Já é hora de iniciar a cultura do reaproveitamento nas escolas

Enquanto a sociedade discute questões sérias como a reciclagem e a reutilização de materiais como uma das formas de ajudar a preservar o meio ambiente, o que vemos é que nada muda no ambiente escolar, quando as escolas enviam, no início do ano, enormes listas de material aos pais como apoio à educação de seus filhos. Além dos preços altos – segundo a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE), o aumento pode chegar a 30% este ano –, as listas em excesso passam longe da cultura do reaproveitamento e ainda descumprem a lei quando incluem artigos de uso comunitário, cujas instituições têm obrigação de viabilizar aos alunos.

De acordo com a Lei nº 12.886/2013, as escolas particulares são proibidas de incluir itens de uso coletivo na lista de material escolar dos alunos. Somente podem ser solicitados artigos de uso pessoal, como lápis, borracha, apontadores, cadernos – sem preferência por marca –, por exemplo. Além disso, nenhum valor adicional pode ser cobrado por objetos coletivos nas mensalidades, como produtos de higiene, copos descartáveis, papel sulfite, etc. Todos devem ser incluídos nas mensalidades já existentes, ficando expressamente proibida a cobrança de um pagamento adicional ou seu fornecimento pelos pais e responsáveis dos alunos.

A composição dos kits de materiais escolares varia em função dos níveis de ensino da educação básica para os quais são destinados, desde a educação infantil até o ensino médio. Mas parece que algumas escolas exageram em seus pedidos, mesmo para crianças tão pequenas, como desabafou recentemente a atriz Laila Zaide em suas redes sociais. E não foi só ela. Os comentários em sua publicação mostram que outras pessoas passam pela mesma situação, o que nos leva a refletir sobre a real necessidade de comprar itens tão caros e dispensáveis ao uso dos alunos, como as canetas citadas pela atriz que chegam a custar cerca de R$ 40,00 cada.

Ao olhar a lista e elencar o que é de fato indispensável e o que é um exagero por parte das escolas podemos entrar na discussão do reaproveitamento e questioná-las sobre o que foi feito com a sobra de material do ano anterior, o que geralmente as instituições não divulgam.

O livro é o mais caro do material e os pais precisam se organizar financeiramente para comprá-los. Infelizmente, as escolas acabam trocando os livros de um ano para o outro, dificultando o reaproveitamento entre irmãos, por exemplo.  Não precisava ser assim. Mesmo tendo as suas preferências, os professores poderiam fazer um esforço para se adaptarem a uma publicação e utilizá-la por alguns anos. No caso do livro de alfabetização, qual é o sentido de alterá-lo anualmente se a sua função não muda?

Tanto em casa quanto nas instituições de ensino é importante introduzir nas crianças a cultura da reutilização, que pode ser boa para todos, principalmente para o meio ambiente. A escola pode começar dando o exemplo, criando uma política para a reutilização, além de mostrar aos alunos o que ela mesma faz com a sobra do material e diminuir de alguma forma as suas listas. É importante que essas ideias sejam lideradas pelas coordenações dos colégios para que amplie a conscientização de toda a comunidade escolar e, mais do que isso, que essas mudanças cheguem aos lares e sejam aplicadas pelos alunos junto com as suas famílias.

É possível criar iniciativas para reutilizar os livros didáticos e paradidáticos como reuso por irmãos, troca ou venda por um preço mais barato e, também, incentivar o uso mais frequente da biblioteca. Já presenciei algumas escolas desenvolvendo atividades como essa e deram certo. Essas ações poderiam se transformar em uma prática geral e, por que não, serem adotadas pelo Ministério da Educação como forma de iniciar uma nova realidade em todas as escolas públicas e privadas.

Essa discussão não é importante apenas por conta da economia financeira na compra do material, mas especialmente pela contribuição ao meio ambiente e ao social, já que tantos artigos vão para o lixo e poderiam, inclusive, ser reaproveitados por alunos de menor poder aquisitivo. Seguimos sedentos por iniciativas que mudem a nossa forma de pensar e de viver, principalmente se for cuidando da natureza, sempre com saúde, harmonia e empatia.

*Claudia Vieira Levinsohn é mestre e especialista em educação



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