Israelense de 85 anos libertada pelo Hamas disse que reféns estão presos em túneis de Gaza

Yocheved Lifshitz, de 85 anos, uma das duas prisioneiras idosas libertadas na segunda-feira, 23, pelo Hamas, com a ajuda da Cruz Vermelha, afirmou ter passado por “um inferno” nas mãos dos terroristas e revelou que os reféns estão retidos em cativeiros nos túneis controlados pelo grupo extremista em Gaza. As estruturas são a arma secreta dos extremistas contra uma possível ofensiva terrestre do Exército israelense, que nunca conseguiu destruir a rede subterrânea de comunicações, refúgios e postos de comando.

O solo arenoso de Gaza é o pior inimigo de Israel. Foi possível escavar quase que com as mãos e longe de olhares indiscretos, por mais de três décadas, para perfurar uma das maiores redes de túneis e passagens subterrâneas do planeta em um de seus menores territórios.

O Estado-maior das Forças Armadas de Israel batizou de “metrô” a rede estratégica de dezenas de quilômetros de galerias de uso militar, considerada como a arma secreta do Hamas diante de uma invasão. Ao contrário de túneis de contrabando, na fronteira com o Egito, ou passagens de ataque escavadas sob a fronteira de Israel, ninguém viveu para contar o que viu no metrô da Faixa de Gaza.

O objetivo central da planejada invasão será previsivelmente a rede de abrigos subterrâneos, onde se escondem os líderes políticos do Hamas e os comandantes de seu braço armado, as Brigadas de Ezedin al-Qassam. Israel lançou uma guerra em larga escala em Gaza, em 2014, que incluiu uma ampla operação terrestre durante dois meses, com o propósito de destruir as galerias subterrâneas. Em 2021, na última grande incursão do Exército, Israel voltou a anunciar sua destruição, ao mesmo tempo em que justificava os bombardeios do bairro residencial de Rimal, na capital do enclave, onde se registraram dezenas de vítimas civis. As crateras e buracos abertos pelas bombas neste distrito, após 11 dias de bombardeios, mostravam o característico solo arenoso de Gaza, sem restos de concreto ou vigas metálicas, quando a imprensa estrangeira pôde visitar o local.

— O Hamas afirma que há 500 quilômetros de túneis. Mas acredito que esse número é uma forma de desincentivo a Israel, para que não invada Gaza — explica Harel Chorev, historiador e pesquisador do Centro Dayan, da Universidade de Tel Aviv. — O que é certo é que há dezenas de quilômetros construídos, de onde são lançados foguetes e se guarda armamento. Também há salas de abastecimento, reservas de água, dispositivos eletrônicos e tudo o que se pode precisar em caso de um ataque.

O labirinto de túneis, alguns dos quais com mais de 30 metros de profundidade, é um dos segredos mais bem guardados pela alta cúpula das milícias do Hamas. Ao contrário das passagens da Al-Qaeda, no montanhoso leste do Afeganistão, ou das cidades subterrâneas escavadas pelos Vietcong nas selvas vietnamitas há 50 anos, as galerias do metrô do Hamas se estendem por baixo de zonas urbanas densamente povoadas. Para destruir os túneis, será preciso inundá-los, como fez o Egito com as passagens usadas para contrabando no sul, ou explodi-los, como no caso dos túneis de ataque sob a fronteira. Os israelenses também têm a opção de recorrer a robôs para desativar armadilhas com bombas antes de tomá-los de assalto.

A ONU, através da sua agência para os refugiados palestinos, UNRWA, foi a única fonte, além das partes em conflito, que registrou a existência da rede de túneis. No ano passado, uma “cavidade artificial” foi localizada sob o terreno de uma das escolas da agência em Gaza. A UNRWA denunciou a descoberta como uma violação da sua neutralidade no conflito e chamou-a de uma ameaça à segurança dos estudantes.

Israel x Hamas: 14 dias de guerra em cinco pontos

Israel já capturou dezenas de milicianos dos serviços de inteligência da unidade de elite das Brigadas al-Qassam, de acordo com o professor Chorev.

— Foram treinados nos túneis e podem conhecer com exatidão as entradas e as saídas da rede — argumenta. — Um dos maiores desafios para as Forças Armadas [de Israel] é que não se sabe com que tipo de arma o Hamas conta nos túneis, da mesma forma que não se conhecia a capacidade de ataque do Hamas antes do dia 7 de outubro.

Luta prolongada

— Os túneis foram construídos a um custo de muitos milhões de euros. É uma infraestrutura realmente cara, porque é preciso cimento, ferro e outros elementos que elevam o gasto — conclui o especialista da Universidade de Tel Aviv, que aponta que os materiais foram desviados da ajuda humanitária internacional para a população civil.

Antes de construir uma barreira subterrânea ao redor da Faixa de Gaza por um custo de cerca de 1 bilhão de euros, Israel bombardeou sistematicamente os túneis, onde dezenas de milicianos do Hamas e da Jihad Islâmica foram enterrados vivos. O Egito, por sua vez, inundou as passagens de contrabando, utilizadas para furar o bloqueio imposto à região, canalizando água do mar.

Junto às passagens de ataque e de contrabando, o Hamas recorre ao lançamento de foguetes para enfrentar Israel. O Exército respondeu com a criação do escudo defensivo Domo de Ferro, que intercepta os projéteis. Mas ainda não conta com outra alternativa aos túneis dentro de Gaza que não sejam bombardeios massivos, com um alto custo de vidas civis, ou uma operação terrestre contra uma guerrilha especializada em combate urbano.

— Em 2014 sabíamos que existiam túneis que cruzavam até Israel, mas agora sabemos que existem dezenas de redes [de túneis] que se movem a partir e para dentro da própria Faixa — reconhece Raphael Cohen, pesquisador especializado em Oriente Médio no centro de análise RAND. — Israel prefere lutar pelo ar. Assim que os militares entrarem por terra, grande parte da informação de inteligência do Exército ficará obsoleta. Neste momento, [Israel] só têm uma ideia aproximada sobre essas redes e estão treinando para uma batalha [subterrânea].

Inimigo desconhecido

— Não existe uma forma clara de operar militarmente em Gaza. Ponto. Com a sua densidade populacional (mais de 2,2 milhões de habitantes em apenas 365 quilômetros quadrados), haverá sempre problemas para proteger os civis, seja em ataques aéreos ou em uma incursão terrestre, essencial para o resgate das pessoas raptadas — enfatiza Cohen, antes de concluir que “uma extensa rede de túneis não pode ser destruída apenas com bombardeios, como tem sido tentado até agora”.

O ataque do dia 7 de outubro deixou mais de 1,4 mil mortos em território israelense, a maioria civis, e com duzentos raptados, reféns mantidos agora nos subterrâneos do enclave costeiro palestino, e mostrou um novo tipo de túnel até agora desconhecido.

Passagens de ataque que já não atravessam a fronteira israelense, protegidas por uma barreira subterrânea de metal e cimento e equipadas com sensores eletrônicos. Sua saída emergia no interior de Gaza, a poucos metros da cerca de separação, para permitir aos terroristas derrubá-la sem que os sistemas de observação israelenses detectassem os seus movimentos antes de atacar quartéis, cooperativas agrícolas, cidades próximas ou o complexo de um festival de música para os jovens nas proximidades da Faixa de Gaza no ataque mais mortal sofrido na história do Estado Judeu

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