formados em 2018, exercem a profissão para a qual se prepararam. “Ainda na época de estágio, exigiam muita experiência até mesmo para quem não era formado. As exigências continuam, mas como não houve oportunidade no passado, as possibilidades ficam cada vez mais restritas.”

O novo trabalho da engenheira faz parte dos 401,6 mil postos de trabalhos abertos em fevereiro, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Divulgado um dia antes dos dados do IBGE, o número foi comemorado pelo governo como o melhor mês de janeiro da série histórica, iniciada em 1992.

“Temos que admitir que a economia, do ponto de vista do mercado formal, está se recuperando em altíssima velocidade, o que mostra que o Brasil está no caminho certo da recuperação da atividade econômica”, disse o ministro Paulo Guedes, da Economia, ao anunciar o resultado. À comemoração de Guedes, entretanto, cabem ressalvas.

Uma mudança de metodologia na captação dos dados do Caged mostra uma fotografia diferente daquela capturada pelos dados do IBGE. Desde 2020 o cadastro passou a incluir em sua base de dados o eSocial, sistema que unifica registros fiscais, previdenciários e trabalhistas tanto de trabalhadores formais quanto de servidores públicos, autônomos, trabalhadores eventuais, estagiários e até domésticos. Com a nova metodologia, que inclui muito mais gente em sua base, o número final fica inflado, impossibilitando a comparação com períodos anteriores a 2020.

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