União com a Boeing atrasa, e divisão comercial derruba Embraer

Poucos meses antes da conclusão da transação entre Embraer e Boeing, a fabricante brasileira de aeronaves tem dificuldades justamente na divisão comercial, que será dividida e fará parte da joint venture entre as duas companhias.

A Embraer apresentou prejuízo líquido de 314,4 milhões de reais no trimestre, cinco vezes superior ao número apresentado no mesmo período do ano anterior.

Apesar de uma entrega maior de aeronaves no trimestre –  17 aeronaves comerciais e 27 executivas, ante 15 e 24 respectivamente há um ano – as receitas da companhia se mantiveram praticamente estáveis, com alta de 2% para 4,69 bilhões de reais, resultados mais fracos que o esperado pelo mercado.

A margem operacional da divisão comercial foi negativa em 11,5%. Isso se deve a descontos maiores nas vendas dos E175, para atrair novos pedidos para a aeronave, avalia o Bradesco em relatório.

As dificuldades da divisão comercial da Embraer afetaram o valor da companhia. As ações caíram 5,34% durante o dia.

Custos maiores

Outro problema que envolve a divisão comercial da Embraer é o atraso na conclusão da transação com a Boeing. O negócio, autorizado em janeiro deste ano pelo governo brasileiro, engloba a divisão de jatos comerciais da Embraer, que vai ser transferida para uma sociedade chamada Boeing Brasil-Commercial, na qual a americana terá 80% de participação e a Embraer 20%.

A União Europeia suspendeu esta semana a análise antitruste sobre a joint venture, afirmando que não recebeu informações suficientes das fabricantes.

Inicialmente prevista para o fim deste ano, a conclusão do negócio foi adiada para o início de 2020. Esse atraso irá levar a companhia a queimar mais caixa, cerca de 100 milhões de dólares a 300 milhões de dólares no ano, segundo novas projeções.

Os custos de separação, de 253,3 milhões de reais, também impactaram os resultados da companhia. Esses custos são atribuídos à divisão comercial da empresa e não afetam seus outros negócios.

Como resultado, a companhia diminuiu as previsões para o pagamento de dividendos, para entre 1,3 bilhão de dólares e 1,6 bilhão de dólares, ante o previsto anteriormente de 1,6 bilhão de dólares.

“O caso da Embraer deve continuar sendo impulsionado por desenvolvimentos relacionados ao negócio da Boeing, mas esperamos que os resultados fracos e a revisão dos dividendos pesem sobre as ações no curto prazo”, afirmou o banco BTG Pactual em relatório.

Surpresa positiva

O destaque do trimestre é a divisão executiva da Embraer, que ficará com a fabricante brasileira após a conclusão da joint venture. Até agora, a divisão de jatos executivos teve o seu melhor ano em vendas. “A aviação executiva foi a surpresa positiva, com a expansão significativa da margem operacional impulsionada pela entrega de sete Praetor 600s”, escreveu o Bradesco em relatório.

Depois de decidir vender sua divisão mais lucrativa e líder mundial no segmento — a de jatos comerciais de até 150 lugares — à americana Boeing, em meio a um acirramento da concorrência que poderia tirá-la do jogo, a Embraer corre para se reinventar.

Além de dar novo impulso às divisões que ficaram de fora da parceria — a de jatos executivos e a de defesa —, está aumentando a aposta na prestação de assistência técnica a aeronaves e em negócios disruptivos, que vão de satélites e carros voadores a aplicativos que conectam fornecedores às companhias aéreas.

Desde o início do ano, a aviação comercial acumula receitas de 1,32 bilhão de dólares, de um total de 3,8 bilhões de dólares. Já a divisão de jatos executivos teve receita de 777 milhões de dólares desde o início do ano. No acumulado do ano, a companhia entregou 54 jatos comerciais, ante 57 há um ano, e 63 aeronaves executivas, ante 55 no mesmo período do ano anterior.

Embora a conclusão da formação da joint venture ainda demore, a companhia já está separando as operações comerciais das restantes, com divisão de sistemas, funcionários e outros. A previsão é que a Embraer já inicie o ano de 2020 com esses segmentos operando de forma separada.

“Estamos confiantes de que, após a conclusão da operação, estaremos muito mais fortes. Enquanto continuamos a gerenciar a divisão comercial, trabalhamos em um plano de negócios para a nova Embraer”, afirmou Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer desde abril, em conferência com analistas.

Até a separação, a divisão comercial deve continuar puxando a Embraer para baixo.  

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