ESG e os conselhos de administração, uma corrida contra o tempo

A mais recente edição do Trust Barometer, pesquisa global produzida pela Edelman, indica que as organizações empresariais precisarão desempenhar um novo papel na história da humanidade. Pelo terceiro ano consecutivo, o estudo traz aumento na pontuação do quesito “ética” para os negócios – desde 2020 o ganho é de 19 pontos. Além disso, o levantamento também identificou que os negócios são vistos como os únicos éticos e capazes de endereçar as questões da sociedade. Isso significa que a sociedade aponta para uma transformação – e mesmo uma evolução – no papel das empresas no século 21, que passariam de apenas meios de produção econômica e distribuidoras de valor a acionistas para serem também geradoras de valor e bem-estar social, parte essencial da resolução dos perturbadores desafios que ameaçam a justiça social e a vida no planeta.

Além da pressão social, é crescente também a pressão do capital. Investidores e fundos de investimentos têm exigido ações mais incisivas das organizações em temas ligados à diversidade, crise climática, etc. Essas mudanças vêm alterando também a agenda dos Conselhos de Administração, pois está cada vez mais evidente que, para serem competitivas e longevas, as companhias precisam incorporar o ESG (acrônimo em inglês para Ambiente, Social e Governança) nas suas estratégias de gestão. E, portanto, cabem aos Conselhos de Administração cobrarem, impulsionarem e monitorarem a evolução destes temas, reduzindo riscos e criando oportunidades de inovação e crescimento.

Heloisa Bedicks, importante referência no tema da governança corporativa no Brasil, disse em entrevista que o “G é o alicerce da sigla” – sem boas práticas de governança, o ambiental e o social não avançam. Entretanto, pesquisas mostram que essas instâncias da governança corporativa ainda estão longe de estarem preparadas para a agenda ESG. Levantamento feito, em 2022, pelo Boston Consultant Group (BCG) e pelo Centro de Governança Corporativa da escola francesa Insead identificou que 47% dos entrevistados acreditam que os Conselhos das suas empresas não têm as competências necessárias para navegar na pauta ESG. E um estudo da PwC constatou que apenas 27% dos conselhos estão preparados para fazer análise de riscos do ponto de vista ESG.

Sem conhecimento e experiência no tema, como os conselhos criarão as condições favoráveis para um melhor equilíbrio entre o curto e o longo prazo? Como poderão ajudar o corpo executivo da empresa a endereçar as demandas dos diversos grupos de stakeholders? E, de uma maneira mais pragmática, diante desse gap de competência, como os conselhos avaliarão os riscos de operação ou de crise reputacional? O sinal de alerta está aceso e é urgente corrigir esta rota. Nem a sociedade pode prescindir da participação do capital para solucionar seus maiores desafios, nem as empresas podem ficar tão vulneráveis diante das brutais transformações que impactam os negócios do século 21. Como já nos alertou António Guterres, da ONU, “o custo da ação se paga hoje e o custo da inação se paga no futuro”. O problema é que o futuro nunca esteve tão próximo.

*Marina Spínola é diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da FDC



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