Receita libera vacina em tempo recorde e vira case global da Pfizer

Da fábrica de Kalamazoo, nos Estados Unidos, até o aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, as vacinas contra a covid-19 da Pfizer viagem cerca de onze horas entre um voo doméstico e outro internacional, além do tempo nas etapas burocráticas para despacho da carga cobiçada por milhões de pessoas.

Mas quando o avião com 1.000.350 doses de vacinas pousou em solo brasileiro na noite de terça-feira, 20 de julho, foram necessários apenas 17 minutos para descarregar as caixas térmicas com as doses da aeronave, movimentá-las dentro do terminal de cargas de Viracopos e acondicioná-las no caminhão refrigerado que iria transportar os imunizantes para o centro de logística do Ministério da Saúde.

Uma parceria inédita entre a Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, aeroporto de Viracopos, e a Pfizer/BioNTech fez com que o tempo de desembaraço da carga caísse de seis dias para no máximo 30 minutos.

A velocidade limite é tratada como um case global de logística dentro da farmacêutica americana, que desde o dia 20 envia cargas diárias com 1 milhão de doses de vacinas, que irão totalizar 13 milhões de unidades entregues ao longo de 13 dias.

Lucila Mouro, diretora de vacinas da Pfizer Brasil, diz que tem sido procurada por outras unidades da empresa ao redor do mundo para compartilhar a experiência do processo de entregue no Brasil. A título de comparação, em outros países essa liberação chega a levar dias.

“O despacho aduaneiro tem sido um case global por termos conseguido reduzir em dez vezes o tempo normal de operação. Certamente algo que poucos países estão conseguindo fazer, então, estamos sendo convidados a explicar como é este processo rápido, que é algo que outros governos também buscam”, diz Lucila.

A principal alteração foi feita no processamento de documentos por parte da Receita Federal, uma iniciativa da equipe de servidores em Viracopos, como explica Emanuel Henrique Boschetti, chefe da divisão de despacho aduaneiro do aeroporto de Campinas.

O modelo adotado para a redução do tempo é similar ao que a Receita Federal usa no desembaraço de cargas marítimas. A diferença é que os navios levam meses para chegar ao Brasil, enquanto os aviões demoram apenas horas.

“No início da pandemia, a Receita fez uma série de adequações para o despacho de importação de insumos médicos. Esse processo envolve a liberação das cargas de combate à covid-19, como luvas, máscaras, respiradores, testes, e também as vacinas”, afirma.

Avião da UPS chegando de Miami com vacinas da Pfizer no aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Avião da UPS chegando de Miami com vacinas da Pfizer no aeroporto de Viracopos, em Campinas. (Leandro Fonseca/Exame)

O grande diferencial é que a declaração de importação, que normalmente só é feita quando a carga chega em solo brasileiro, é realizada antes mesmo do avião decolar. Com essa antecipação, o documento é analisado em poucas horas, enquanto o voo ainda está no ar. A Receita Federal também dispensou alguns processos, como a pesagem da carga e a contagem dos itens.

Boschetti destaca que já foi procurado por outros aeroportos brasileiros, como os de Guarulhos e de Recife, para implementar o mesmo processo. A Receita também pretende levar esse processo a outras cargas, não somente as relacionadas à covid-19.

Megaoperação

A reportagem da EXAME acompanhou a chegada do primeiro lote da superentrega de 13 milhões de vacinas da Pfizer. Toda a operação envolveu Receita Federal, a equipe do aeroporto e a UPS – a transportadora utilizada no dia – com um único objetivo de desembarcar os imunizantes no menor tempo possível.

O avião vindo de Miami, de onde saem todas as cargas com destino à América Latina, levou pouco mais de oito horas para apontar no céu de Campinas. Eram 22 horas e 20 minutos quando a aeronave tocou no solo. Em cinco minutos o avião já estava fazendo o processo de taxiamento e abertura das portas.

Então começou uma verdadeira corrida contra o tempo – devidamente cronometrada – para retirar as 1.000.350 doses, que estavam acondicionadas em três contêineres. Toda a operação envolveu mais de 50 pessoas, e as vacinas foram retiradas do avião cargueiro de forma prioritária – há outras cargas no mesmo voo.

Depois, foram transportadas por dentro do terminal de cargas de Viracopos até o caminhão da UPS. Cada contêiner era aberto e as caixas térmicas – criadas especialmente pela Pfizer para acondicionar as vacinas a temperaturas ultracongeladas – foram transferidas por uma equipe de cerca de 30 pessoas. Uma a uma, as embalagens foram enchendo o baú do caminhão.

Porta fechada, e o cronômetro parou: 17 minutos. O tempo, digno de medalha olímpica, foi comemorado e emocionou a todos, inclusive o motorista do caminhão, Paulo Sérgio Silva da Mota, de 46 anos, que fez o transporte das primeiras vacinas da Pfizer até o centro de logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo. “Parte da minha família tomou a vacina da Pfizer e eu sinto que estou salvando vidas”, disse com a voz embargada.



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