Veja os principais pontos do depoimento de Wajngarten à CPI da Covid

O depoimento de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, à CPI da Covid, nesta quarta-feira, 12, foi marcado por respostas contraditórias, discussões intensas e até pedidos para que o depoente fosse preso por, pelo entendimento de alguns senadores, mentir à comissão. 

O depoimento começou pouco depois das 10h no Senado e, logo nos primeiros minutos da sessão, Wajngarten fez questão de afastar o presidente Jair Bolsonaro de qualquer acusação de ingerência na Secom. “Eu sempre tive toda a liberdade possível para comandar a Secretaria Especial de Comunicação, sem absolutamente nenhuma interferência de ninguém”, garantiu.

O presidente, segundo Wajngarten, não pediu para que ele investisse em nenhuma campanha específica nem se opôs a qualquer uma das 11 lançadas pela Secom ou pelo Ministério da Saúde desde o início da pandemia. “Se tivesse ocorrido interferência, eu pegaria minha mala e voltaria para a minha empresa e para a minha família em São Paulo”, disse o ex-secretário.

Mas o assunto rendeu mais do que o número de inserções de campanhas na televisão 19,5 mil, segundo o ex-secretário ou o valor gasto pelo governo com publicidade relacionada à pandemia 285 milhões de reais. Senadores ficaram irritados quando Wajngarten se negou a dizer se partiu da Secom a campanha “O Brasil não pode parar”, contrária a medidas de isolamento social.

O vídeo da campanha circulou em março de 2020 e foi publicado nas redes oficiais do governo, como lembraram alguns senadores. Só saiu de circulação quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso proibiu a distribuição, por entender que o conteúdo contrariava recomendações científicas relativas ao controle da pandemia. 

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) perguntou se o vídeo foi proposto pela Secom, mas Wajngarten não respondeu de forma objetiva. “Eu me recordo de um vídeo circulando, ‘O Brasil não pode parar’. Eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Não sei se ele foi feito dentro da estrutura”, desconversou.

Diante da resposta evasiva, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) insistiu no assunto. “Teve banner, que tinha a marca da Secom, que foi publicada nas redes oficiais da Secom. E, depois, elas foram retiradas do ar. O senhor afirma que essa campanha não foi feita com a concepção da Secom?”, perguntou. 

Wajngarten respondeu que esteve fora da secretaria durante 26 dias do mês de março e, por isso, não saberia dizer. “Na primeira semana de março, eu fui para os Estados Unidos com o presidente e, de lá, fiquei internado em casa por causa da covid. É exatamente por isso que eu lamento não poder responder”, afirmou.

O problema é que, em live com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), na mesma época, ele garantiu que estava ativo. “Estou trabalhando normal. Tenho feito calls com ministros, tenho feito calls com a Secom, tenho aprovado campanhas, tenho conversado com os criativos das agências de publicidade”, afirmou Wajngarten, em 12 de março.

Entrevista contestada

A questão da campanha foi uma das contradições de Wajngarten que irritaram os senadores. Mas as maiores polêmicas surgiram quando ele foi confrontado com informações que deu em entrevista à revista Veja, em 23 de abril. Ele começou dizendo que desconhece dados publicados, como os 70 milhões de doses da Pfizer que teriam sido negadas pelo governo. “Nunca tive acesso a esse número”, disse.

Pouco depois, apontou que, “no começo da conversa, ela [Pfizer] falava em irrisórias 500 mil vacinas”. Mas, ao ser perguntado sobre como foi formalizada a possibilidade de venda das vacinas, ele disse não saber. “Não participei do começo dessa oferta nem sei quando ela começou”, afirmou. Na entrevista, ele diz que se colocou “à disposição para negociar com a empresa”. 

Wajngarten também negou à CPI que teria chamado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetente”. À revista, perguntado sobre a gestão do Ministério da Saúde, ele falou que houve “incompetência” na negociação por vacinas. Aos senadores, ele argumentou que não se referiu diretamente a Pazuello. “Jamais adjetivei, rotulei, emiti opinião”, reforçou.

Mesmo apontando números e informações de conversas com a Pfizer, Wajngarten disse que “nunca participou das negociações” pela vacina. As declarações levantaram suspeitas por parte dos senadores de que ele estivesse mentindo. Isso porque, na entrevista, ele afirma que foi ele quem “abriu as portas do Palácio do Planalto” e convidou os diretores da empresa a Brasília. 

“Fizemos várias reuniões”, contou à revista. Na comissão, no entanto, ele garantiu que “atuava sempre de forma reativa e responsiva, nunca de forma proativa em procurar a Pfizer” e disse que esteve em apenas três encontros com representantes da farmacêutica. O primeiro foi em novembro de 2020, depois que Wajngarten respondeu a uma carta da empresa que, segundo ele, estava sendo ignorada pelo governo desde setembro

Reações

Os senadores criticaram as respostas desencontradas. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), lembrou que Wajngarten só foi chamado à CPI pelas informações que deu à revista. “Ele se ofereceu para vir aqui, e está aqui tangenciando sobre as perguntas. Depois a gente toma uma medida mais radical e aí vão dizer que nós somos isso e aquilo”, disse.

“Por favor, não menospreze a nossa inteligência. Ninguém é imbecil”, continuou Aziz. O relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), foi além e avisou que, se ele mentisse, poderia sair da comissão preso. Pouco depois, quando a revista Veja publicou áudios comprovando que Wajngarten falou em “incompetência” do Ministério da Saúde, Renan defendeu a prisão do ex-secretário.

“Mentiu diante dos áudios agora publicados, mentiu por ter mudado a versão com relação à entrevista que deu e continua mentindo”, argumentou Renan. “O presidente pode até decidir diferentemente, mas eu vou, diante do flagrante evidente, pedir a prisão de vossa senhoria”, avisou o relator.

A decisão, no entanto, cabe ao presidente, Omar Aziz, que negou firmemente o pedido. “Não sou carcereiro de ninguém”, disse. “Vossa excelência tinha falado comigo sobre a questão da prisão e eu decidi que não ia fazê-lo, e vossas excelências insistiram com isso. Eu não sou idiota”, disse. “Não façam desta CPI um tribunal que vai prender as pessoas antes de serem julgadas. Todos nós aqui, políticos, já sofremos na pele a injustiça”, acrescentou Aziz. 

Mesmo sem ser integrante da comissão, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi à CPI, pediu a palavra, em defesa do ex-secretário, e ofendeu o relator. “Imagina um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros”, disse. “Vagabundo é você, que roubou o dinheiro do pessoal do seu gabinete”, respondeu o relator, em referência ao caso da “rachadinha”.

Aziz suspendeu a sessão por volta das 17h, logo após a fala do filho do presidente, porque começou a ordem do dia no plenário do Senado. Quando os trabalhos foram retomados, duas horas depois, ele deu um recado a Wajngarten: “A prisão seria o menor castigo que você vai sofrer na vida, porque hoje, aqui, você não ficou bem com ninguém” — nem com o governo, depois de ter apresentado a carta da Pfizer, ressaltou. “Você não agradou a ninguém”, disse.

“Não pense que o pior na sua vida seria a prisão hoje. Não seria. O pior é o legado que você construiu com muito trabalho, e que você perdeu hoje aqui nesta CPI”, continuou Aziz. Antes de encerrar a sessão, o senador prometeu que não terá a mesma “parcimônia” nos próximos depoimentos. “Se alguém achar que vai brincar com a CPI, que vai intimidar a CPI, está muito enganado”, avisou.



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