Seis economistas dizem o que é possível fazer contra a inflação

A inflação, que atingiu 10,25% no acumulado em 12 meses até setembro, é um dos principais desafios da economia brasileira. Generalizada, a alta de preços deixa a população mais pobre. Mas a avaliação que o governo tem feito é de que se trata de uma situação quase inevitável. Em sua mais recente live semanal, na quinta-feira passada, o presidente Jair Bolsonaro disse que a inflação é um problema global e convocou quem o critica a apresentar soluções.

O pedido veio acompanhado da tentativa de relativizar a carestia que o País enfrenta. Munido de uma extensa lista – de alimentos básicos ao papel higiênico -, mostrou que o americano paga mais pela batata, óleo de soja e carne, por exemplo, do que o brasileiro. “Está reclamando que está alto aqui? Lá também está. Essa crise é no mundo todo. Não é só no Brasil”, afirmou, sem deixar de culpar pela disparada da inflação a política do “fique em casa”, adotada por governadores e prefeitos para conter a pandemia.

Anteontem, em entrevista à CNN nos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também afirmou que o problema da inflação é global, e que no Brasil metade da alta dos preços está concentrada em energia e alimentos.

Realmente, há um aumento global da inflação, mas a situação é muito pior no Brasil. Enquanto a alta dos preços em 12 meses por aqui passa dos dois dígitos, a média nos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 4,3%.

O Estadão ouviu seis economistas para responder ao pedido de Bolsonaro. Para eles, o governo teve papel fundamental no descontrole dos preços e pode ter também na retomada da normalidade – principalmente tratando as contas públicas com responsabilidade. A seguir, leia as receitas dos economistas para atacar a inflação.

Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria

A surpresa tem sido negativa quando se fala em inflação nas principais economias do mundo e especialmente no Brasil. Há elementos que são comuns aos países, mas há fatores domésticos que potencializam a inflação, gerando custos importantes à sociedade brasileira, em especial nos segmentos de mais baixa renda. Muito poderia ter sido feito para se evitar esse quadro.

Parte dessa inflação decorre da pandemia e seus efeitos. No Brasil, há elementos específicos que potencializam a inflação: questões climáticas (estiagem e geada) e percepção de risco elevada diante do quadro fiscal e político/institucional. A desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas e à manutenção das regras do jogo do ponto de vista institucional elevam a percepção de risco dos agentes econômicos e consequentemente afetam a precificação de ativos financeiros, como a taxa de câmbio. Pelo canal do câmbio, o aumento dos preços é magnificado no mercado doméstico.

O real tem se mantido descolado de seus principais fundamentos. A explicação é que há um componente de risco que os mercados embutem na precificação que não está sendo captado pelos modelos. Ou seja, com sinais e medidas de responsabilidade na condução das contas públicas e respeito às regras do jogo institucional uma boa parte da inflação poderia ter sido evitada.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos

A melhor ação de combate à inflação hoje ao alcance do presidente seria reforçar o compromisso com o teto de gastos constitucional, após a modificação necessária para acomodar os pagamentos de precatórios no ano que vem. Isso implicaria limitar o aumento dos programas sociais ao espaço aberto sob o teto de acordo com o atual conteúdo da PEC em tramitação na Câmara dos Deputados.

Devolver a previsibilidade às contas do governo até as eleições provavelmente faria com que o real se valorizasse significativamente, automaticamente reduzindo o preço dos produtos que têm cotação em dólar (combustíveis, boa parte dos alimentos e outros bens industrializados) e aliviando a inflação. O preço atual em dólares do barril de petróleo (cerca de US$ 83) está no mesmo patamar que em setembro de 2018; só temos hoje a gasolina mais cara da história porque a taxa de câmbio, que era R$ 4,05 por dólar à época, hoje está em R$ 5,50, em grande medida por conta da turbulência política e fiscal causada pelo próprio governo.



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