Mais metrôs, menos carros: Brasil precisa investir R$ 295 bi em mobilidade urbana, calcula CNI

O Brasil precisaria investir R$ 295 bilhões até 2042 para modernizar a mobilidade urbana nas principais metrópoles, segundo novo estudo organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O montante seria apenas o necessário para levar as metrópoles brasileiras aos padrões de cidades que são referência no assunto na América Latina, Santiago, no Chile, e Cidade do México. Os números estão no documento “Mobilidade Urbana no Brasil: marco institucional e propostas de modernização”, divulgado nesta sexta-feira, 12 (veja os cálculos abaixo).

O principal gargalo é no transporte em modal sobre trilhos, com oferta insuficiente ou inexistente de metrô e trens nas grandes cidades. Em Brasília e Belo Horizonte, embora as primeiras linhas de metrô existam, o modal responde por 2% ou menos do transporte total. A exceção é São Paulo, onde 11% do transporte é via metrô e trem, embora ainda sejam necessários investimentos de expansão dada a magnitude da capital paulista, com 12 milhões de habitantes.

A CNI estimou que, só na expansão da malha e investimentos no metrô, seriam necessários R$ 271,1 bilhões nas próximas duas décadas nas maiores metrópoles brasileiras.

“O elevado tempo despendido para locomoção nos centros urbanos tem causado influências negativas sobre a produtividade do trabalho, o meio ambiente, a competitividade da indústria e o bem-estar da população brasileira”, disse Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, em nota de apresentação do estudo.

Trânsito: grandes cidades brasileiras carecem de modais de “alta capacidade”, que transportem rapidamente grande número de pessoas (LEVI BIANCO – BRAZIL PHOTO PRESS/Getty Images)

O avanço em frentes como Parcerias Público-Privadas (PPPs) em contratos longos, em torno de 30 anos, pode ajudar a solucionar esse déficit de investimento, segundo Wagner Cardoso, gerente-executivo de Infraestrutura da CNI. Para ele, o Brasil atualmente “subfinancia” o transporte público, ao passo que oferece incentivos a carros.

“Pode-se afirmar que o país subinveste e subfinancia o transporte coletivo e inversamente privilegia e subsidia o transporte individual motorizado, inclusive na precificação dos combustíveis fósseis utilizados por automóveis e veículos individuais”, afirmou Cardoso em nota de apresentação do estudo.


Expansão da malha e investimentos estimados em mobilidade urbana por modal

Modal

Extensão (km)

Custo de Expansão (R$ bilhões)

Atual

Necessária

Hiato

Variação

Metrô

387,7

936,0

548,3

141%

271,13

Trem

730,5

781,9

51,4

7%

14,80

BRT

607,7

756,3

148,6

24%

9,34

Total

295,27

Fonte: CNI


Faltam metrôs e trens

O principal gargalo no cenário de mobilidade no Brasil é no oferecimento de transporte público sobre trilhos, o que torna complexa a logística nas cidades altamente populosas, com o transporte público majoritariamente composto por ônibus.

“A composição das viagens de transporte coletivo evidencia uma reduzida participação dos modais metroferroviários – de alta capacidade – na mobilidade urbana brasileira, e tipicamente mais eficientes para regiões de alta densidade econômica e populacional”, diz o estudo.

A falta dos modais de alta capacidade leva a uma piora nos congestionamentos – ainda que, na média, as metrópoles do Brasil não usem mais carro do que outras grandes cidades no mundo.

Nas viagens em metrópoles brasileiras selecionadas no estudo, o transporte mais usado foi o público (39%), seguido de caminhada ou bicicleta (33%) e uso de transporte individual motorizado, como carro, moto ou táxi (28%). No entanto, o uso de transporte público está concentrado nos ônibus.

    São Paulo é a metrópole brasileira com uso de modal ferroviário (metrô e trem) mais perto das metrópoles globais, como Londres e Nova York.

    • Em São Paulo, 11% do transporte ocorre em metrôs e trens, 20% em ônibus e 30% em carros, motos ou táxis;
    • Londres (Inglaterra) tem 22% do transporte é em modal ferroviário, Nova York (EUA) tem 16% e Seul (Coreia do Sul) tem 30%.

    Curitiba lidera em uso de carro

    Já no uso de carros, motos e táxis, Curitiba lidera (49% do total), acima da média nacional nas metrópoles.

      Em São Paulo, a fatia é de pouco mais de 30% do total, embora ainda acima de cidades latino-americanas como Buenos Aires (23%), Bogotá (25%) e Cidade do México (25%).

      • A metrópole com maior uso proporcional de transporte público é o Rio de Janeiro (quase 49%, contra 37% de São Paulo).
      • A com maior participação das caminhadas ou uso de bicicleta no total de locomoção é Recife (40%).

      Para os cálculos da CNI sobre o gargalo de investimento, foram avaliados os números de 15 regiões metropolitanas:

      • Brasília
      • São Paulo
      • Rio de Janeiro
      • Curitiba
      • Belo Horizonte
      • Goiânia
      • Belém
      • Fortaleza
      • Natal
      • Salvador
      • João Pessoa
      • Maceió
      • Porto Alegre
      • Recife
      • Teresina.

      Demanda por transporte público está abaixo do pré-pandemia

      O estudo também levantou dados que mostram que a demanda por transporte público nas grandes cidades brasileiras está abaixo do pré-pandemia. A situação pode gerar impactos econômicos nas empresas concessionárias do serviço ou pressão para aumento de preços de passagem.

      Nas duas maiores metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, a demanda por transporte coletivo está abaixo de 2019:

      • Em São Paulo, as viagens de metrô e de ônibus em 2022 estão cerca de 25% abaixo dos níveis de 2019;
      • No Rio, a queda é de mais de 30% no metrô e 15% nos ônibus.

      VEJA TAMBÉM: Conheça a cidade com ônibus de graça que pode inspirar São Paulo

      Plano de mobilidade urbana

      Em um dos passos para melhorar o cenário ruim visto até aqui, o estudo também apontou que a maioria das cidades grandes e médias cumpriu os prazos de apresentação de projetos de mobilidade urbana para os próximos anos, conforme exigido por lei.

      VEJA TAMBÉM: Como São Sebastião, cidades precisarão de melhor infraestrutura para enfrentar eventos climáticos

      Para cidades acima de 250 mil habitantes, a Lei de Mobilidade Urbana exigia que houvesse um Plano de Mobilidade Urbana (PMU) apresentando e aprovado até abril do ano passado. Dos 116 municípios nesse tamanho, 74% apresentaram um PMU.

      Já para cidades menores, entre 20 mil e 250 mil habitantes, o prazo era abril de 2023. Até setembro do ano passado, quando essa parte da análise foi concluída, somente 13% haviam aprovado um PMU. O plano será crucial para que as cidades recebam financiamento adequado, diz a CNI.

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