Eleição na Guatemala: 2º turno é marcado por temor de interferência do Judiciário

Os guatemaltecos elegerão um novo presidente neste domingo, 20, em uma votação entre candidatos dois social-democratas, em meio a tentativas de desqualificar na Justiça o inesperado favorito Bernardo Arévalo, que promete lutar contra a corrupção.

Arévalo, um sociólogo de 64 anos, é o líder do partido Movimiento Semilla (semente, em espanhol), que criou em 2017. O Semilla é alvo de uma cruzada do Ministério Público, que o acusa de irregularidades em sua inscrição em 2017 e 2018. As ações do MP são vistas como uma tentativa de impedir que ele chegue ao poder.

Na quinta-feira, o promotor Rafael Curruchiche declarou que, após a eleição de domingo, não descarta buscas, prisões, ou suspensão de privilégios de membros do Semilla. 

Três décadas após o fim de sua brutal guerra civil, o país mais populoso da América Central está atolado em pobreza, violência e corrupção, o que leva milhares de guatemaltecos a migrarem todo ano, principalmente para os Estados Unidos. 

Após a surpreendente vitória no primeiro turno, Arévalo, 64, filho do primeiro presidente democraticamente eleito da Guatemala, Juan José Arévalo (governou de 1945 a 1951), busca seguir o caminho do pai com uma forte agenda social e de mudança. “Passamos anos sendo vítimas, sendo presas, de políticos corruptos”, disse ele ao encerrar sua campanha. “Votar é deixar claro que quem manda neste país é o povo da Guatemala, e não os corruptos”. 

Pela terceira vez consecutiva disputando uma eleição, sua adversária Sandra Torres, 67, é ex-esposa do ex-presidente de esquerda Álvaro Colom (2008-2012), promete ajudar os mais pobres com subsídios em dinheiro e entrega de alimentos. A direita, que governa a Guatemala há 12 anos, apoia Sandra silenciosamente. 

“Bernardo Arévalo se apresenta como a opção de mudança política, e Sandra Torres é a representante da continuidade”, disse à AFP o analista Arturo Matute, diretor do centro Gobernálisis.

Em um país fortemente conservador e religioso, nem Arévalo nem Torres defendem a legalização do casamento homoafetivo, ou do aborto, permitido apenas se houver risco para a mãe. 

Como funciona a eleição na Guatemala

Cerca de 9,4 milhões de guatemaltecos poderão eleger o sucessor do presidente direitista Alejandro Giammattei, reprovado por 62% dos cidadãos, de acordo com uma pesquisa recente. No primeiro turno, em 25 de junho, 60% do eleitorado votou, mas a participação tradicionalmente diminui no segundo turno, já que na maioria dos casos não há eleições locais ou legislativas em conjunto.

Os quase 3.500 centros de votação abrirão às 7h locais (10h no horário de Brasília) e fecharão às 18h (21h em Brasília). Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos em torno de três horas depois. Também haverá votação para prefeitos e vereadores em cinco municípios onde a eleição foi suspensa no primeiro turno, devido a tumultos. O novo presidente tomará posse em 14 de janeiro de 2024.

Duas pesquisas, feitas pelo instituto Cid Gallup e o jornal Prensa Libre, mostram Arévalo à frente de Torres, com cerca de 20 pontos percentuais de vantagem. Outra pesquisa, da empresa Innovem, mostrou Torres à frente, mas por dois pontos de vantagem.

Bernardo Arévalo, o filho do presidente progressista

O sociólogo e deputado Bernardo Arévalo é filho do presidente Juan José Arévalo, o primeiro democrático do país após décadas de ditaduras, que encerrou os 13 anos de poder de Jorge Ubico, um admirador de Hitler que submeteu indígenas maias a trabalhos forçados.

Nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1958, devido ao exílio de seu pai logo depois que o presidente Jacobo Árbenz foi deposto em 1954 por uma rebelião militar arquitetada pelos Estados Unidos.

Árbenz foi o herdeiro político do governo progressista de Arévalo. Na década da “primavera democrática” criou o Instituto Guatemalteco de Previdência Social, deu autonomia à Universidade de San Carlos e às prefeituras e permitiu o voto a mulheres e analfabetos.

Construiu um porto no Caribe, outro no Pacífico, uma rodovia para unir a capital com o Atlântico e competir com a poderosa United Fruit Company, que, junto com uma reforma agrária, afetavam os interesses da empresa americana.

Atualmente, os Estados Unidos defendem o filho do presidente Arévalo das tentativas do Ministério Público de afastá-lo da eleição.

Bernardo Arévalo, hoje com 64 anos, também viveu na Venezuela, México e Chile antes de chegar à Guatemala aos 15 anos. Estudou sociologia em Israel, foi vice-chanceler em 1994-1995 e embaixador na Espanha entre 1995 e 1996, durante o governo do falecido presidente Ramiro de León Carpio.

O candidato do partido Semilla promete seguir os passos de seu pai para tirar da pobreza 60% dos 17,6 milhões de guatemaltecos. “Não sou meu pai, mas sigo o mesmo caminho”, declarou.

Sandra Torres, candidata à Presidência, durante comício na Cidade da Guatemala (Luis Acosta/Getty Images)

Sandra Torres promete “governo da mamãe”

Sandra Torres é ex-esposa do falecido presidente social-democrata Álvaro Colom (2008-2012), que apoiou a CICIG, entidade com aval da ONU que fazia investigações paralelas e revelou casos de corrupção entre 2007 e 2019.

“Já não temos o governo do papai, agora a Guatemala terá o governo da mamãe”, promete Torres, que nasceu em 1955 na cidade de Melchor de Mencos. Licenciada em Comunicação e empresária têxtil, em 2002 se divorciou de seu primeiro marido, com quem teve quatro filhos antes de entrar para a política.

Fundou o ‘Unidad Nacional de la Esperanza’ (Unidade Nacional da Esperança, UNE), partido de centro-esquerda que levou Colom ao poder e que ela dirige com mãos de ferro.

Em sua campanha, prometeu auxílios em dinheiro, alimentos e outros subsídios. Em 2003, se casou com Colom de quem se divorciou em 2011 para concorrer à Presidência e não infringir a norma constitucional que impede a candidatura de familiares próximos aos presidentes em exercício. A Justiça recusou sua candidatura.

Ela esteve presa em 2019 por suposto financiamento irregular na UNE, mas o caso foi concluído em 2022. Torres perdeu as eleições para Jimmy Morales, em 2015, e para o atual presidente Alejandro Giammattei, em 2019, que deve deixar o poder em 14 de janeiro de 2024.

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