Trader brasileiro luta para ser campeão mundial de investimentos

Participar de uma competição de investimentos nem passava pela cabeça do jovem auditor da Receita Federal quando ligou para o gerente do banco e ordenou a compra de sua primeira ação. Era o final da década de 1990 e operar por meio de um computador era impensável.

Duas décadas mais experiente, Eduardo Ramos acumula mais ganhos do que perdas e hoje tenta ser o primeiro brasileiro a conquistar a Copa do Mundo de Mercados Futuros. Há 15 anos, ele não compra ações por telefone.

Disputado desde 1983, o campeonato dura do começo ao fim do ano e é conhecido por reunir traders de todo o planeta. O evento é organizado pela Robbings Trading Company, que oferece serviços para investidores, como a réplica das ordens dos competidores.

Nascido e criado na zona Sul da capital paulista, Eduardo Ramos só não viveu em São Paulo durante o período em que estudou no Colégio Naval da Marinha, em Angra dos Reis. Mas a saudade de casa e o desinteresse pela carreira militar o fizeram retornar para São Paulo, onde cursou Engenharia Elétrica na USP.

A instabilidade econômica do início dos anos 1990, porém, preocupava o recém-formado engenheiro elétrico. Como se interessava por números, decidiu se inscrever para o concurso da Receita Federal. Aprovado, o paulistano mergulhou no mercado financeiro e passou a investir parte do salário. “Daí em diante, não parei mais”, relembra.

Mais padrões, menos notícias

Ramos não opera conforme o noticiário e utiliza apenas uma tela para decidir onde aplicar, a do seu notebook. Para tentar desvendar os próximos passos do mercado financeiro, o trader usa arquivos de Excel, alguns com dezenas de milhares de linhas. Uma das planilhas de seu computador portátil é a série histórica do Dow Jones com o fechamento diário de mais de um século.

“Para fazer um trabalho consistente de especulação é preciso identificar padrões que aconteceram no passado e, por algum motivo, se repetem. Aí você os usa a seu favor”, disse. Com a estratégia, o brasileiro chegou a liderar a Copa do Mundo de Mercados Futuros em maio, com uma rentabilidade de 385%.

O desempenho lhe garantiria o título do ano passado e, até o momento, a primeira posição da edição atual. No entanto, uma má fase lhe custou quase todo o seu lucro na competição. Agora, o trader luta para retornar às primeiras posições. Até a última quinta-feira (24/10), ele era o quinto colocado e acumulava retorno de 96%.

A busca pelo título vem desde 2017, quando começou a participar dos campeonatos da Robbins. Para isso, precisou voltar a operar nos Estados Unidos, onde, anos atrás, perdeu dinheiro no mercado de opções.

Dessa vez, porém, o sucesso veio rápido e, em novembro de 2018, Ramos ganhou o troféu de vice-campeão da Robbings na categoria Índices & Juros Futuros ao conseguir 67,9% de rentabilidade em apenas seis meses – o tempo de duração da disputa.

Neste ano, ele voltou a participar da competição semestral, mas afirma que seu principal objetivo é a Copa do Mundo. Para conseguir o feito, ele se espelha no famoso trader americano Larry Williams, que venceu o mesmo campeonato com a rentabilidade recorde de 11.376%, em 1987.

Troféu de vice-campeão de Índice & Juros Futuros conquistado por Eduardo Ramos em 2018

Troféu de vice-campeão de Índice & Juros Futuros conquistado por Eduardo Ramos em 2018 (Daniel Leite Pires/Abril)

Foi em 2004, quando começou a ler os livros de Williams, que Ramos inciou a procura por ocorrências que tendem a se repetir no mercado financeiro.  “Encontrei ideias muito boas e, em busca de padrões, resolvi reproduzir pesquisas semelhantes”, afirmou.

Para realizar as pesquisas, ele utiliza séries históricas gigantescas. Com os arquivos, o brasileiro conseguiu checar algumas das teorias apontadas por Williams. “Por exemplo, em anos de fim 0, 1 e 2 tendem a ser de queda, enquanto o meio da década e os anos de fim 9 geralmente são bons”, contou.

Apesar do fascínio pelas estratégias do investidor americano, que vem lhe rendendo bons retornos, ele diz que “nenhum padrão vai dar 100% de chance de acerto”. Além do gerenciamento do dinheiro disponível, para controlar os riscos, Ramos utiliza ordens de stop loss e metas de lucro. Com os recursos, ele consegue se desfazer do ativo de forma automática em casos de altas ou quedas abruptas.

Day trade? Só no campeonato

Com investigações mais aprofundadas, o trader brasileiro conseguiu identificar padrões dentro de meses, semanas e até ocorrências que tendem a se repetir ao longo de um único dia. Contudo, ele não gosta de fazer day trade, técnica que consiste em comprar e vender um ativo no mesmo dia. “As estatísticas mostram que ganhar dinheiro consistentemente com day trade é muito difícil”, afirma.

Embora Ramos não use a estratégia para gerir suas reservas, no campeonato, ele faz uso. “Acabei me tornando day trader de forma acidental, para limitar meus riscos na competição”, disse. Segundo o trader, se não liquidasse a posição no mesmo dia, ele precisaria de um stop loss mais largo. “Aí se eu atingisse o stop loss algumas vezes o campeonato teria acabado para mim”.

Na Copa do Mundo, sua estratégia se resume a apostar se o índice futuro de S&P 500 vai subir ou cair. Para tentar decifrar a resposta, Eduardo Ramos abre mais uma de suas planilhas. O arquivo é uma combinação de suas pesquisas e cada linha é uma projeção diária de como será o pregão.

“O Larry Williams gosta de gráficos, mas eu trabalho melhor com planilha”, disse enquanto analisava o documento pouco antes da abertura da Bolsa de Chicago, às 19 horas do horário de Brasília.

Planos para o futuro

É também por meio de planilhas que ele analisa onde aplicar o dinheiro do Horizon, clube de investimentos que administra com seu amigo de longa data Fernando Falchi.

Os dois se conheceram, há trinta anos, no colégio militar de Angra dos Reis. Juntos, os dois chegaram a dar cursos sobre mercado financeiro em 2007. O projeto, porém, não durou muito, já que no ano seguinte a crise financeira afastou investidores da Bolsa.

A crise assustou o mundo e também Eduardo Ramos. No entanto, diferentemente de seus alunos, ele não desistiu e, em 2009, fundou o Horizon. Sem ser pago para gerir a carteira do clube, ele diz receber em experiência. “O trabalho nos ensinou muito”.

Ramos continua trabalhando como auditor da Receita, mas pode mudar de profissão em breve. “Estamos formando um histórico [no clube] para em algum momento nos tornarmos profissionais nesse tipo de atividade. Desde que comecei a disputar os campeonatos, meu trabalho evoluiu bastante e várias portas estão se abrindo”.

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