Milei merece respeito pelo que conquistou até aqui: a análise de Ian Bremmer

O americano Ian Bremmer virou uma espécie de bússola da política global para investidores e executivos dos países desenvolvidos. Bolsonaro, Lula, Maduro, Xi Jinping, Modi, Obrador… Para saber o que achar sobre os governos das mais variadas matizes, convém ouvir o CEO da respeitada consultoria de risco político Eurasia. O objetivo maior é entender onde vale a pena investir.

Nesta segunda-feira Bremmer publicou um vídeo analisando os primeiros meses do governo do argentino Javier Milei. E viu a taça de malbec meio cheia. “Milei merece uma rodada de aplausos”, afirmou, de largada.

Bremmer destacou o primeiro superávit trimestral em 16 anos, anunciado no último dia 16. Aplaudiu também a redução da inflação por três meses seguidos – a alta em março foi de 11%, batendo 287% em 12 meses. “Após muitas administrações fazendo o pior para destruir a economia, Milei está mudando o lugar. Ele está tendo sucesso”, afirmou.

Bremmer fez questão de relembrar que não estava no time dos otimistas com o libertário na Casa Rosada. Logo após a eleição, em que Milei derrotou o peronista Sergio Massa, Bremmer postou que “(ainda mais!) colapso econômico” estava a caminho.

Entre as fortalezas de Milei, Bremmer aponta, curiosamente, sua fraqueza institucional no parlamento. “Se você tira Cristina Kirchner da equação, um monte de peronistas está realmente feliz em ver coisas essenciais acontecendo na economia pelas quais eles não precisam assumir a responsabilidade”, diz o analista. “Eles estão até dispostos a dar a ele mais corda do que eu esperava”. Dentro desta lógica, se der certo, o congresso foi magnânimo; se der errado, a culpa é do governo.

A “Lei Ônibus”, por exemplo, um pacote de medidas liberais, foi aprovada na Câmara mesmo com minoria absoluta do governo e chegou nesta terça-feira ao Senado. A coalizão governista tem apenas 7 das 72 cadeiras na casa, mas ainda assim deve conseguir aprovar alguma versão do projeto. O texto tem mais de 230 artigos e trata sobre privatização de estatais, aumenta o escopo do executivo e implementa uma reforma trabalhista.

Bremmer também elogia uma postura que pode ser chamada de “presidenciável” do novo morador da Casa Rosada. “Milei pessoalmente tem sido um líder propositivo em termos de política econômica”, afirmou. “Demonstra uma vontade de reduzir a excentricidade e pedidos descabidos para além do que eu esperava quando ele foi eleito”.

Na visão de Bremmer, e até dos bifes de chorizo do Don Julio, Milei tinha tudo para ser uma espécie de maluco no governo. “O que pegava não era só o que ele dizia sobre ir para cima dos esquerdistas, mas o fato de que ele clonou cachorros e coisas assim, e afirmava que falava com um dos animais mortos. Muitos de seus comentários eram além do excêntrico”, afirmou.

Dessa excentricidade toda, sobraram as costeletas fora de moda e o biquinho em fotos com personalidades como Elon Musk e Jair Bolsonaro. Mas Bremmer pondera que parte da imagem ruim do então candidato vinha de uma cobertura feita por jornalistas que “ideologicamente” não estavam alinhadas com ele. “Eles achavam que esse cara vai ser um idiota e francamente, eu estava mais tentado a seguir essa visão”, disse.

O CEO da Eurasia ainda elogiou a equipe econômica e de relações internacionais de Milei e as conversas que o presidente teve com o FMI. No início de janeiro, um porta-voz do fundo disse que o progresso na economia argentina é “impressionante”. O programa de crédito argentino é de US$ 44 bilhões. 

Até onde o libertário vai é que são elas. “Não há dúvida que o custo de endireitar a economia argentina levou a uma queda real nos salários, o que levou a uma redução no consumo e no crescimento econômico e a uma redução no padrão de vida e a um aumento na pobreza. Isso está acontecendo”, pondera Bremmer. A pobreza chegou a 57% da população no mais recente levantamento, maior taxa em 20 anos.

Ainda assim, para surpresa de Bremmer, a aprovação de Milei segue na casa dos 50%. Segundo o CEO da Eurasia, é surpreendente pela piora na qualidade de vida e pela forte base peronista no país. O mesmo porta-voz do FMI ponderou que o caminho é “longo”. Bremmer é mais direto a respeito do padrão de vida dos argentinos: “vai ficar pior”.

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