Sem retomada: PIB mostra que Brasil segue preso ao baixo crescimento

O Brasil está oficialmente em recessão técnica, segundo os números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre divulgados nesta quinta-feira, 2. A queda de 0,1% na economia entre julho e setembro confirmou o cenário, que acontece, pela teoria econômica, quando há recuo no PIB em dois trimestres consecutivos.

Na prática, no entanto, os problemas que ficaram escancarados nos números baixos do PIB já estavam aí há muitos meses, da inflação ao desemprego alto e falta de confiança para investimentos.

“O conceito de recessão técnica decorre de uma convenção estatística, mas seu significado econômico é muito relevante: a recuperação em 2021 de fato perde muito da sua força”, diz o economista André Biancarelli, diretor do Instituto de Economia da Unicamp.

“Os números fechados do ano – que serão expressivos, muito provavelmente acima de 4% – decorrerão em essência da baixíssima base de comparação de 2020.”

Embora haja uma deterioração global das expectativas, com inflação subindo em países desenvolvidos e choques de oferta, o Brasil tem tido alguns dos piores resultados econômicos do mundo.

Em análise da Austin Rating, o PIB brasileiro no terceiro trimestre ficou somente em 26º em uma lista de 33 países. Países vizinhos como Chile, Colômbia e Peru cresceram mais de 3% ou até 5% (veja o ranking).

Neste trimestre, pesaram na queda do PIB brasileiro as exportações e contribuição negativa do agro, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Para o quarto e último trimestre do ano, entre outubro e dezembro, há sinais negativos vindos da alta de juros e do comércio ainda em atividade abaixo das expectativas, apesar da reabertura econômica sustentada pela vacinação.

Não é novo que o Brasil tem crescido menos do que outros países. No ano passado, este cenário já ocorreu, lembra Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados – ainda que o IBGE tenha revisado, também hoje, a queda do PIB de 2020 de 4,1% para 3,9%. 

“Para 2022, será ainda pior, com o mundo crescendo 4,5% e o Brasil, zero ou 1%”, diz Vale. A projeção da MB até agora é de crescimento zero do PIB no ano que vem.

A OCDE, clube dos países ricos, escreveu em relatório que teme uma recuperação pós-covid “desigual” no mundo, o que pode atrapalhar a competitividade futura entre os países e intensificar a pobreza.

No caso do Brasil, um agravante é o fato de o país ter entrado na pandemia vindo da crise de 2015 e 2016. Mas os riscos políticos e as eleições em 2022 também atrapalham. “Temos um governo em que a dificuldade deixou de ser só econômica. O governo abdicou de fazer política econômica porque há um cenário eleitoral no ano que vem”, diz o economista da MB.

Desemprego e inflação freiam retomada

Nem a boa adesão dos brasileiros à vacinação foi capaz de salvar sozinha a economia. Após o atraso devido à falta de doses, o Brasil passou a ter algumas das melhores taxas de imunizados no mundo exatamente a partir do terceiro trimestre – o que tem garantido uma reabertura constante das atividades pela primeira vez em quase dois anos.

Mas com a renda dos brasileiros em queda e inflação, a recuperação em setores como serviços e indústria segue lenta.

“A redução da produção de soja impactou bastante o PIB neste trimestre. Mas não é só isso: os serviços estão andando muito devagar, deveriam estar acelerando, e isso é muito um resultado de o desemprego ainda estar muito alto”, diz Juliana Inhasz, coordenadora do curso de graduação em Economia no Insper. 



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